Domingo, 5 de agosto de 2012 - 17h39
Conhecendo como julgo conhecer a natureza humana – afinal, estudo essa “máquina viva” há mais de quatro décadas –, acho que, mais uma vez (sem falsa modéstia), acertei na mosca.
Desculpe leitor, mas agora estou falando de você. Falando dessa esquisita curiosidade das pessoas de querer saber das desgraças dos outros. Principalmente, se a vítima é algum conhecido pessoal ou até uma celebridade. Daí a minha convicção de que você não resistiria em ler este meu texto.
Um escritor de Rondônia foi mesmo alvejado no tórax. Cheguei a pensar em colocar o nome dele no título, mas o bom senso, sobretudo o receio de que algum familiar seu com problema cardíaco pudesse sofrer um infarto ao lê-lo, impediram-me de cometer essa imprudência.
O escritor e também pesquisador da história de nossa terra foi mesmo atingido por um tiro, isso não posso omitir porque fui testemunha ocular do fato.
Tudo aconteceu na coxia do palco do Colégio Maria Auxiliadora. Ele, eu e outros alunos do Colégio Dom Bosco aguardávamos o momento de entrar em cena para interpretar a peça O Cidadão do Inferno, que tem enredo baseado na Queda da Bastilha (evento central da Revolução Francesa, ocorrido em 14 de julho de 1789), dirigida pelo padre Jaime. O público esperava com ansiedade o início do espetáculo. Por volta das 20h, antes de soar a terceira batida de Molière, eis que o som de um tiro assusta a todos. Nos bastidores, um corpo cai. Em seguida, pela porta de acesso anterior ao palco, o grupo de intérpretes sai, desesperado, carregando o ferido em direção ao Hospital São José. A cortina, que sequer abriu, cerrou-se de vez para aquele espetáculo.
O fato, verídico como disse, aconteceu na noite de 7 de novembro de 1963, quando estudávamos no citado colégio salesiano, que naquele tempo era ao lado direito da matriz Sagrado Coração de Jesus, a nossa Catedral. A vítima foi o escritor e historiador Antônio Cândido da Silva. O acidente decorreu de um ato negligente de um dos participantes do elenco, um jovem estudante que trabalhava na Polícia Civil e, por obrigação de ofício, portava uma arma. Como o enredo da peça era sobre uma revolução, havia armas cenográficas nos bastidores. Um outro estudante, que também atuava naquele espetáculo, minutos antes do início da apresentação, pegou a arma verdadeira que nosso colega policial havia deixado sobre uma mesa entre as cenográficas e, apontando para Antônio Cândido, acionou o gatilho para testar se ele sabia “morrer”. Ao vê-lo gemer e cair, o atirador e os circunstantes acharam, nos primeiros instantes, que se tratava de uma magistral interpretação de Cândido. Somente quando vimos o sangue manchar sua camisa e a lividez de seu rosto nos demos conta do acontecido.
Felizmente que o tiro não causou à vítima maiores danos – mas o susto foi grande. Passadas quase cinco décadas, Antônio Cândido ainda está vivinho da Silva. Por sinal, tão vivo e produtivo que lançará, no próximo dia 11, no Rondon Palace Hotel, às 20h, mais um de seus livros. Dessa feita, será um romance histórico-ficcional intitulado Vila Amazônia–os Koutakusseis, que certamente será mais um sucesso literário de sua lavra.
Nota do Autor – O atirador, pessoa de boa índole, bom amigo de todos nós naquela época de juventude, inclusive de Antônio Cândido, jamais imaginou estar acionando o gatilho de uma arma de verdade carregada, naquele dia trágico. Em decorrência desse ato, foi tomado por grande amargura por bastante tempo. Também sou testemunha disso.
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