Quarta-feira, 17 de junho de 2015 - 18h56
Sou médico de longa caminhada. Desde os primeiros passos da minha trajetória percebi, felizmente, que a ciência que abracei profissionalmente não permitia arroubos de prepotência. O médico precisa ter noção de suas limitações, eis o que torna indispensável que seja humilde. O mais importante aforismo de Hipócrates, o pai da medicina, postula: “Primeiro, não causar dano”; por isso nele deve se fundamentar a conduta médica.
A despeito do muito que a medicina avançou nas últimas décadas, ainda não domina, como seria o ideal, todos os caminhos que levam à cura. Há sempre riscos, ainda que, por vezes, estatisticamente insignificantes, de algo dar errado. Mesmo os médicos mais sábios e experientes estão sujeitos a resultados que não desejam das terapêuticas que prescrevem.
O complexo biopsicossocial que contextualiza cada indivíduo faz com que ele responda de maneira diferente a qualquer abordagem, médica ou não. O médico precisa ser consciente de que ele próprio pode fazer toda a diferença em sua conduta terapêutica. Seu jeito de se relacionar com seu paciente, se adequando, pode funcionar como efeito placebo no sentido de torná-lo receptivo à melhora e até à cura. Paracelso, médico e físico de nomeada, no século XVI assim escreveu: “A medicina não é simplesmente ciência, mas uma arte. A personalidade do médico pode funcionar mais poderosamente sobre o paciente que as drogas empregadas”.
A boa relação médico-paciente é algo, portanto, de importância vital. Lamentavelmente, não se dá o destaque devido a esse pressuposto basilar na formação médica. Profissionais assim formados são mais suscetíveis ao insucesso. Benedictus Phliladelpho Siqueira, professor na UFMG durante 49 anos (faleceu no ano passado), foi um dos maiores defensores da qualidade do ensino médico no país. Ele assim se expressou: “Os médicos recém-egressos das escolas de medicina tornam-se técnico-equipamentos dependentes que fazem e vêem maravilhas com as máquinas e nada sabem a respeito do homem”.
Em dois períodos de sua atuação o médico está mais sujeito a cometer erros: no início de sua carreira, quando ainda não tem conhecimento e experiência suficientes, e depois de muitos anos de profissão, quando acha que sabe muito e que tem experiente suficiente a ponto de subestimar certos protocolos que precisam ser seguidos com rigor.
Um profissional que trata da saúde de seus semelhantes jamais pode ser indisciplinado, desatento. Porque, por óbvio, sua irresponsabilidade pode fazer a diferença entre a melhora, a cura ou até a morte de seus pacientes. Mesmo que ele possua muitos conhecimentos de medicina, isso, por si só, não lhe é suficiente para que obtenha os melhores resultados. Por isso não deve deixar de cultivar a humildade. Deve, isto sim, achar que precisa saber mais, não ter vergonha de perguntar de quem julga que sabe mais, dar atenção a seus pacientes a ponto de observar detalhes sinalizados ou não por eles. Confúcio, o filósofo chinês mais conhecido no mundo ocidental, disse que “a humildade é a única base sólida de todas as virtudes”. E virtudes é o que mais o médico precisa para exercer a medicina como deve ser.
A prepotência do médico pode provocar muitos danos à saúde daqueles que trata. Expressões do tipo “meu jeito de operar é este, e pronto!”, “esta é a minha conduta e não vou mudá-la por nada” etc., denotam uma vaidade rasteira, perniciosa e anticientífica que simplesmente deve ser proscrita da conduta médica. A soberba é própria dos néscios. O bom médico deve estar sempre disposto a mudar em favor do melhor para seus pacientes. Médicos com egos muito inflados são uma ameaça para os enfermos que assistem.
Pedir segunda opinião médica: um dilema dos pacientes
Até que ponto é válido ouvir uma ou mais opiniões de outros médicos quando se quer avaliar a do médico que nos trata? Essa atitude tem resultados pr