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Viriato Moura

GOSTO PELA FOTOGRAFIA


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Minha afinidade com as artes visuais é genética. Creio que quem pratica qualquer arte precisa de ajuda do gene que lhes dá essa característica. No meu caso, meu pai era artista visual. Desde muito jovem praticava a fotografia. Depois ele se dedicou a outras artes como a pintura e, na maturidade, à literatura. Meu bisavô por parte de mãe, era poeta.

Mas, no que se refere à fotografia, como disse, foi meu genitor que demonstrou mais aptidão para essa arte. Quando morávamos em Xapuri, cidadezinha do interior do Acre, onde nasci, ele me disse ter ganhado alguns trocados fotografando as pessoas. Até hoje tenho muitos álbuns de fotos minhas  tiradas por ele, que nem sequer foram atingidas pela palidez dos anos. Certa ocasião, criativo que sempre foi, resolveu produzir um  efeito especial: fez uma foto dele jogando xadrez com ele mesmo. Explicou-me como conseguiu o efeito, que era uma novidade para a época.

As imagens sempre me fascinaram. Quando ainda muito criança, seis ou sete anos, pedia de presente lápis de cor e cadernos de desenho. Perdia-me no tempo desenho, desenhando e desenhando. Quando adolescente, era fã das histórias em quadrinhos, e desenhava seus super-heróis.

A fotografia, entretanto, nunca pratiquei a com afinco, como fiz com o desenho e a  pintura, esta que veio logo depois. Mesmo assim, sempre que fotografava algo preocupava-me, como faço até hoje, com detalhes. Sempre fui refratários a clicar pessoas ou objetos no centro da foto. Sempre achei que os retratos deveriam transmitir algo mais que apenas uma imagem.

Anos se passaram e eu fotografando esporadicamente. A maioria das vezes, durante viagens. De um tempo para cá, comecei a botar em prática os conceitos estéticos que assimilei dessa arte de congelar o instante. Não sem antes visitar exposições de fotógrafos reconhecidos internacionalmente, e de estudar o tema em livros e artigos especializados. Em seguida, passei a escrever sobre o assunto; alguns desses textos, para minha satisfação,  foram bem recebidos por sites especializados.

Em recente viagem, tive a oportunidade de visitar a exposição de Martin Parr, britânico considerado o papa da fotografia contemporânea. Na livraria do mesmo museu (Museu da Imagem e do Som, em SP), adquiri um livro intitulado Leia Isto se Quiser Tirar Fotos Incríveis de Gente, de autoria de Henry Carroll, do Reino Unido, uma referência mundial. O que promete o título da obra se consuma se for lida com atenção e colocada em prática. Ah, sim, fiquei feliz em saber que ele concorda com meu ponto de vista sobre a posição do fotografado na foto. Cita a chamada Regra dos Terços, que precisa ser do conhecimento de quem fotografa pessoas com arte.

Com advento da fotografia digital, fotografar ficou mais acessível e econômico. E nem se precisa ter uma câmera fotográfica. Celulares fazem isso com muita qualidade. Quanto a conhecimentos adicionais sobre essa arte, por certo que sempre contribuem para um melhor resultado, mas nada substitui a sensibilidade e o talento para captar imagens. Carroll, inclusive, recomenda em sua obra citada: “Confie em seu instinto visual”.

Há de se convir, todavia, que para que se obtenha um retrato que emocione devemos encontrar o momento certo de acionar o disparador da câmera. Para uma foto ser boa, não basta apenas ser considerada “bonita”. A área límbica do cérebro, responsável pelas emoções, deve ser ativada mais plenamente. Por vezes, é possível deduzir, em fotos de pessoas, o que elas estão pensando, quais as sensações que vivenciam no exato momento em que foram clicadas. Pode-se ainda, no que tange ao ambiente, perceber o clima, a hora do dia, a música que está ou poderia estar tocando etc. E o que todas essas contingência podem ter causado no fotografado naquele átimo de tempo.

Saber olhar uma obra de arte, como uma foto com pretensões de ser arte, é como degustar um bom vinho. Não basta engolir e pronto. É preciso deixa-lo fluir pelas papilas gustativas e, através de suas percepções sensoriais, estimular outros sentidos além da visão.

Quando se trata de artes visuais, literalmente é preciso saber olhá-las. E isso requer preparo, treinamento. O melhor de todas as artes não é o que elas explicitamente mostram, mas as metáforas que o artista e o espectador  delas podem intuir. Ferreira Gullar disse que a arte existe porque a vida não basta. Saber senti-la, portanto, é muito mais de que um “gostar ou não gostar”, mas um refinado e saboroso elixir para um viver mais pleno e mais feliz.
 

Nota do Autor — A exposições fotográficas ainda são poucas em nosso meio. O que é lamentável. Acho que está na hora daqueles que se dedicam à fotografia, profissionais e amadores, unirem-se para que essa arte visual ocupe seu merecido espaço entre nós.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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