Domingo, 5 de setembro de 2010 - 13h06
Iniciei o curso médico em 1969, na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará. Nas primeiras férias de final de ano, ao chegar a Porto Velho, ocorreu-me a idéia de criar um grupo formado por nossos universitários. Aqui não havia faculdades, todos estudavam fora. A maioria em Belém ou em Manaus.
Explanei minha idéia inicialmente a alguns amigos mais chegados. O Samuel Castiel foi o primeiro, que logo a aprovou. Seria uma entidade formada pelos estudantes universitários domiciliados no então Território de Rondônia, cujo objetivo era integrá-los para fortalecê-los enquanto classe e, assim, pudessem reivindicar melhores condições para seus estudos em outros centros. A principal delas seria uma casa de estudante em Belém, a ser doada pelo governo do território.
Depois de algumas reuniões preliminares, o Grupo Universitário Rondoniense (GUR), foi fundado em uma das dependências do Hotel Vitória, de propriedade da família do amigo Samuel, no dia 2 de fevereiro de 1970. Naquela ocasião, compareçam 22 acadêmicos. No mesmo dia foi eleita a primeira diretoria, sendo eu o presidente. A curiosidade desta eleição foi o fato de não vencermos por unanimidade, o que seria lógico posto que os candidatos foram escolhidos em comum acordo, pela maioria, entre os colegas que iniciaram o movimento para a criação do grupo. Apenas um voto contra. De quem teria sido? É a democracia. Mas acabamos descobrindo o eleitor do tal voto. O motivo da decisão em votar contra, concluímos, era pessoal em relação a um dos diretores, e inconfessável. Em nome da unidade e da harmonia do grupo que nascia, resolvemos “esquecer” o fato.
Durante as férias, o GUR promovia eventos que ficaram famosos. A maior deles era uma gincana de obstáculos para veículos e que também media a destreza de seus participantes, que acontecia em torno da Praça Aluízio Ferreira. Festinhas também eram promovidas. Além de participação em colunas e até em páginas inteiras nos jornais locais. Em O Guaporé, numa página intitulada Porque hoje é sábado, e, no Alto Madeira, Presença Universitária, onde divulgávamos notícias de interesse da classe e exercitávamos nossos pendores literários. Os mais atuantes na imprensa, além de mim, que coordenava esses espaços, eram o Samuel Castiel, o Floriano Riva, o Pedro Struthos, a Maria José Romano Alves (Zezé) e a Beth Costa.
Praticamente todos os acadêmicos que moravam em Porto Velho participavam do GUR. Eram batizados num trote que promovíamos todos os finais de ano, quando a maioria dos calouros havia chegado por aqui. Como de costume em todos os trotes, havia brincadeiras de bom e de mau gosto. Estas últimas jamais chegaram a atos sádicos que pudessem provocar maiores danos ao calouro. Tentar escapar do trote, não era recomendado. Acabada a “liturgia” do evento, regada a uma batida de “derrubar avião” ( uma mistura alcoólica não recomendada) acompanhada de um churrasco. O evento acontecia na fazenda da família Cavalcante, na BR 364 (então chamada de BR 29), num dia de domingo. Voltávamos para cidade no início da noite e íamos a procura dos calouros (também chamados de bichos) que não compareceram. Entrávamos festivamente em suas casas e, sem o menor respeito à privacidade dos moradores, invadíamos todos os cômodos. Na última tentativa de escapar, uns se escondiam no banheiro e fechavam a porta, outros em baixo da cama, e assim por diante. Na adiantava, a pressão era tanta que a família geralmente entregava o desertor a seus algozes.
O dinheiro arrecadado com as festas promovidas pelo GUR se destinava a ajudar os acadêmicos menos favorecidos economicamente. A maior conquista do grupo foi a Casa do Estudante Universitário de Rondônia, em Belém do Pará (Rua Boaventura da Silva,167), adquirida pelo governo do coronel Marques Henriques. Esta vitória proporcionou facilidades para todos os acadêmicos, que em sua maioria estudava naquela cidade, que já dispunha de uma respeitável universidade, a Universidade Federal do Pará. (Clique e assista entrevista do Programa Viva Porto Velho, de Anísio Gorayeb com a esposa do ex-governador Cel. Marques Henriques).
O GUR fez parte de um período muito feliz de nossas vidas. Perguntem ao Samuel Castiel (médico), ao Victor Sadeck (médico), ao Sílvio Gualberto (odontólogo e político), ao Hamilton Gondim (médico), ao Pedro Struthos (odontólogo), ao José Airto Leite (engenheiro), ao Euderson Tourinho (médico e professor), ao Lester Menezes (odontólogo) e a tantos outros que viveram esse tempo de busca da realização do sonho de um dia ser doutor. Pena que o tempo, esse destruidor nato, nos separou, e cada um foi cuidar da própria vida. Certamente que se juntos e coesos estivéssemos, movidos por forte sentimento de amor nativo, o destino de nossa Rondônia poderia ter sido outro. E melhor.
Fonte: Viriato Moura - viriatomoura@globo.com
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