Terça-feira, 29 de novembro de 2016 - 18h59
O avião é o meio de transporte mais seguro, é o que se pode comprovar estatisticamente. Mas diferente dos acidentes que ocorrem com os outros, quando uma aeronave cai o número de mortos, por óbvio, é sempre proporcionalmente maior.
Na madrugada desta terça-feira 29, um avião de companhia boliviana, com 77 passageiros à bordo, caiu próximo à cidade de Medellín, na Colômbia, matando quase todos. O acidente ganhou grande destaque no mundo esportivo, em particular do futebol, porque transportava a delegação da Associação Chapecoense de Futebol, time sediado na cidade de Chapecó, em Santa Catarina, que iria disputar a final da Copa Sul-Americana com a equipe local, o Atlético Nacional de Medellín.
Acidentes com aeronaves sempre causam grande repercussão porque dão razão ao temor que, de certo modo, todos temos de viajar num veículo mais pesado que o ar.
O fato me motivou a reiterar uma denúncia que já fiz pelo menos duas vezes através de sites e da televisão. Encaminhei correspondência nesse sentido também a órgãos oficiais do setor aeroviário. A primeira vez que agi assim foi quando Nelson Jobim, então recém empossado no Ministério da Defesa do governo Lula, em 2007, reclamou dos espaços exíguos entre as fileiras de assentos de alguns aviões brasileiros. Achei que por ser uma autoridade relevante, denunciar o descaso naquela ocasião contaria com seu endosso, o que levaria a sua solução mais rápida. Ledo engano!
De fato, há alguns anos, com objetivo de transportar mais passageiros, e, por consequência, faturar mais em cada voo, empresas de aviação privadas aumentaram algumas fileiras de assentos em seus aviões sem aumentar as dimensões dos aparelhos. Em decorrência disso, entre uma fileira e outra, com exceção das que eles chamaram inicialmente de assento conforto, e, mais recentemente, de espaço conforto (assentos cobrados à parte), ao sentar, o passageiro fica comprimido, com os membros inferiores quase que imobilizados, e os joelhos praticamente em contato com a fileira da frente. Isso impossibilita a entrada ou saída dos passageiros que fiquem mais próximos às janelas, obrigando os que estão mais próximos ao corredor a levantar-se para que esses circulem nesse corredor quase que virtual. Mais ainda: quando se tenta ler uma revista ou livro (jornal, somente se dobrá-lo mais de uma vez), por exemplo, temos que colocá-los numa posição inadequada para conseguir a “proeza”. Fazer as “refeições” (que por sinal são ridículas porque mesmo sendo um lanche não precisaria ser “aquilo” que normalmente servem) é um exercício de contorcionismo. Agora, senhoras e senhores passageiros, se quem estiver sentado à sua frente resolver reclinar o encosto do seu assento, nós, que viajamos nessas latas de sardinha, sabemos muito bem o que acontece: se não tomarmos cuidado teremos os joelhos pressionados, com sérios riscos de lesão.
Até aqui relatei apenas as questões referentes aos incômodos devido a disposição dos assentos. Vamos ao que é mais grave: o fator segurança. Destaque-se, logo, que a chamada posição de segurança para pousos de emergência, em que o tronco dever ser fletido em direção ao encosto do assento da frente (posição fetal), é impossível de ser realizada por falta de espaço. Nesses casos, mesmo que o avião não sofra maiores estragos, a desaceleração abrupta certamente que causará sérios danos aos passageiros (Princípio da Inércia), inclusive podendo provocar-lhes a morte por esmagamento. Um absurdo! Absolutamente inaceitável que se finja não se estar vendo uma situação dessa gravidade, que perdura há anos. Culpo até a mídia por não ter desenvolvido uma campanha mais enfática contra esse abuso de companhias aéreas que expõem vidas humanas a riscos para se beneficiarem financeiramente. Repito: um absurdo!
Ao afirmar que nas condições hoje existentes em muitas das aeronaves brasileiras nesse mister (certamente que também de outros países com mesmo perfil irresponsável do nosso), como especialista há décadas em tratamento de vítimas de acidentes, asseguro que essas condições de alto risco é algo inaceitável sob todos os aspectos. Por isso insisto: havendo pouso forçado, mesmo que o avião não exploda ou incendeie, a chance de algum passageiro escapar vivo é mínima. Mais uma vez isso se confirma com o lamentável acidente que tivemos hoje. Os que sobreviveram, tiveram segmentos amputados, e graves lesões por todo o corpo. Se sobreviverem, é quase certo que ficarão com sequelas importantes o resto de suas vidas.
Penso que já está mais do que na hora de nossas autoridades serem mais humanas, mais responsáveis, colocando a vida acima de qualquer interesse e em posição prioritária. Fico indignado quando vejo esse tipo de coisa abominável que ainda parece ser vista como normal por quem tem poder para coibi-las. Essa atitude coloca essas pessoas na condição de coniventes, por isso também diretamente responsáveis por tudo de ruim que disso decorrer.
Não é cidadã, por isso também inconcebível, ficarmos na cômoda posição de “assistir de camarote” as mazelas do mundo a espera que o tempo, por si, às resolvam. Quem, de fato, quer fazer acontecer precisa ter atitude proativa. Caso contrário, sofrimentos além da conta e mortes continuarão a acontecer antes da hora. Fiodor Dostoieviski, eminente escritor russo, escreveu: “Todos somos responsáveis por tudo, perante todos”. Todos: eu, você, todos!
NOTA DO AUTOR– Sugiro uma campanha nacional, através de todas as mídias, no sentido de exigirmos, por direito cidadão, mais segurança em todos os níveis em nosso país, inclusive no transporte aéreo. Do jeito que está é que não pode continuar.
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