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Viriato Moura

LOUCURA NECESSÁRIA


Li uma historinha sobre um feiticeiro malvado que colocara uma poção mágica enlouquecedora na fonte de água que atendia ao povo de um pequeno país. Todos beberam a água e perderam o juízo. Menos o rei e seus familiares, que saciavam a sede em outro poço, o do palácio, onde o feiticeiro não teve acesso.
O rei, desesperado com situação caótica instalada em seu reino , decretou uma série de medidas de segurança pública na tentativa de conter a louca turba. Ao tomar conhecimento dessa atitude do monarca, o povo, revoltado, decidiu ir ao castelo exigir que ele renunciasse imediatamente.LOUCURA NECESSÁRIA - Gente de Opinião

Vendo-se cercado pelos que gritavam por sua renúncia, o rei, para salvar a própria pele e de seus familiares, decidiu que renunciaria ao trono. Mas a rainha, que também sabia do motivo da loucura popular, rejeitou a decisão sugerindo-lhe que, ao invés disso, também bebessem a mesma água que o povo bebera e, assim, ficassem loucos também. Dito e feito: beberam e endoidaram de vez, passando a dizer e fazer coisas semelhantes às do povo que governavam.

Diante da louca sintonia entre o rei e seus súditos, estes se arrependeram e permitiram que ele continuasse dirigindo seu país. Afinal, o rei agora se identificava como eles, e por isso passou a ser considerado um sábio, alguém que agia certo, atendia seus reclamos. Nessa condição, reinou até o fim de seus dias.

A lição que esta parábola pretende ensinar aos governantes é que se identifiquem com os anseios de seu povo se quiserem promover um governo vitorioso. Quem deve gostar do presente é quem o recebe e não quem o dá. Daí a necessidade de ouvir o clamor popular em sua ordem de prioridade, de urgência. Estabelecendo-se, com isso, uma empatia entre governantes e governados, fator catalisador mais eficaz para que as metas de ambos sejam atingidas.

Se a grita popular pede, insistente “loucamente”, algo procedente e lícito é preciso atendê-la. Mesmo que isso signifique romper com alguns paradigmas tidos como “normais” pelo sistema estabelecido. Por vezes, faz-se preciso dar uma de “doido”, paradoxalmente sem perder a razão, para que aconteça a mudança do modelo ineficiente em vigor. Mas isso, como sabemos, significa enfrentamentos de grande risco para o governante, que terá de encarar adversários com grande poder de destruição de seu interesse pessoal. É o preço a pagar.

Ou faz o que precisa ser feito, como um verdadeiro estadista, ou terá a rejeição do povo que o colocou lá. E será lembrado pelo história como alguém que não foi capaz de quebrar, com “loucura” necessária, tudo que precisou ser quebrado para dar a seu povo o que lhe é de direito. Em suma: nesse contexto, ou põe para quebrar ou se quebra. Mais cedo ou mais tarde.
 

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Fonte: Viriato Moura / jornalista DRT-RO 1067 - viriatomoura@globo.com
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