Quinta-feira, 7 de julho de 2011 - 14h07
Desde os tempos hipocráticos que se concebe a medicina como ciência e arte. Ciência, do latimscientia, significa o ramo de conhecimento sistematizado como campo de estudo ou observação e classificação dos fatos atinentes a um determinado grupo de fenômenos e formulação das leis gerais que os regem. Arte, no sentido da arte de curar a que se atém a medicina, envolve sensibilidade para perscrutar além da sistematização da ciência, que cobra lógica, mas que pede habilidades, talentos humanísticos capazes de visitar e identificar detalhes nos recônditos de um ser humano que sofre.
Há profissionais com acuidade científica, porém míopes para as percepções que só a arte médica pode visualizar e aferir. Outros há que se utilizam de muita arte, porém pouca ciência. Ambos incompletos, limitados para o exercício da medicina, que não abre mão do equilíbrio, da dose certa de aliar boa ciência e boa arte.
O domínio da ciência sobre a arte de curar tende a fazer do médico um cético caçador de sinais e sintomas clínicos que busca o diagnóstico através de uma lógica linear, por vezes reducionista. Lógica que em ocasiões ousa subestimar o que de mais humano o ser humano tem: seus sentimentos em relação à sua existência, em relação à vida.
Por outro lado, a predominância da arte sobre a ciência pode afastar a medicina de seu compromisso com a cientificidade dos fenômenos biológicos e a lança num campo inseguro, minado pelo empirismo que a desqualifica como a ciência que fundamentalmente é.
É preciso, portanto, não confundir arte médica com devaneios baseados em crendices, mitificações, deduções carentes de respostas; enfim, tentativas irresponsáveis, portanto perigosas, que apenas expõem a ignorância do médico carente em ciência, mas hábil para confundir com verbalizações ou encenações próprios de exploradores da credulidade. A arte médica serve, principalmente, para estabelecer laços empáticos entre o médico e seu paciente. A arte médica faz com que o enfermo se sinta gente. Daí agir como um catalisador da medicina ciência.
A medicina enquanto ciência que é exige que aquele que a pratique domine o conhecimento da forma, da fisiologia, da fisiopatologia e dos fenômenos químicos e físicos dos seres que trata no âmbito das células que o compõem. Porque é na célula, a unidade da vida, que os fenômenos normais e patológicos acontecem. É sobre elas que os agentes causadores das enfermidades, dos danos de qualquer ordem e das terapêuticas incidem e se expandem pelos tecidos que formam para provocar resultados. A percepção, portanto, precisa ser microscópica. Somente através dela é que podemos enxergar plenamente a medicina científica. À medida que nos afastamos dessa ótica, o olhar se torna macro, e nos distanciamos do domínio efetivo da medicina como ciência.
Encontrar a dose certa da arte e da ciência médicas é uma busca continuada do médico de verdade. Enquanto as qualidades intuitivas e a capacidade para perceber além do que a semiologia e os exames complementares mostram − atributos indispensáveis para exercer a medicina com arte − são talentos que deveriam ser natos do um médico, a medicina ciência exige muito estudo atento e continuado durante toda a vida profissional do médico.
Fonte: Viriato Moura / jornalista DRT-RO 1067 - viriatomoura@globo.com
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