Sábado, 30 de abril de 2016 - 20h27
Da janela de meu apartamento, a duas quadras, vejo um homem sentado em posição quase fetal na beira da calçada de uma rua quase vazia de um amanhecer úmido de domingo.
Não bastasse a postura sugestiva de quem faz uma regressão para dentro de si mesmo, uma de suas mãos lhe apoiando a cabeça intuíam que algo pesado se apoiava sobre ela, e que ele precisava de ajuda.
Não me foi possível, dada a distância, deduzir qual a idade do triste homem que me fez contemplativo com sua imagem melancólica. Apenas deduzi que sua mente estava acometida de grande sofrimento. Alguns instantes — mesmo tendo sido poucos, pareciam longos demais — se passaram, e ele continuava lá, como que congelado.
De repente, aproximou-se dele um outro homem, que lhe dirigiu a palavra. Ele, entretanto, nem sequer se moveu. A pessoa que parecia querer ajudá-lo continuou falando sem que o desolado personagem esboçasse qualquer reação. Desapontado, o solidário limitou-se a permanecer no local.
Poucos momentos depois, deles se aproximou uma senhora. Mais intimista — seria sua parente, amiga? —, baixou-se e se sentou ao lado do sofrido protagonista das próprias angústias. Colocou o braço esquerdo sobre seus ombros, e segurou sua mão direita com a sua do mesmo lado , ao tempo em que lhe falava algo.
Continuei observando, na expectativa de que a mulher o convencesse a se levantar daquele estado de desolação. Alguns minutos se passaram, talvez cinco, até que o homem, amparado pela bondosa mulher e pelo homem que chegara primeiro, ergueu-se, trôpego, lentamente. Em seguida, os três caminharam juntos pela rua ainda quase vazia. Para os que o socorreram, era uma esperança de que talvez pudessem ter contribuído para amenizar o sofrimento que levara o sofrido homem a sentar daquele jeito à margem do caminho da própria existência. Para o próprio, talvez mais uma chance de poder abrandar ou curar seus incômodos.
Enquanto isso, nascia mais um dia com oportunidades para os viventes de um novo e melhor renascer.
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