MORTOS-VIVOS

 De que vale levantarmos ao amanhecer e executarmos a rotina trivial do cotidiano se não tivermos objetivos maiores que justifiquem nossa satisfação em continuar vivendo? Viver não é só existir enquanto ser vivente. Essa é apenas uma condição existencial. Por isso nem todos que estão vivos efetivamente vivem. São apenas seres que se movem mas que nada movem.

Há, sim, mortos-vivos. Gente que vegeta descompromissada com a própria existência e com a dos outros. Apenas respira, exerce suas funções vitais para se manter vivo, e pronto. Nada mais. Parasitas da existência, vagam por aí ocupando espaços na vida sem lhes dar vida. Por paradoxal que possa parecer – e até incompressível – há mais mortos-vivos entre os vivos do que se imagina.

Olhemos para dentro de nós mesmos com isenção e com a rigidez intransigente de quem quer saber a verdade. E questionemos sobre o que fazemos para justificar essa dádiva que recebemos chamada vida. Qual o nosso compromisso com o viver? Estaríamos cumprindo nossos deveres exercitando as potencialidades que nos são disponibilizadas para fazermos com eficiência e competência a parte que nos cabe? Ou somos apenas transeuntes sem compromisso conosco, com o caminho e com os caminhantes da mesma estrada existencial?

É preciso, para justificar nosso direito de viver, ter respostas satisfatórias a essas questões fundamentais. Do contrário, seremos apenas espectros de gente, não gente de verdade. Assim sendo, também temos de assumir que somos dispensáveis à existência. Sim, dispensáveis à vida! É duro aceitarmos essa condição, mas é a justa verdade. Porque seremos apenas um estorvo que, quando muito, queremos apenas nos beneficiar da ação dos outros.

Viver de verdade é participar, interagir, produzir a partir do sonho construtivo de ser feliz plantado como as melhores sementes que dão bons frutos. Vivendo esse bom viver, mereceremos florescer no jardim da vida e não nos campos onde vicejam os ciprestes.

Fonte: Viriato Moura / jornalista DRT-RO 1067 - viriatomoura@globo.com
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