Terça-feira, 1 de março de 2011 - 19h43
Todos nós, poucas ou muitas vezes, fazemos uso de determinadas expressões ou palavras soltas para apoiar nossa fala. Umas, entretanto, contaminam de certo modo nossa linguagem que tornam-se vício causador de danos estéticos e a rebaixam aos níveis da vulgaridade.
Em dado momento, sem que se saiba ao certo de onde, essa muletas vernaculares passaram a fazer parte insistente do nosso modo de falar. Fixam-se de um jeito que parece não ser possível nos vermos livres delas.
Há algum tempo, qualquer discordância era chamada de “prurido”. O uso surgiu no capenga palavrório dos político. “Prurido”, como se sabe, significa “coceira”. Depois, veio a expressão “De repente”, que na maiorias das vezes esta fora do contexto da frase. “ De repente pode ser isso”, “De repente eu não vou”, e assim por diante. Em seguida, quando se queria falar em explicar ou explanar sobre algo, passou-se a dizer usar o verbo “desenhar”. Os nobres políticos resolveram introduzir, também, um tal “dever de casa” em seus discursos—dever que, não raro, esquecem de fazer.
Mais recentemente, virou moda começar as frases por “Na verdade...”, “Veja bem...”, “Assim...”, “Então...”. Essas expressões ou simplesmente vernáculos quase sempre nada significam. Mas sua utilização reiterada pode ser interpretada como dificuldade de quem as usa para ir direto ao assunto. Tradução: pensamento lento ou dificuldade de comunicação. Todavia pode, também, ser apenas um vício de linguagem que chegou sem pedir licença e reluta em sair. Dizer, por exemplo, “Veja bem...” sugere que quem o disse quer que seu interlocutor fique mais atento, exercite melhor seu discernimento para entender o que lhe está sendo dito. Ou não. Quanta à “Na verdade...”, essa se disseminou tanto que parece que sobre tudo há duas versões prontas à escolha de quem a diz: uma verdadeira e outra mentirosa. Na verdade (êpa!), pode não ter nada a ver com isso, mas...
Não se trata de sugerir um purismo linguístico, condição impraticável em nosso falar habitualmente claudicante na utilização da língua portuguesa, cheia de regras gramaticais e exceções. Até linguistas de nomeada aceitam, em particular na expressão oral, certas licenciosidades impostas pelo dinamismo desse tipo de comunicação. Apenas precisamos ficar atentos e evitar esse jeito repetitivo de dizer, que depõe contra nossa estatura intelectual.
Fonte: Viriato Moura / jornalista DRT-RO 1067 - viriatomoura@globo.com
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