Segunda-feira, 5 de dezembro de 2016 - 05h08
O mundo esportivo vivencia um dos momentos mais tristes de sua história. A queda do avião boliviano, que matou a delegação quase inteira da Associação Chapecoense de Futebol, entre outras pessoas, provocou lágrimas não só na cidade de origem desse time e no Brasil, mas também mundo afora.
É indiscutível que essas lágrimas são procedentes ante ao brutal desastre aéreo que ceifou também vidas tão jovens, num momento de esperança de uma grande conquista esportiva, cuja causa foi, principalmente, a atitude irresponsável de quem conduzia o avião, que subtraiu dolosamente de sua rota um pouso para abastecimento simplesmente por questões financeiras, o que torna a tragédia ainda mais absurdamente cruel e reprovável.
Permito-me, entretanto, afirmar algo que se afigura incontestável: o valor da vida depende de quem a perde, mas também de como e quando a perde. Não deveria ser assim, porque justo a vida humana, de preço supremo em qualquer circunstância, deveria ser valorada por critérios equânimes. Se todos somos iguais perante a lei, como diz nossa Constituição, por que não o somos perante a morte? Mas sabemos que isso não acontece. Enquanto algumas destas, pelas pessoas que envolve e por suas circunstâncias, denotam valer muito pelas manifestações que as lamentam, outras são banalizadas, e, em muitos casos, até relegadas ao descaso, ao esquecimento.
Num ocasião como a que ora vivenciamos, envolvendo um equipe de futebol, este que é o esporte mais popular do nosso país, além de familiares e amigos há toda uma multidão de torcedores à prantear esses mortos. Não deveríamos esperar menos da nossa humanidade, porque ao chorarmos a morte dos outros choramos também por nossa própria morte e de nossos entes mais queridos, na certeza de que um dia isso nos acontecerá.
Nos consternamos, derramamos nossas lágrimas, demonstramos assim nossos sentimentos pelas mortes de quem queremos bem; afinal, elas subtraem de nosso convívio, definitivamente, gente que tem bom significado para nossas vidas. Porém, se há muitas lágrimas para uns poucos, não há, proporcionalmente, tantas para uma multidão de nossos irmãos, gente que não é tratada como gente, que nasceu com a sina de sofrer de indigência crônica, que padece além da conta, e que por isso morre antes da sua hora — para algumas dessas pessoas, o fim da própria existência é um alívio, uma libertação do sofrer sem fim, uma graça divina. Essas, senhoras e senhores, não precisam morrer para merecer nossas lágrimas.
Lágrimas servem sim para atestar nossa condição de seres humanos sensíveis a eventos tristes, aos padecimentos nossos e de outros. Todavia, somente elas não bastam. Porque nada, pragmaticamente, mudam. Antes de chorar as mortes e os demais sofrimentos alheios precisamos tomar atitudes, no contexto de nossas possibilidades, que possam evitá-los antes que tenhamos que chorá-los. Portanto, não se interprete como virtuosa qualquer pessoa só por ela chorar pelas desditas de quem quer que seja. O que torna qualquer um de nós dignos de nossa humanidade, de sermos considerados gente solidária, é o que fazemos para que o mundo, por motivos lamentáveis, cada vez mais chore menos.
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