Domingo, 31 de julho de 2011 - 09h45
Faz parte do elenco de citações corriqueiras dizer que nosso destino está nas mãos de Deus. Ou seja, tudo que nos acontece é culpa Dele. Mais uma prova inconteste que os seres humanos não poupam nem as divindades quando se trata de se livrar de culpa. Tentam fugir de responsabilidade negando suas falhas até onde não podem mais. Assumir-se diante dos próprios atos impróprios, eis uma difícil questão existencial.
Aceitar que nosso destino não nos pertence, que já está traçado, que não pode ser mudado, não se compatibiliza plenamente com um atributo que a racionalidade nos deu: o livre-arbítrio, a liberdade de escolha. Viver racionalmente é escolher. Precisamos, entretanto, ter consciência de que se não somos escravos do nosso destino, também não somos senhores dele. Há, como se sabe, ocorrências em nossas vidas que independem de nossa vontade. “O nosso destino, escondido em algum buraco, pode surgir de improviso e nos apanhar”, alerta William Skakespeare. illiam Shakecbeth)
Ao refletir sobre nossa trajetória existencial de modo imparcial concluímos que o que nos acontece de bom e de ruim pouco tem a ver com o acaso. A expressiva maioria desses fatos decorrem de outros que os condicionaram e que dependeram de nós, de nossas escolhas. São desatentos, imprevidentes e inconsequentes aqueles que deixam o próprio destino à mercê do acaso. O preço dessa displicência é correr riscos, expor-se a sustos, flertar com o infortúnio.
Há pessoas, muitas pessoas, que maldizem a vida que têm. Reclamam de tudo e de todos. Os outros são sempre os culpados pelo que lhes acontece de indesejável. Não são capazes de assumir, com imparcialidade, a parte que lhes cabe no próprio destino que não deu certo.
Convenhamos, entretanto, que muita gente veio ao mundo predestinado a beber fel. Gente que nasceu na adversidade e convive com ela a cada passo de suas vidas. Reiteradas vezes lhes foi negado o direito de ter uma existência digna de ser vivida. Mas essas, coitadas, quase sempre sofrem caladas por absoluta falta de quem as escute; muito menos que atenda seus clamores. É o pedaço amargo, tantas vezes absolutamente injusto, que a existência impiedosamente pode nos impor sem se explicar de modo convincente. Porém, mesmo assim, algumas pessoas são capazes de superar essa dolorosa condição e conseguem, brava e exemplarmente, mudar para melhor o próprio rumo. Há muitos vencedores que alçaram a essa condição movidos pelo estímulo desafiante da adversidade. Fizeram, como se costuma dizer, “do limão uma limonada”.
O destino de cada um de nós está, não tenhamos dúvida, em grande parte em nossas próprias mãos. De nada adiante culpar quem quer que seja. De nada adianta culparmos a nós mesmos como forma de autopunição. É perda de tempo. Reclamar do escuro não acende a luz. É preciso, isto sim, assumir nossas escolhas e atitudes e fazê-las com competência e responsabilidade. São elas que vão nos salvar. Ou não. Adverte John W. Gardner: “ A vida é a arte de desenhar sem borracha”; ou seja, atos cometidos não são apagados completamente. E podem marcar para sempre nosso doravante.
Uma das condições basilares para a conquista de um melhor destino é estarmos atentos e fortes. Porque, ensina Sêneca, "o destino conduz o que consente e arrasta o que resiste”. Reitera o mesmo autor: “Quando se navega sem destino, nenhum vento é favorável”. Por isso é preciso valorizar cada passo (escolha/decisão). Sempre tendo em mente que um único passo em falso, passo que nos parece, por vezes, insignificante diante dos milhares que demos e daremos, pode ser decisivo e até definitivo para nos lançar num abismo sem fim. Contudo, como em tudo na vida, é preciso ter a sorte que nos afaste das quedas que não podemos evitar; ou que elas se limitem àquelas que podemos suportar, levantar, e voltar a caminhar.
Viver por viver, ao sabor dos ventos, sem os cuidados devidos, é expor-se ao que der e vier. Viver ao léu é abdicar do maior poder que a existência racional nos deu: o de decidir sobre nossos atos, o livre-arbítrio. – eis o nos faz racionais, gente. Façamo-nos timoneiros da maior parte possível de nosso próprio destino, comandante da nau da nossa existência. E a conduzamos a um porto melhor e seguro.
Fonte: Viriato Moura / jornalista DRT-RO 1067 - viriatomoura@globo.com
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