Domingo, 7 de abril de 2013 - 11h41
No meu caminho diário encontrei um homem falando com um poste. Numa esquina, lá estava ele e o poste, cara a cara. Alguns dias depois, novamente o homem, diante do mesmo poste, falando e gesticulando. Por vezes, abria os braços como quem diz “ E daí, responde? ”.
Num dia de transito congestionado, foi-me possível observar mais detidamente o “diálogo” entre aquele homem e o mesmo poste, sem, entretanto, escutar o que dizia. Em dado momento, o homem apontou o indicador direito em riste para a coluna de concreto como quem a acusava de algo. Pela reação do homem, que se seguiu a esse ato, dava a impressão de que a inerte criatura da engenharia se defendia. Entretanto, seu suposto acusador e juiz parecia não estar convencido do que “escutava”.
Diremos todos: elementar, eis aí mais um caso de alguém com a mente transtornada por alguma droga pesada ou por um enfermidade mental. Ninguém em perfeito estado de consciência fala com postes, pedras, paredes e similares. Portanto, estamos todos de acordo ao achar que o homem do caso em questão é doente e precisa de tratamento.
Ao julgarmos e ousarmos opinar sobre o que fazer com aquele pobre coitado, esquecemos que agimos de modo semelhante ao dele.
Contudo, dirão todos de pé e de modo veemente: nós não falávamos com postes ou similares! Pois é, alguns falam e nem se dão conta disso, o que é um sinal patognomônico de loucura. Nenhum louco, se louco for de fato, acha que é louco.
Muitos de nós, especialmente aqueles dados a manifestar publicamente suas opiniões, como é o caso dos comunicadores em geral, em particular dos jornalistas (classe em que me incluo), ficamos “falando” com postes e similares anos e anos de nossa existência. Se formos analisar, estatisticamente, qual o resultado pragmático dessas tentativas de convencimento logo deduziremos estar perdendo tempo como quem fala com postes.
Questionemo-nos e respondamos com sinceridade. Quantos desmandos já denunciamos? Certamente que muitos, muitos. E sugestões para que as ditas autoridades façam algo para melhorar nossa cidade, nosso estado, nosso país, nosso mundo? Quantas? Certamente que muitas , também. E o resultado disso? O que mudou com nossas críticas, nossas sugestões, por mais procedentes que elas tenham sido? É frustrante, mas temos que aceitar: pouco, pouco mesmo. Entra um sai outro e o que muda para melhor, na expressiva maioria das vezes, é quase nada diante do tempo e do dinheiro gastos.
Dessa análise, conclui-se que desperdiçamos grandes pedaços de nossa existência tentando melhorar atitudes de gente-poste: surdos, mudos e inertes. A diferença entre nós, ditos normais, e o homem que se detém, quase todos os dias, em seu longos monólogos (para ele, diálogos) com o poste da esquina em que o vi, é que seu poste age como é seu dever ser: posta-se surdo, mudo e inerte. Em nosso caso, os jornalistas, ficamos tentando persuadir esses postes humanos, que negam ser poste, mas agem como tal. Então, só nos resta aceitar que o que parece estranho (como de fato é), como é o caso de alguém se dirigir a um poste e com ele tentar um diálogo, que nós também somos useiros e vezeiros em agir do mesmo jeito. Mesmo sabendo disso, não devemos desistir dessa nossa “loucura” na esperança de que um dia, como num passe de mágica (ou um milagre!) esses postes humanos que não reagem aos nossos apelos tomem vergonha na cara e respondam com as ações que deles se espera por ser seu dever cumpri-las
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