Domingo, 16 de dezembro de 2012 - 10h34
O estimado amigo e confrade William Haverly, em seu texto intitulado Vendedor de Passados, contou uma história cujos protagonistas eu seu quem são. Inclusive quem descobriu o impostor.
O fato aconteceu de verdade e muita gente da alta sociedade daquele tempo sabe disso. Mas eu sei o desfecho. Porque conheço a pessoa que pegou o sujeito quando ele tentava dar mais um golpe usando emoção como fator de convencimento dos incautos.
Relembrando: a ação do impostor começava com uma pesquisa nos jornais da época ou simplesmente ele ficava sabendo da morte de pessoas importantes de Porto Velho. Por vezes, a família nem havia abrandado a tristeza pela perda quando ele entrava em cena.
Primeiro, procurava um ente querido do morto. Ao aproximar-se de sua iminente vítima, assumia uma expressão de constrita emoção. Em algumas situações seus olhos denotavam prenúncio de lágrimas. Cumprimentava a pessoa e a abraçava “afetuosamente”. A situação ficava propícia para o impostor dar o bote pretendido. Então falava de sua intensão: homenagear o morto dando seu nome a uma escola na estrada que nos leva a Guajará-Mirim. Sobre o falecido a ser homenageado, geralmente o farsante sabia resumos biográficos. Se fosse médico, ufanava suas virtudes intelectuais e humanistas. Dizia, inclusive que o doutor havia salvado a vida de um de seus filhos que estava “a beira da morte”. Se de outras atividades, procurava estabelecer um elo que lhe justificasse manifestar gratidão. Em troca, pedia ajuda em dinheiro para fazer uma festa para as crianças por ocasião da inauguração da escola. Após receber a contribuição solicitada, voltava a abraçar o incauto que, a essa altura, não raro, vertia lágrimas.
Bem, essa parte da história o referido articulista já contou ao seu jeito. Vamos aos finalmentes, como diria Odorico Paraguaçu. Quem era o impostor que enganou tanta gente esperta recebendo dinheiro para a festa de inauguração de uma escola fictícia?
Um amigo meu que sabia da história, certa manhã recebeu um telefonema de um tio seu informando que havia um senhor querendo prestar uma homenagem ao pai dele, falecido havia uma semana. Queria saber o que a família poderia colaborar com a festa de inauguração da escola que receberia o nome do seu genitor. Meu amigo logo deduziu que se tratava da mesma pessoa que deu o mesmo golpe em tantas outras com essa mesma tapeação. Sem vacilar, disse ao tio que continuasse a conversa com o tal sujeito até que ele chegasse ao local, a residência do tio. Telefonou para um amigo seu, a vítima que lhe contara o acontecido com ele, e ambos partiram para flagrar o meliante. Ao chegarem à cena do iminente crime, um tanto nervosos, deram continuidade à conversa fazendo com que o impostor repetisse o que pretendia. Foi nesse momento que ele e o seu amigo tiveram certeza de que estavam diante do homem procurado.
O amigo do meu amigo, ainda tomado pela indignação de ter sido iludido e passado constrangimento com seus familiares e convidados no domingo em que foram procurar a escola e não a encontraram, dirigiu-se enfático ao cínico individuo, e lhe disse: “Então é você, seu safado. É você que anda enganando as pessoas com essa história de homenagem. Pois fique sabendo que vai sair daqui direto pra a cadeia, porque vou chamar a polícia”. Enquanto falava, fechava a porta da sala da casa e se acercava do impostor para evitar que fugisse.
Diante da tensa situação, todos foram surpreendido pela frieza da reação do sujeito. Ele retirou do bolso de sua camisa um papel tipo ofício, enquanto dizia : “Não precisa mandar me prender não, meu senhor. Preso eu já estou. Veja aqui o documento. Estou cumprindo pena em regime semiaberto.
Desapontado e sem saber o que dizer, o exaltado rapaz perguntou ao impostor que crime ele havia cometido. Sem titubear, o malfeitor respondeu: “Matei dois caras que me encheram o saco”.
Em silêncio, todos se dirigiram à porta da casa para abri-la permitindo assim que o apenado se fosse. Na saída, ele ainda disse: “ Um bom dia pra vocês...”.