Quinta-feira, 14 de setembro de 2023 - 10h56
Quando da
construção da lendária Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, o jornal The Porto Velho Marconigram, o segundo
publicado que circulou nesta região, editado em inglês, trazia uma frase, a
única em espanhol, embaixo do título do periódico: “A vida sin
literatura e quinina, es muerte”.
Ante às
adversidades quase intransponíveis da floresta amazônica, a literatura foi,
assim, equiparada ao mais importante medicamento existente então, aquele que
tratava a enfermidade que mais acometia e matava os trabalhadores da ferrovia,
a malária. A literatura era para aqueles bravos operários um lenitivo salutar
para a solidão em que viviam, longe de seus familiares e domicílios. No livro Trilhos na Selva: o dia a dia dos
trabalhadores da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, de Rose e Gary Neeleman,
podemos ler alguns poemas escritos por aqueles operários durante um dos mais
dramáticos episódios da história brasileira de todos os tempos.
O efeito
terapêutico da literatura foi percebido desde a Antiguidade. O faraó Ramsés II
considerava sua biblioteca como uma farmácia. Uma pesquisa realizada nos
Estados Unidos com soldados feridos na Segunda Guerra Mundial concluiu que
aqueles que se dedicavam à leitura recuperavam-se mais rapidamente.
Assim
como os medicamentos, a literatura tem indicações, contraindicações e efeitos
colaterais. Friedrich Nietzsche escreveu que “os leitores extraem dos livros,
consoante a seu caráter, a exemplo da abelha ou da aranha que, do suco das
flores, retiram, uma o mel e a outra o veneno”.
Retirar
bons néctares da literatura denota sabedoria. “Muitos homens iniciaram uma nova
era em suas vidas a partir da leitura de um livro”, ensina Henry Thoreau. Quem
tem um livro disponível, não está só. Se a escolha for boa, ele será um
agradável companheiro para momentos de lazer, de reflexões e estados emocionais
diversos. A leitura de um texto aprazível pode conduzir a momentos de enlevo. E
todas as vezes que se atinge esse estado de espírito, o organismo produz
endorfina, hormônio que nos provoca sensação de bem-estar, de felicidade.
Desde que se aprende a
ler, a leitura deve ser estimulada. É importante dar às crianças livros
infantis, coloridos, com belas histórias e até com ensinamentos de atitudes que
as possam ajudar na construção do próprio caráter. Ler para crianças é algo que
deve fazer parte das obrigações de pais e educadores. Nutri-las com
encantadoras leituras tem tanta importância como o bom alimento físico que
recebem.
A produção de literatura também deve ser incentivada. Mesmo quem não
se ache com talento para escrever, deve tentar se expressar através da escrita
— muitas vezes nos abstemos dessa salutar prática por inibição ou até mesmo por
excesso de autocrítica. O poeta espanhol Antonio Machado, escreveu:
“Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar” — qualquer atividade
tende a melhorar e se consolidar com a prática reiterada. Não foram poucos os
escritores que só começaram a se dedicar às letras na maturidade. Produzir
literatura, sem dúvida, é importante fator motivacional de vida e fonte de
conhecimentos.
Uma lapidar citação de
Marcus Túlio Cícero, uma das mentes mais versáteis da Roma Antiga, sintetiza a
importância da literatura para a existência humana: “As letras são o alimento
da juventude, a paixão da idade madura e a recreação da velhice; dão-nos brilho
na prosperidade, e são uma consolação, um recurso no infortúnio; fazem as
delícias do gabinete, e não embaraçam em nenhuma situação da vida; de noite,
servem-nos de companhia, e vão conosco para o campo e em viagem”.
*Viriato Moura é médico, jornalista, artista plástico,
cartunista, chargista, autor de 20 livros (prosa e verso), 3 opúsculos e
participou de 9 coletâneas literárias. Recebeu diversas condecorações a nível
municipal, estadual e nacional, sendo a mais recente delas a Comenda Moacyr
Scliar – Medicina, Literatura e Arte, que lhe fora outorgada pelo Conselho
Federal de Medicina. É membro da Academia Rondoniense de Letras, Ciências e
Artes, da Academia de Letras de Rondônia e da Sociedade Brasileira de Médicos
Escritores.
Pedir segunda opinião médica: um dilema dos pacientes
Até que ponto é válido ouvir uma ou mais opiniões de outros médicos quando se quer avaliar a do médico que nos trata? Essa atitude tem resultados pr