Sábado, 9 de outubro de 2010 - 12h15
O que, aparentemente, não se expressa, parece que não tem valor. Pode até parecer que não existe. O silêncio é um desses exemplos.
O silêncio é também inquietante, preocupante. Preocupa, por vezes, mais que o ruído. E com razão: o ruído pode identificar seu causador. Sendo um ronco humano, alguém dorme; se de uma sirene, pode ser uma ambulância, ou um carro da policia. E o silêncio? Por ser a ausência de som, como saber se simplesmente significa “ausência” ou se é um álibi de algo ameaçador.
O silêncio, diz um adágio popular, “é de ouro”. Shakespeare, em Conto de Inverno, escreve: “Onde, por vezes, a palavra falha/ O silêncio da pura inocência convence”. O silêncio pode ser uma das mais grandiosas expressões de sabedoria. Saber silenciar é mais difícil, em muitas ocasiões, do que falar, emitir sons. “Abençoado o homem que, não tendo nada a dizer, se abstém de demonstrá-lo em palavras”, ensina George Eliot em Impressões de Theophrastus Such.
O silêncio protege os néscios. O ato mais inteligente que quem não sabe pode fazer é ficar em silêncio. O ignorante pode até ser tido como sabedor se ficar em silêncio.
A turbulência contemporânea tornou os seres humanos cada vez mais barulhentos. Perdeu-se o prazer do silêncio. Parece que quando não verbalizamos nossas opiniões, nossos sentimentos, estamos nos negando, nos omitindo. Esquecemos que o silêncio muitas vezes diz mais e melhor.
O silêncio pode ser mais excitante e motivador que as palavras. Dia desses, uma modelo com grande apelo sensual, que poderia escolher seus homens com facilidade, ao justiçar porque havia casado com um homem sem dotes mais expressivos, inclusive de beleza física, disse que ficara sensibilizada (e intrigada!) pelo fato de ele, um tatuador profissional, ao fazer uma tatuagem em suas partes íntimas não a assediou com galanteios mesmo tendo certa intimidade com ela, mantendo-se em respeitoso silêncio. Enquanto tantos o fizeram tantas vezes em situações menos explicitas. Ela se deixou conquistar pelo silêncio inesperado daquele que teve chance de dizer e não disse.
Como tudo na vida, a dose faz a diferença. Remédio pode ser veneno, em alguns casos. Como o silêncio acontece a mesma coisa. Quando ele precisa ser quebrado e não é, pode transparecer conivência, covardia, subserviência, insegurança e outras fragilidades. O silêncio exerce sua força quando se impõe como mais oportuno que qualquer som, qualquer palavra.
Distinguir quando silenciar é mais indicado requer sabedoria e domínio emocional. Aqueles que conquistarem essas virtudes terão a consciência de como o silêncio pode lhes trazer felicidade.
Fonte: Viriato Moura - viriatomoura@globo.com
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