Sábado, 13 de outubro de 2012 - 19h23
Ao ler o título deste artigo, o leitor talvez deduza que irá encontrar uma crítica severa aos intolerantes. Espera até que alguns deles sejam citados nominalmente. Não há como não lhe dá razão por ter pensado assim: afinal, a maioria de eminentes pensadores, através dos séculos, fez referências desairosas à intolerância.
É mister que se faça, desde logo – antes que se coloque todas as intolerâncias no mesmo saco –, a diferença entre a intolerância que decorre de uma posição mental intransigente e refratária a tudo e a todos que não concordam com o intolerante, daquela que traduz a não aceitação de ideias e ações que não expressam, comprovadamente, o melhor resultado .
Na primeira condição, a intolerância pode ser perniciosa quando manifesta um preconceito, uma rejeição que visa apenas proteger interesses pessoais ou, simplesmente, que manifeste uma deformação de caráter daqueles que têm prazer em ser do contra.
Há que se considerar, entretanto, a bem-intencionada e útil intolerância. Aquela que pode até ser chamada de indispensável intolerância. Sem ela, as pessoas e, por consequência, o mundo, não evolui, não melhora. Essa, deve começar pela auto-intolerância, ou seja: por rejeitarmos em nós mesmos tudo que não deve ser tolerado, sem a exacerbada e neurótica mania de perfeição, que é doentia, que infelicita. É por aí, sem dúvida, o caminho mais curto para atingirmos um padrão de existência comprometido com a qualidade, com a evolução para melhor.
A maioria de nós, porém, é condescendente demais com os próprios desacertos. Achamos que nossas falhas são menores, que podem ser deixadas por menos, que não foram tão graves assim. E ainda: que há sempre alguém, ainda que em parte, culpado por elas. Por isso, por não aceitarmos o quanto estamos errados, equivocados, persistimos nessa atitude. O primeiro passo para nos corrigirmos de falha cometidas é aceitarmos que falhamos. Enquanto isso não acontecer, o erro nos domina. Que fique claro que não se está tratando aqui tão somente dos erros morais, mas sim das lapsos cometidos em todos os graus e sentidos.
Não há dúvida de que uma dose de tolerância é preciso para que possamos viver e conviver. Livrai-nos do intolerante movido por sentimentos menores. O excesso de tolerância, entretanto, é um veneno para qualquer processo educacional, qualquer relacionamento interpessoal. Quem tolera demais, além do aceitável, é negligente por aceitar passivamente a falha, e ainda desestimula sua correção. Quem assim age deveria assumir as consequências dessa atitude permissiva.
Antes de julgarmos negativa e sumariamente os intolerantes, é preciso que saibamos distinguir que tipo de intolerância praticam. Se a intolerância for procedente e construtiva, sem exageros neuróticos e sectários, ao invés de amaldiçoá-los e maldizê-los é mais justo e sensato que os louvemos e o bendigamos. O melhor que mundo tem, deve a essas pessoas. A propósito, esta citação lapidar do filósofo e orador romano Marcus Tullius Cicero (106 a 43 a.C.) soa como uma advertência: “O hábito de tudo tolerar pode ser a causa de muitos erros e de muitos perigos”. Estamos avisados.
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