Sexta-feira, 13 de setembro de 2024 - 15h13
Até que ponto é válido ouvir uma ou mais opiniões de outros médicos
quando se quer avaliar a do médico que nos trata? Essa atitude tem resultados
práticos em favor de nossa saúde, ou pode nos deixar mais angustiados diante de
opiniões divergentes em relação ao mal que nos aflige?
Isadore Rosenfeld, cardiologista e professor de clínica médica do
Cronell Medical Center, no New York Hospital, em seu livro "A Segunda Opinião",
discute a questão e conclui que essa é uma medida acertada em certas situações:
"Sobre muitas doenças, impõe-se ouvir a opinião de um segundo médico, dado
haver, quase sempre, mais de um caminho para a cura". Porém adverte que
não quer com isso dizer que se deva consultar outro médico por qualquer doença
banal. A segunda opinião estaria reservada para enfermidades que exigem
intervenções de grande vulto, para as que não respondem satisfatoriamente aos
tratamentos instituídos e para as que deterioram a qualidade de vida ou que
ameaçam sua duração.
Cabe ressaltar, desde logo, que o próprio médico atendente também pode,
por vezes deve, pedir a opinião de outro colega seu a respeito do paciente que
está tratando.
O que levaria o profissional assistente a pedir opinião de outro ou
outros colegas seus sobre determinados casos? A falta de conhecimento
específico (não especialista na enfermidade em questão) ou pouca experiência em
relação à doença investigada . Cabe enfatizar que isso não depõe contra a
imagem do médico no que tange à sua competência, mas, isto sim, indica que ele
tem consciência de suas limitações para melhor conduzir o tratamento de seu
paciente, conduta essa que demonstra ser ele um profissional ético que quer o
melhor resultado para quem está assistindo.
Quanto ao doente, isso pode ocorrer quando ele não está convencido
completamente se a conduta médica para seu caso é a mais acertada ou porque tem
esperança de que outro médico tenha uma opinião que mais lhe convém. Se sua
inteção é apenas esta, cabe uma ressalva
importante: o paciente não deve procurar outro(s) médico(s) apenas em busca de uma
opinião que apenas abrande, sob qualquer aspecto, seu tratamento, fato que
poderá diminuir seu sofrimento temporariamente,
porém lhe trazer consequências negativas quanto a seu estado nosológico.
O médico não deve medir esforços para evitar que seu paciente
fique inseguro ante sua conduta. Quem está doente tem direito de ser informado
sobre o próprio estado de saúde. O modo como isso deve ser dito requer bom
senso, conhecimento e didática. É importante que o médico compartilhe com seu
paciente e com seus familiares mais próximos as várias opções de tratamento,
informe sobre seus riscos de efeitos adversos, se for o caso, e chances de cura. Reitere-se que, às vezes,
há mais de uma opção de tratamento para o mesmo mal — especialmente nestes
tempos em que a medicina dispõe de tecnologias cada vez mais avançadas. E
ainda: cada pessoa tem características próprias e a medicina não é uma ciência
exata. Nem sempre o que é bom para um paciente serve para o outro. Hipócrates,
o pai da medicina, ensinou: “Não há doenças, há doentes.
A segunda opinião
pode ser útil, portanto, quando o paciente tem dúvidas sobre o seu diagnóstico
e/ou sobre o tratamento que lhe foi prescrito. Entre os benefícios para
pacientes de obter uma segunda opinião médica, quando isso é indicado, destacam-se:
correção e adaptação de diagnósticos imprecisos, respostas mais completas, maior segurança na abordagem diagnóstica e
terapêutica, ampliação das possibilidades de tratamento, aumento das chances de
um bom prognóstico e maior chance de recuperação mais rápida.
Vale ressaltar que também
o médico que atendeu inicialmente o paciente
pode ser beneficiado pela opinião de outros colegas seus através de esclarecimentos
de dúvidas e troca de informações com profissionais com mais experiência e
especializados, que proporcionam ampliação de conhecimentos, reforço de
diagnósticos assertivos, correção de diagnósticos equivocados, maior segurança
na escolha do tratamento e compartilhamento de responsabilidade no tratamento
escolhido. Em decorrência de todos esses benefícios, o médico cometeria menos
erros profissionais e assim teria reduzidas as possiblidades de responder
processos éticos e na justiça.
Se o médico é realmente competente e sabe convencer seu paciente de que
está conduzindo seu caso do melhor modo possível, não há motivos para este
corra o risco de se angustiar com versões que podem diferir da primeira opinião
obtida. E mais, correrá o risco de acreditar e até aceitar indicações médicas
mais convincentes que o satisfaçam naquele momento, mas que podem não ser o caminho mais eficaz e seguro para sua cura.
*Viriato
Moura é médico, jornalista, artista plástico, cartunista, chargista, autor de
20 livros (prosa e verso), 3 opúsculos e participou de 9 coletâneas literárias.
Recebeu diversas condecorações a nível municipal, estadual e nacional, sendo a
mais recente delas a Comenda Moacyr Scliar – Medicina, Literatura e Arte, que
lhe fora outorgada pelo Conselho Federal de Medicina. É membro da Academia
Rondoniense de Letras, Ciências e Artes, da Academia de Letras de Rondônia, da
Sociedade Brasileira de Médicos Escritores e Doutor Honoris Causa pela
Faculdade Instituto Rio de Janeiro.