Domingo, 23 de janeiro de 2011 - 19h45
“O Brasil não gosta de ver as pessoas bem”, desabafou Tom Jobim em uma de suas entrevistas, já no ocaso de sua vida. O grande músico chegou a dizer que fazer sucesso em nosso país é um pecado, uma ofensa. Razões para dizer essas coisas, certamente que ele tinha. Mas só esqueceu de completar que essa atitude reprovável não é apanágio somente dos brasileiros. É um traço forte da personalidade humana.
Um jornalista experiente admoestou um jovem confrade dizendo-lhe que se quisesse ficar conhecido, ser lido por muitos, deveria escrever falando mal das pessoas, dando más notícias. Você mesmo, teste-se com sinceridade: qual dessas duas notícias daria prioridade para ler? ” DILMA É RECEBIDA COM FESTA NOS ESTADOS UNIDOS” ou “AVIÃO DE DILMA EXPLODE AO ATERRISSAR EM NOVA YORK”. Viu como você é humano! As desgraças suscitam mais atenção do que as boas notícias.
Quando lhe dão uma má notícia sobre alguém que você conhece ou é importante, famoso, seja sincero, você fica ou não fica com uma compulsão para passá-la adiante? Não precisa responder: claro que fica! E se for daquelas que poucos sabem, que é tida como segredo, aí sim é que o comichão na garganta aumenta. E se a notícia for boa? Se não for sobre alguém que você verdadeiramente queira bem, certamente que não perderá seu precioso tempo em divulgá-la.
Essa é uma dura verdade: os seres humanos tendem a se compensar com a infelicidade dos outros. Em lapidar citação, Miguel Esteve Cardoso sintetiza esse vergonhoso sentimento: “A alegria tem uma vergonha que é só dela e é malcriado proclamá-la. Ou, pelo menos, cria a impressão de dar azar. Parece existir, no contrato existencial, uma obrigação para com a tristeza que não distoe do mau estado do mundo e do sofrimento humano”.
Quando estamos de bem a vida, fazendo sucesso; em suma, sendo felizes parece que ofendemos aos que não nos amam de verdade. Ou seja: a maioria das pessoas que ficam sabendo disso, porque amor de verdade é coisa rara, é pedra preciosa no garimpo da existência.
Como se não bastasse o desinteresse pelas bem-aventuranças alheias, essa condição ainda incita conspirações para destruí-las o mais rápido possível. Há pessoas, infelizes pessoas – e não são poucas! –, que vivem tentando acabar com a festa dos outros. E são tomadas de muito prazer quando isso acontece. É por esse motivo que muitos cultivam a superstição de não falar de seus projetos, de suas melhores pretensões, de seus sonhos antes que eles aconteçam.
Dostoievski, em “Notas do Subterrâneo”, questiona sobre o que devemos esperar da criatura humana dotada de estranhos sentimentos a ponto de que se lhe fosse dada toda a felicidade possível que desejasse, mesmo assim, movido pela pura ingratidão, por exclusiva perversidade, “arriscará perder tudo isso e desejará o mais depravado lodo, o mais antieconômico absurdo, simplesmente a fim de injetar o seu fantástico e pernicioso elemento no âmago de toda essa racionalidade positiva”.
Uma dos maiores expressões inovadoras da literatura Russa pode, para os menos avisados, ter sido injusto com todos nós, humanos, ao escrever tão contundente assertiva. Mas, gostemos ou não, aceitemos ou não, as evidência, também traumatizantes, indicam que ele tem razão.
Se somos capazes de fazer isso com nossa própria felicidade, o que dizer em relação à felicidade dos outros?
E ainda temos a petulância e a insensatez de querer um mundo melhor....
Fonte: Viriato Moura / jornalista DRT-RO 1067 - viriatomoura@globo.com
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