Domingo, 17 de fevereiro de 2013 - 00h47
Quando alguém nos faz a pergunta “Quem é você?” entendemos que quer saber qual nossa ocupação, em que trabalhamos: médicos, carpinteiros, advogados, faxineiros etc
De pronto, nesse contexto, temos nossa identidade, enquanto pessoas que somos, colada à atividade laboral que exercemos. O grande complexo existencial que verdadeiramente somos é reduzido a um fragmento de nossa personalidade nem sempre compatibilizado com ela. Há médicos que não são médicos, advogados que não são advogados, e assim por diante – apenas exercem a profissão sem se identificar com ela.
O que somos de verdade jamais pode ser expresso através de palavras de conteúdo reducionista. Porque a grande verdade é esta: quem verdadeiramente somos nem nós mesmos sabemos. Porque separar o que somos de fato do que achamos que somos e do que os outros acham que somos é algo que se mescla num confuso caldeirão de nossas humanidades, de modo a não sermos capazes de separar o que é verdadeiro ou imaginário em nós mesmos.
A capacidade de darmos espaços aos muitos “eus” que habitam em nosso “eu” parece ser ilimitada. A cada passo que damos podemos ser surpreendidos por um novo “eu” que jamais imaginamos ser nosso. Quando nos surpreendemos com algumas de nossas atitudes significa que outros “eus”, até então latentes, por nós desconhecidos, manifestaram-se. Os motivos de isso acontecer, por vezes após muitos anos de vida, podem ser os mais diversos – até um sutil estímulo pode fazê-los eclodir.
Quem somos nós plenamente é algo que nem uma longa vida é capaz de responder. Mesmo porque há verdades que habitam em nossa personalidade mas que as refutamos com veemência, que insistimos em negar que existam mesmo sabendo intimamente que existem. Não queremos ser, por óbvio, o que em nós desgostamos. Decorre daí essa luta interna e sem fim que temos de conviver com os múltiplos que somos: uns que amamos, outros que odiamos. Ser ou não ser, eis questão!