Quinta-feira, 11 de março de 2010 - 18h56
Temos o natural hábito de semear e cultivar ilusões. A expressão popular “me engana que eu gosto”, ainda que vista com desdém, não está muito longe do que realmente acontece.
No âmbito afetivo somos dados a projetar nossos parceiros como nós gostaríamos que eles fossem. E, com frequência, insistimos em acreditar que eles realmente são essas pessoas especiais que queremos para nós, para dedicar nossas afeições.
Durante algum tempo, essa “certeza” faz com que nos iludamos com os defeitos que o tempo tinge a imagem que nós construímos para o outro. Imagem essa para atender nossas necessidades afetivas. Iludimo-nos tanto com essa nossa projeção que nos negamos a acreditar, nos primeiros momentos, que aquele príncipe ou aquela princesa estejam se metamorfoseando em sapos.
As pessoas são como são. Nem sempre é fácil perceber isso porque todos, de certo modo, usamos uma carapaça para conviver melhor socialmente. Por isto, todos nós somos uma mistura do que achamos que somos , do que pensam que somos, e do que verdadeiramente somos. Com a convivência, o que verdadeiramente somos tende a aparecer, exteriorizar-se. Mesmo porque não nos é possível interpretar o que queremos parecer que somos o tempo todo.
Querer que alguém seja do jeito que imaginamos tão-somente para preencher nossos caprichos sentimentais, é uma ingenuidade. Porque quem semeia e cultiva ilusões, não raro colhe decepções.
Fonte: Viriato Moura / viriatomoura@globo.com
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