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Viriato Moura

QUER PUBLICAR UM LIVRO?


O primeiro livro que escrevi, na verdade, foi um opúsculo que tratava da vida de meu sogro, o médico Hamilton Raulino Gondim. Depois vieram outros, publicados em Brasília, Rio de Janeiro e, os três mais recentes, aqui em Porto Velho.

Escrever um livro nos moldes artesanais como são os publicados aqui não é tarefa fácil caso se queira produzir um trabalho de certa qualidade. Não basta ser só criativo e saber desenvolver bem o que se quer transmitir. Faz-se preciso conhecer a metodologia de confecção de  livros. Há detalhes que precisam ser observados para que a obra não seja criticada por falhas insipientes.

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A maioria dos autores não dominam o idioma que utilizam. O português, como se sabe, é do conhecimento de poucos quando analisado  numa visão purista. É claro que a língua é dinâmica, precisa ser adequada ao contexto do que se quer comunicar. Mas há lapsos que colocam em risco o conceito, enquanto redator, daquele que produziu o texto.

Logo no meu primeiro trabalho, que foi escrito em máquina de datilografia, tive algumas dificuldades quando pedi à minha uma secretaria que passasse o texto a limpo (como se costumava dizer), após reiteradas revisões minhas e do professor de língua portuguesa Lourival Chagas da Silva — pedi ao mestre que fosse “impiedoso” ao revisar o livro.  Pois bem, ao fazer o que lhe solicitei, a secretaria resolveu, por se achar conhecedora de pontuação, mudar a posição das vírgulas, suprimir algumas e acrescentar outras. Quando perguntei a ela por que fizera aquilo, disse-me que achava que o que definia o uso da vírgula era a necessidade de “respiração” do leitor. Não sabia que a pontuação é definida por normas gramaticais.

Certa ocasião, solicitei à uma competente professora de redação que revisasse outra livro meu, este escrita em computador. Quando me entregou o texto revisado em um pen driver, muitas palavras estavam aglutinadas — detectei isso  quando abri o texto em meu computador. Ao comunicar a ela o fato, disse-me que eu resolvesse o problema com alguém que entendesse de informática. Acabei tendo separar cada palavra aglutinada. Haja paciência!...

Em obra recente, o diagramador programou o computador, inadvertidamente, para dividir as sílabas em idioma inglês. Detectei o fato e fizemos as correções a tempo. Mas ainda houve algumas poucas palavras que ficaram juntas — felizmente que não comprometeram a clareza do texto.

Uma coisa é certa: por mais que domine o idioma, o autor  não deve prescindir de uma revisão competente. Se possível, feita por mais de um revisor. Mesmo assim,  o texto deve ser lido pelo autor reiteradas vezes, incluindo o boneco da obra lhe for entregue pela editora. Depois de tudo isso, ainda deve estar preparado para encontrar erros no seu livro quando ele ficar pronto. Fato comum em meios como o nosso, ainda não completamente estruturado em termos editoriais. Porém, nos anos mais recentes, tivemos consideráveis avanços em termos de qualidade de impressão.

A capa e a contracapa devem merecer atenção especial. As orelhas do livro também devem instigar à leitura da obra. O livro que  lançamos (Yêdda, Samuel e eu) recentemente na Bienal do Rio, Trem Vivo, e que será lançado na próxima quarta 2, em Porto Velho, levou em consideração, do modo marcante, esse conceito de convencimento do leitor através da capa.    

A despeito da dedicação e até do sacrifício exigidos para publicação de um livro, quando o vemos pronto é sempre um grande prazer. Daí sugerir a quem tiver esse objetivo, que o realize. Antes, todavia, reflita se o que tem a dizer em sua obra vai ao encontro dos anseios de seus eventuais leitores. Escrever para não ser lido é frustrante.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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