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Viriato Moura

QUEREM ASSASSINAR O PORTUGUÊS



Só faltava mais essa: como se não bastassem a sandices produzidas pelos poderosos de Brasília, agora vem o próprio Ministério da Educação (MEC) compactuar com essa tentativa de assassinar de vez a língua portuguesa.

Liberou geral, minha gente. Viva a ignorância! Você está autorizado, oficialmente, a sair por aí dizendo “nós foi”,”os livro”, “o pescador pega os peixe”. Morte sumária à concordância, à gramática em geral, à língua culta; enfim, ao português já tão açoitado pelos que o falam e escrevem. E tem mais: qualquer admoestação a esse jeito errado de dizer é, segundo seguidores dessa proposta absurda, “preconceito linguístico”. Ou seja, uma ofensa a quem assim se expressar.Gente de Opinião

Acredite, isso tudo aí está acontecendo. Um dos “expoentes” dessa asneira é um tal de Marcos Bagno, professor da Universidade de Brasília (UnB), que já lançou até livro sobre o assunto, em 1990, quando criou o termo “preconceito linguístico”, para o ato de admoestar alguém que cometa esses disparates contra nosso idioma.

Demorou um pouco mas parece que agora querem institucionalizar de vez a parvoíce em nosso país. Uma inversão de valores sem precedentes em nossa história. A ignorância querendo se impor ao saber. Assim como já há pessoas que têm vergonha de ser honestas diante de tanta corrupção, não será de assustar se os detentores de conhecimento tenham vergonha dessa condição ou, pelo menos, se inibam de demonstrá-la.

Pasmem, senhoras e senhores, adotado com o aval do MEC nas aulas de português de meio milhão de estudantes do ensino fundamental, o livro “Por uma Vida Melhor” é a cartilha que esses que se postam como “intelectuais de vanguarda”, na verdade mensageiros da tolice, publicaram para estimular e autorizar que se fale de qualquer modo nosso idioma.

Segundo essa minoria de “professores” que quer tão somente aparecer, essas agressões ao bem falar seriam apenas “variações populares”, e que contestá-las seria preconceituoso. “A idéia de que uma língua culta é um instrumento de dominação da elite é um absurdo que não se vê em nenhuma nação desenvolvida”, diz o linguista Evanildo Bechara, membro da Academia Brasileira de Letras, conforme cita a revista Veja em sua 21ª edição.

É absolutamente lamentável que esse desserviço à educação, tão deficitária em nosso país, tenha apoio do estado brasileiro através do MEC. Se falar de qualquer jeito pode, logo, logo aparecerão outros desprovidos querendo aprovar uma escrita nesses moldes. Não duvidem, também, (quem ousará duvidar, depois de tudo que já se viu nesse país?) que poderá aparecer um parlamentar querendo transformar em lei essa bobagem, inclusive com punição para os “preconceituosos linguísticos”.

Com tantas críticas procedentes, você deve achar que o MEC, envergonhado por ter escorregado mais uma vez na maionese, determinou a retirada imediata da tal “obra” de circulação e mandou incinerá-la para que nada sobrasse dela, nem lembranças. Lamento dizer-lhe, mas você errou. O MEC, que pagou e distribuiu esses “livros didáticos” (brincadeira!...) decidiu mantê-los nas escolas. Numa visão equivocada da sociolinguística, ramo da linguística que estuda as variações do idioma, endossa esse desrespeito à sua norma culta. Agindo assim, patrocinando e estimulando esses desatinos, o Brasil patina no lamaçal da ortodoxia da estupidez, do obscurantismo. Tudo a lamentar!

Diante de tamanho despautério, é preciso que as pessoas comprometidas com a educação de qualidade nesse país se posicionem com veemência contra esse desserviço e reivindiquem a retirada imediata desse lixo contaminado de contra-senso das mãos dos estudantes que já estão sendo vitimados por ele.

Isso é que caminhar na contramão da história. 
Ah, meu Brasil amado, assim não dá para chegar lá!...
 

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Fonte: Viriato Moura / jornalista DRT-RO 1067 - viriatomoura@globo.com
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