Quarta-feira, 15 de outubro de 2014 - 18h19
“Que jamais me esqueça de que o paciente é meu semelhante transido de dor. Que jamais o considere mero receptáculo de doença.”
Maimônides
A lição mais importante que o medico deve aprender para colocá-la em prática desde o atendimento de seu primeiro paciente é o modo correto de como se relacionar com ele. Lamentavelmente, nas escolas de medicina não se dá o valor devido a essa questão, que será um divisor de águas entre o bom e o mau médico. Por mais ciência médica que o médico domine, jamais será um bom profissional se não se comportar adequadamente diante de enfermo que assiste.
A psicologia médica ocupa um espaço muito reduzido no currículo das faculdades de medicina. A predominância das informações somáticas forma, em termos de conhecimentos, um profissional pouco habilitado para lidar com a essência mais importante da máquina que se propõe a consertar. Aqueles mais afeitos aos problemas da mente tendem a se especializar em psiquiatria. Há, portanto, a compartimentalização do saber, dividindo os médicos em especialistas em corpo e especialistas em mente. A visão plena, psicossomática, forma cientificamente correta de avaliar o ser humano, não se concretiza, por isso, com a intensidade que deveria na formação desses profissionais.
Quando o médico se propõe a ouvir a história clínica de seu paciente, com exceção dos psiquiatras, ele tende a estar mais atento ao relato dos seus aspectos orgânicos. Aqueles que se desligam quando o enfermo passa a falar de seu lado emocional, perdem a oportunidade de entendê-lo globalmente. Esses relatos podem oferecer as melhores pistas que levam ao diagnóstico. O tipo psicológico do enfermo também serve para orientar o profissional na escolha de seu tratamento. O portador de doenças crônicas, por exemplo, sente uma imperiosa necessidade de desabafar, manifestar suas emoções. Ele quer compartilhar com o seu médico as suas angústias, suas revoltas, seu sofrimento, enfim. Quer atenção, amparo, conforto, afago. Frequentemente, essa atitude do profissional funciona mais que medicamentos como calmantes, ansiolíticos, antidepressivos etc. Ouvir o paciente com atenção e confortá-lo às vezes é a única ajuda que o médico lhe pode oferecer.
O médico consciente do seu significado para seu paciente precisa ser um ser especial para com ele. As expectativas que o enfermo tem a seu respeito são proporcionais ao que a doença significa para ele. Daí porque o profissional não pode subestimar a capacidade de observação do doente que trata. Ele está mais atento do que se deixa perceber, por vezes. Precisa estar atento em relação àquela pessoa em quem está depositando sua confiança em recobrar a saúde. Trata-se de seu instinto de conservação. Uma atitude médica indevida, que deixe dúvidas no doente, que seja reprovada por ele, pode por tudo a perder.
O médico precisa se entender bem com o seu paciente e vice-versa. Falhas nessa relação têm causado prejuízos às partes envolvidas. Comprovadamente, a maioria das denúncias de erro médico decorre desses desentendimentos. Se há uma profissão em que o exercício da paciência em ocasiões atinge o seu limite, a medicina é uma delas. Quando o médico perde o controle emocional da situação, não há como continuar tratando seu paciente. Nesses casos, para o bem dos envolvidos, o assistido deve ser encaminhado a outro médico ou a parte a ele relacionada deve tormar essa decisão.
Nota do Autor — Conforme já dito, durante esta semana que antecede o Dia do Médico, 18 de outubro, esta coluna publicará artigos relacionados a esses profissionais.
Pedir segunda opinião médica: um dilema dos pacientes
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