Domingo, 23 de setembro de 2012 - 19h38
Quem viveu como eu a infância e a adolescência em Porto Velho, terá grande prazer em relembrar os sabores daquele tempo.
O café da manhã da D. Chiquinha, no velho Mercado Municipal. Recordo que pedia ao meu avô, que fazia as compras de nossos mantimentos, que me acordasse cedo para ir com ele ao mercado. Meu motivo nada tinha a ver com ajudá-lo a carregá-las . O que eu queria mesmo era degustar as tapiocas e os mingaus da negra esbelta e de mãos de fada para a culinária nativa que lá tinha sua banca. Das tapiocas, preferia as com ovo. Dos mingaus, o de milho – o mungunzá. Ela mesma, nos finais de tarde, também vendia um tacacá de lamber e arder os beiços, em outro ponto da cidade.
Havia, também , numa das esquinas do velho mercado, no Bar Bacurau, de Enéas Cavalcante, um caldo de cana gelado de doer a cachola. Mas gostoso!... E as saltenhas do J. Lima, que lá trabalhava, até hoje preparadas por seus familiares? Delícia!
No Almanara, os quibes e as esfirras que atravessaram os anos, e que também estão disponíveis até hoje no mesmo local.
Outro que varou as décadas foi o Restaurante Remanso do Tucunaré, do Pedrão. Peixes da região lá são servidos no melhor estilo amazônico.
E os pães da Padaria Raposo? Ao amanhecer ou por volta das três da tarde saíam do forno quentinhos. O velho Raposo foi substituído por Rubens Reimão, seu genro, mas o pão continuou o mesmo. Havia um detalhe curioso: o empreender Rubens teve uma ideia que não combinava com o seu ramo de atividade: numas salas anexas à padaria, abriu um funerária. Havia uma porta que comunicava as duas empresas. Seria o padeiro a mesma pessoa que atuava como agente funerário? Não sei (era, Anizinho?). Só sei que o pão quentinho com manteiga era delicioso.
Havia também uma padaria num local que chamávamos de favela que, salvo engano, era no Morro do Triângulo. De lá, por volta das 2h30 da tarde, descia um padeiro com seu carrinho de mão anunciando, aos gritos, seu pão feito momentos antes: “Padeeeeiiiiiiro!”. E ele mesmo respondia como se tivesse sido chamado por alguém: “Oi!”. O pão doce dele era imbatível para adoçar nossas tardes de então.
Ah, agora senti mais um sabor: o sorvete do Porto Velho Hotel. Nos finais de tarde, era um programa saborear um deles na sacada do velho hotel de nosso passado.
E o rala-rala e os sorvetes vendidos em carrinhos de madeira, quem lembra? Pirulitos (o vendedor os carregava numa tábua cheia de buracos onde os introduzia) , croquetes e umas casquinhas deliciosas, em forma de disco – estas, quem as provou não esquece. Tudo vendido por ambulantes em nossas ruas empoeiradas ou lamacentas dos tempos idos. Imaginem para onde ia higiene... Mas sobrevivemos.
A turma que estudava no Colégio D. Bosco nos anos 1950 e 1960 deve lembrar do irmão leigo Pedro Neck. Ele era responsável pela livraria e papelaria do colégio, na esquina da Gonçalves Dias com D. Perro II, que também vendia guloseimas. Quem recorda das Paciências, biscoitinho daqueles que quanto mais comemos, mais comemos, que ele vendia? Além de Pedro, havia o Álvaro, um cara simpático que mantinha uma pequena banca móvel na frente do colégio. Tudo limpinho e gosto. Servia bolachas de maizena feitas por ele, branquinhas, que se dissolviam na boca. Gostosíssimas.
Mais recentemente, quando já grandinhos, saboreávamos um sanduiche de filé que o Macalé, cara bacana que só ele, servia em seu Bangalô, um simpático bar que foi depositário de tantos bons momentos vividos por nossa melhor sociedade de então. A propósito: cadê você Macalé?!
Abusei das recordações dos sabores gostosos que marcaram nosso passado nativo. Mas além desses, havia outros mais (quem lembra?). Você, caro leitor, já deve estar com água na boca. Mesmo que não tenha vivenciado esse saudoso tempo entre nós, tem razões para reagir assim a esse relato. Porque, nós, que vivemos há muitas décadas na nossa bucólica Porto Velho, temos um passado de dar água na boca. E o lado amargo – perguntarão alguns –, não existiu? Certamente que sim, mas recordá-lo não vale a pena. O gosto que ficou para aqueles que verdadeiramente amam essa terra, continua dando água na boca.
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