Terça-feira, 19 de setembro de 2023 - 09h38
Até que ponto é válido ouvir uma ou mais opiniões de outros médicos
quando se quer avaliar a do médico que nos trata? Essa atitude tem resultados
práticos em favor de nossa saúde, ou pode nos deixar mais angustiados diante de
opiniões divergentes em relação ao mal que nos aflige?
Isadore Rosenfeld, cardiologista e professor de clínica médica do
Cronell Medical Center, no New York Hospital, em seu livro "A Segunda
Opinião", discute a questão e conclui que essa é uma medida acertada em
certas situações: "Sobre muitas doenças, impõe-se ouvir a opinião de um
segundo médico, dado haver, quase sempre, mais de um caminho para a cura".
Mas adverte que não quer com isso dizer que se deva consultar outro médico por
causa de uma doença banal. A segunda opinião estaria reservada para
enfermidades que exigem intervenções de grande vulto, para as que não respondem
satisfatoriamente aos tratamentos instituídos, e para as que deterioram a
qualidade de vida ou que ameaçam sua duração.
Outro ponto de vista médico pode ser solicitado por aquele que atende o
paciente ou pelo próprio paciente, que têm esse direito garantido no estado
democrático e no Código de Ética Médica (Art. 39).
O que levaria o médico assistente a pedir opinião de outro ou outros
colegas seus sobre determinados casos? A falta de conhecimento específico (não
especialista na enfermidade em questão) ou pouca experiência em relação à
doença investigada . Cabe enfatizar que isso não depõe contra a imagem do
médico no que tange à sua competência, mas, isto sim, indica que ele tem
consciência de suas limitações para conduzir o tratamento de seu paciente,
demonstrando ser um profissional ético que quer o melhor para quem está
assistindo.
Quanto ao doente, isso pode ocorrer quando ele não está convencido
completamente se a conduta médica é a mais acertados ou porque tem esperança de
que outro tenha uma opinião que mais lhe convém. Se sua inteção é apenas
esta, cabe uma ressalva importante: o
paciente não deve procurar outro(s) médico(s) apenas em busca uma opinião que
apenas abrande sua condição, fato que reduzirá seu sofrimento
temporariamente, porém poderá trazer-lhe consequências negativas
quanto a seu estado nosológico.
O médico não deve medir esforços para evitar que seu paciente
fique inseguro ante sua conduta. Quem está doente tem direito de ser informado
sobre o próprio estado de saúde. O modo como isso deve ser dito requer bom
senso, conhecimento e didática. É importante que o médico compartilhe com seu
paciente e com seus familiares mais próximos as várias opções de tratamento,
informe sobre os riscos de efeitos adversos e chances de cura. Às vezes, há
mais de uma opção de tratamento para o mesmo mal — especialmente nestes tempos
em que a medicina dispõe de tecnologias cada vez mais avançadas. E ainda: cada
pessoa tem características próprias e a medicina não é uma ciência exata. Nem
sempre o que é bom para um paciente serve para o outro. Hipócrates, o pai da
medicina, ensinou: “Não há doenças, há doentes.
A segunda opinião
pode ser útil, portanto, quando o paciente tem dúvidas sobre o seu diagnóstico
e/ou sobre o tratamento que lhe foi prescrito. Entre os benefícios para
pacientes de obter uma segunda opinião médica, destacam-se: correção e
adaptação de diagnósticos imprecisos, respostas mais completas, maior segurança na abordagem diagnóstica e terapêutica,
ampliação das possibilidades de tratamento, aumento das chances de um bom prognóstico
e maior chance de recuperação mais rápida.
Vale ressaltar que também
o médico que atendeu inicialmente o paciente também pode ser beneficiado pela
opinião de outros colegas seus através de esclarecimentos de dúvidas e troca de
informações com profissionais com mais experiência e especializados, que
proporcionam ampliação de conhecimentos; reforço de diagnósticos assertivos,
correção de diagnósticos equivocados, maior segurança na escolha do tratamento
e compartilhamento de responsabilidade no tratamento escolhido. Em decorrência
de todos esses benefícios, o médico cometeria menos erros profissionais e assim
teria reduzidas as possiblidades de responder processos éticos e na justiça.
Se o profissional é realmente competente e sabe convencer seu paciente
de que está conduzindo seu caso do melhor modo possível, não há motivos para
sairmos por aí nos estressando com versões que podem diferir da primeira
opinião. No mais, corremos o risco de acreditar e até aceitar indicações médicas
mais convincentes que nos satisfaçam naquele momento, mas que podem não ser o caminho mais eficaz e seguro para nossa cura.