Domingo, 25 de março de 2012 - 12h07
Alguns ainda pensarão que farei referência ao câncer, doença temível com fama de não ter cura. Essa assertiva é coisa do passado. A maioria dos cânceres, se detectada precocemente, tem cura. Mas não se pode deixar de dizer que o tema em questão está isento de um parâmetro de comparação com o velho caranguejo com fama de matador.
Trata-se de uma doença social e responde pelo nome de corrupção. Esse fator deletério, que tanto mal faz às sociedades, é presença obrigatória na mídia do mundo inteiro. Não há sequer um dia sem incontáveis escândalos envolvendo corruptos e corruptores. Chega-se a desconcertante conclusão que a corrupção faz parte da vida.
Há poucos dias, a mais importante rede de televisão do país deu destaque a cenas de corrupção em que um repórter se fez passar por responsável pelas compras de um hospital público. O jornalista recebia os fornecedores da instituição de saúde numa sala monitorada por câmeras. Lá, alguns empresários ou seus representantes ofereciam e negociavam propinas. As cenas gravadas, por óbvio, não trouxeram absolutamente nenhuma novidade. Qualquer pessoa medianamente informada sabe que isso acontece costumeiramente nessas circunstâncias.
Com a competência de sempre, a emissora mostrou o que já sabíamos há muitos carnavais. Todavia, há uma observação pertinente a ser feita: a reportagem investigativa mostrou a corrupção sob o enfoque unilateral em que os vilões são os empresários fornecedores, definidos como corruptores. Nesse contexto, dando a clara impressão de que os responsáveis por esses setores eram seduzidos por um irresistível canto de sereia dessas pessoas. Ora, senhoras e senhores, meninos e meninas, quem é que dá propina por prazer de dar? Salvo nos casos, que não são poucos, em que os preços são majorados para embutir as propinas, esse é um fator de redução de lucro – elementar! Quem dá propina o faz com sentimento de revolta por ser coagido a fazê-lo. Por isso, não achei justo mostrar somente um lado da questão. É preciso que a mesma emissora e outras mais mostrem com semelhante explicitação fornecedores sendo acintosamente pressionados por compradores a agir desse jeito. Porque a punição para quem não dá, como se sabe, é o alijamento completo e até retaliação — daí alguns acharem que nessa relação perniciosa a propina é investimento. Caso não tope dar, tendo o incauto algo a receber deverá preparar os glúteos para esperar sentado muito tempo. Em algumas situações, posteriormente é instado a aceitar pagar mais do que o convencional (entre 10 a 20%) para não perder tudo. Quando a conta a receber decorre de negócios feitos com o governo anterior, há quem diga que esse valor pode chegar 50% do total a receber.
Uma coisa é certa: a propósito das competentes ações investigativas e coercitivas dos órgão com essa função, dos constrangimentos produzidos aos envolvido e das perdas que representam a confirmação da participação nesses crimes, a corrupção continuará a provocar danos de toda ordem, e a maioria de seus protagonistas acintosamente continuarão rindo, com ar de espertalhões, da cara daqueles que para ganharem o pão de cada dia precisam esquentar a cabeça e suar muitas camisas. Não seria pessimista prognosticar que essa doença, a corrupção, bem nutrida pelo sistema que aí está, não tem cura. E que aquele que ousar produzir uma vacina que acabe com ela de uma vez por todas pagará caro por sua ousadia.
NOTA DO AUTOR – Aqueles que escrevem e falam sobre corrupção não devem achar que é uma perda de tempo fazê-lo. Se assim fazendo não há esperança de que um dia esse mal tenha cura, muito menos terá se assim não o fizermos. Quem sabe, um milagre...
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