Domingo, 22 de abril de 2012 - 13h53
Foi uma alvissareira notícia para o mundo médico e literário de Rondônia. Em particular para mim, que gravito nos dois. O conceituado urologista Valter Coêlho (o Coelho dele tem acento), lançou recentemente seu livro intitulado “Taquicardia”, dando seu primeiro passo como escritor.
A obra de estreia de Valter Coêlho não veio para caminhar ilesa entre conceitos e preconceitos. Certamente que aqueles que a lerem serão instados a refletir sobre diversos assombramentos que nos espreitam de tocaia nas encruzilhadas da vida.
Ao decidir escrever o que escreveu, Valter lançou-se num perigoso salto de um trapézio do circo existencial sem a proteção da rede que pudesse salvá-lo se sua investida falhasse. Pulou de cabeça, de corpo e alma.
No enfoque autobiográfico da obra, o autor exumou, do mais recôndito de seus abismos vivenciados, lembranças dolorosas tão intensas que fazem o leitor sentir as dores que ele sentiu. Dores que não respondem aos analgésicos comuns nem aos incomuns. Dores que transpassam a alma com um ferro grosso e rombo em brasa.
O desenlace de seus pais quando ele era pouco mais que uma criança, por um motivo que ele contesta até à luz da ciência médica. A injustiça que diz ter sofrido quando foi dado como culpado por um erro médico (só depois foi inocentado pelo Conselho Federal de Medicina). Os encontros com alguns de seus algozes e o sentimento de perdão por quem não lhe pediu perdão. A declaração de amor fraternal a um colega que fora considerado culpado pela morte de um paciente – segundo ele, injustamente também. Relatou, com emoção, que a angustia sentida por esse amigo foi tanta que ele não resistiu e partiu antes da hora vítima de um infarto do miocárdio. Descreveu os dias em ele próprio fitou os olhos da morte, e os sofrimentos atrozes provocados por uma infecção óssea rara após a cirurgia cardíaca que se submeteu.
Valter, em parágrafos longos, ao estilo José Saramago, parece ter escrito seu livro compulsivamente. Como quem tem pressa de vomitar algo que ingeriu e que sabe que lhe está fazendo mal. Ouso deduzir que, para o novo escritor, escrever e publicar sua obra era-lhe uma questão de sobrevivência. Não dava mais para conter em si tantas emoções reprimidas. Homem religioso que é, ao em vez de, vingativo, devolver ao mundo as dores sofridas, preferiu expô-las com dignidade para que outros, diante dos percalços da vida, não se entreguem a amarguras e maldigam até a própria existência. O autor, após muitos instantes em que seu coração acelerou diante do sustos existenciais, preferiu exercitar o perdão, essa virtude maior, que nos liberta da dor do desamor ao próximo.
Valendo-se de sua vasta experiência como urologista, enveredou por assuntos polêmicos relacionados à sexualidade humana a ponto de torná-los mais polêmicos. Você, querida leitora, está pensando em largar seu homem por ciúmes? Não faça isso antes de ler “Taquicardia”. Das duas uma: ou desistirá de fazê-lo ou dirá a Deus e ao mundo que o Dr. Valter Coêlho é um machista que merece ser “crucificado” pelas mulheres. Calma, por favor, não faça nada antes de ler o livro até o final do capítulo sobre o tema. Depois, você decide.
Ao longo das 318 páginas de sua obra de estreia, o colega Valter Coêlho, contido apenas por postulados éticos, desfia, fio a fio, o tecido das vestes que tanto o incomodaram para despir-se dela de vez; repassa conceitos, contesta preconceitos e incita à polêmica. Ao final, declara-se liberto das taquicardias da vida. Não porque perdeu a capacidade de se emocionar, mas porque está quimicamente impedido pelos betabloqueadores que toma diariamente, fármacos que protegem seu coração dessas acelerações. E que espera viver o seu doravante sob o ritmo sereno da bradicardia. Que assim seja.
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