Segunda-feira, 20 de maio de 2013 - 19h51
Os humanos são os únicos seres que têm consciência de sua finitude. Sabem que um dia, mais cedo ou mais tarde, terão de dar adeus definitivo à própria existência.
Na tentativa de viver eternamente, alguns cultivam a crença de que existe vida após a morte, numa dimensão espiritual.
Tenho um amigo que, por via das dúvidas, quer tanto permanecer vivo de alguma forma após sua passagem que fez uma recomendação enfática a seus familiares.
Nada de túmulos de mármore que, segundo ele, enclausurariam ainda mais suas possibilidades de conviver com o que ficou. Ele pediu – e o fez por escrito – que logo após sua inumação, que deverá ser feita sem que nada, além do caixão, separe seu corpo da terra, o plantio, sobre sua sepultura, de um arbusto que produza frutos saborosos – árvores grandes tomariam muito espaço e estimulariam a sanha devastadora dos matadores ambientais.
A decisão de fazer esse pedido lhe invadiu a mente quando sentiu que seus anos já eram muitos e que estava na hora de pensar nesse assunto. Homem agnóstico, nunca acreditou em vida após a morte. Mas também não se conforma em desaparecer de vez, voltar simplesmente a ser pó, sem que nada dele permaneça vivo neste mundo. Ele ama muito a vida para deixá-la completa e definitivamente.
Daí a ideia da árvore para se nutrir do que dele restou. Argumenta que as raízes do vegetal sugarão do solo onde jazerá substâncias e energias emanadas de seus restos mortais. As folhas, através da fotossíntese, alimentarão a vida terrena com oxigênio. Suas sobras estarão também nas demais partes da árvore, como nos galhos, onde passarinhos cantadores alardearão sua alegria de viver, e nos frutos, que podem alimentar e adoçar existências; além da beleza do vegetal que encantará os olhos de quem contemplar o que seria ele reencarnado em outro reino da natureza – fundamenta essa assertiva na chamada Lei de Lavoisier, que enuncia: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
No detalhamento de seu pedido aparentemente inusitado, escreveu que a árvore deve receber seu nome, escrito em uma placa a ser colocada em sua base. Além dessa informação, que a identificará como sendo ela a portadora de sua nova forma de vida, pede que conste na inscrição apenas a data de seu novo nascimento; ou seja, o dia de sua morte. Destacou, ainda, para que não haja dúvida sobre sua pretensão de renascer através da árvore sepulcral, uma observação: antes da data, quer que seja grafada a figura de uma estrela amarela, como um sol. E concluiu seu pedido: ao invés do habitual e funesto “Aqui jaz”, quer que seja escrito “Aqui vive”.
Meu querido amigo, felizmente, ainda não se foi. Porém, boa gente que é, denota já está fazendo planos para ser útil e atuante em sua versão arbórea. Descansar em paz, pelo visto, não é com ele.
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