Domingo, 30 de setembro de 2007 - 11h34
A escola é pouco atraente? Veja o que pensa o professor da USP José Manuel Moran em seu novo livro A educação que desejamos.
José Manuel Moran, é professor de Comunicação na USP. Espanhol, veio para o Brasil com vinte anos de idade como estudante de filosofia e queria se tornar jesuíta. Ele saiu da Espanha no fim da era Franco (1975), e depois de alguns anos morando no Brasil, decidiu ficar por aqui, apesar da família insistir para que ele voltasse para Espanha. Naturalizou-se brasileiro em 1988, e hoje é um dos maiores especialista em inovações na educação no Brasil, propondo novas formas de organizar a aprendizagem presencial e a distância nas escolas, universidades e organizações.
Publicou os livros Novas tecnologias e mediação pedagógica (Papirus) e Mudanças na comunicação pessoal (Paulinas) e em seu lançamento mais recente, A educação que desejamos Novos desafios e como chegar lá (Papirus). O professor Moran chama a atenção logo na primeira frase do livro "A escola é pouco atraente". Com base nesta afirmação, ele traça neste livro um paralelo entre a educação que temos e a que desejamos para nossos alunos, mostrando tendências para um novo modelo de ensino. A obra analisa principalmente as mudanças que as tecnologias trazem para a educação presencial e a distância, em todos os níveis de ensino, sem esquecer o papel que professores e gestores terão que desempenhar nessa revolução.
Em sua sala na Faculdade Sumaré em São Paulo, onde também é Diretor Acadêmico, o professor concedeu entrevista a ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil e declarou que, com o avanço da tecnologia, em poucos anos dificilmente teremos um curso totalmente presencial, também falou sobre a necessidade de uma grande mudança cultural no país e que apesar dos avanços reais no Brasil, ainda estamos distantes de uma educação de qualidade.
ESAB Por que a escola deixou de ser atraente?
Moran - A escola foi feita para uma época em que havia menos disseminação da informação, os especialistas se dedicavam a estudar e repassar as informações para o aluno, à medida que tudo isso foi quebrado com a ampliação e o acesso a informação, a escola continuou a fazer a mesma coisa para um aluno, que hoje, tem o mesmo acesso a esta informação ou até outras que o professor não tem. Os métodos que a escola utiliza são antigos e ainda pertencem ao modelo da sociedade industrial onde tudo está dividido em blocos, horários, modelos relativamente rígidos, que só é interessante para fins organizacionais, e não corresponde a sociedade do conhecimento e da informação que tem facilidade de acesso e mecanismos para flexibilizar tanto o ensino presencial como o virtual.
ESAB - Diante dessa realidade, como a tecnologia pode ajudar a inovar a educação?
Moran - É necessária uma mudança cultural, em toda a sociedade. E essa mudança, é um processo que envolve várias etapas da aprendizagem tecnológica. A primeira etapa é disseminar o acesso a todo o universo da informação e da tecnologia, que muitos no Brasil não têm. E não basta o acesso pontual na escola ou na lan house, mas um acesso contínuo tanto por parte do professor, quanto do aluno. O segundo é o domínio técnico, conhecer e se familiarizar com os recursos novos. Em seguida, vem o domínio pedagógico, ou seja, como eu me aproprio deste conhecimento para aprender mais e modificar os processos. O domínio pedagógico das tecnologias na escola é complexo e demorado. Os educadores começam utilizando-as para melhorar o desempenho dentro de padrões existentes. Algum tempo depois, surgem algumas mudanças pontuais, e só depois de um período mais longo, é que educadores e instituições são capazes de propor inovações e mudanças mais profundas.
ESAB No livro, o senhor aponta que uma das bases para se ter uma educação inovadora é a formação do aluno-empreendedor. Por que este é um campo quase inexplorado?
Moran - Ninguém dá o que não tem, a maioria dos educadores foi formada para reproduzir o conhecimento e não para inovar, a inovação requer mudança de cultura, ou seja, trabalhar com ações voltadas para pesquisa, projeto, práticas na relação professor-aluno e vivência prática, vivência profissional. É necessária mais parceria entre a escola e a empresa. Trabalhar mais com projetos e incentivar o aluno que tem vontade de arriscar a desenvolver o empreendedorismo. O foco para a mudança é desenvolver alunos criativos, inovadores, corajosos. Alunos e professores que busquem soluções novas, diferentes, que arrisquem mais, que relacionem mais, que saiam do previsível, do padrão.
ESAB O senhor afirma no livro que ainda estamos distantes de uma educação de qualidade. O Brasil conseguirá mudar este quadro a curto prazo?
Moran - O brasileiro é muito inquieto e aprende rápido, e apesar de faltar um pouco de organização, o Brasil tem uma estrutura muito mais aberta para mudanças. A Espanha, por exemplo, tem uma estrutura mais sólida, tem tecnologia, teorias, pesquisas e produzem muitos livros sobre pedagogia, na prática, eles ainda são muito conservadores. Por isso acredito que o Brasil avançará mais rápido nas mudanças em comparação a outros países. Estive outro dia com o professor José Pacheco, Diretor da escola da Ponte em Portugal, ele me disse que "o brasileiro não sabe quantas coisas interessantes ele tem. Ele se desvaloriza em relação aos outros modelos que vem de fora".
Fonte: ESAB
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