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A UM VELHO AMIGO – CANÇÃO DA DOR


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A UM VELHO AMIGO – CANÇÃO DA DOR

Autor: PAULO CRUZ RODRIGUES*

                             Lembro-me do dia em que chegaste. Pequenino, indefeso, doente, muito doente.

                          Teus ancestrais não conheci. Nem tu. Na realidade  eras um desses seres que por não disporem de estirpe de nobreza te intitularam de S. R. D. Pomposa essa sigla, não? Todavia, significa o nada. É a definição dada àquele que não são “bem” nascidos.  SRD, No popular, SEM RAÇA DEFINIDA.

                          Companheiro  e amigo, assim mesmo sem SRD te recebi, te cuidei, dei e me deste carinho. Nunca nos separamos a não ser por breves momentos.

                           Nas férias, lembras ? Era uma dureza nossa separação. Enfim, por não poderás nos acompanhar por diversas vezes ficavas aos cuidados de algum hotelzinho até nossa volta. Logo tu que cuidava de todos e de quantas nos livraste e protegeste? Inúmeras, com certeza. Lembro dos hotéis que ficavas hospedado. Amigos teus de todas as estirpes, tu SRD – à merda a estirpe dos amigos, o importante é que também estavas no mesmo hotel dos demais, chic, não? Tratamento e comida idênticos, recomendações de cuidados... todas possíveis. Eras merecedor de todas essas regalias; eras um sobrevivente e  também muito amado.

                           Passaram-se os anos, 10 ao todo. Tal como eu, foste  ficando mais velho. O corre, corre começou, ora remédio, ora clinica especializada, hospital veterinário etc. etc.  Quando retornavas do tratamento, curado, era aquela festa, tua recepção era para todos nós,  principalmente para mim, uma festa.. Não imaginas o quando eu ficava alegre com tua presença. No meu íntimo era o retorno sempre esperado de um amigo.

                            Com os anos passando, foste alquebrando. Tua idade, dizem os entendidos que cada ano teu vale por 6 dos humanos. Logo, por já terem se passado 10 anos, já eras na realidade sessentão, portanto, um quase ancião.  Não eras tão velho assim! Ainda te restavam certos anos, com certeza! Mas o teu estado de saúde não era dos melhores. A vida te pesou mais pela tua origem.

                            Quantas vezes tentei me comunicar contigo e notei que já não escutavas bem. Também essa porra de estirpe pesa...como pesa.

                            Notei também que já ninguém te afagava. Teus pelos estavam caindo. Chagas apareceram. Já não eras mais admirado como outrora. Será que te tinham respeito? Acho que muito pouco.

                            Meu amigo, senti que estavas perdendo a dignidade de viver. Não suportava mais ver o teu olhar distante a fitar o infinito em busca do nada. Olhos embaçados, cansaço e, sabe Deus, quanta dor te afligia. Nada reclamavas. Nenhum gemido, nada, nada... Simplesmente ias levando e esperando não se sabe o quê.

                             Não suportei mais ver-te indefeso, doente, tristonho, calado, sofrido e pior desprezado por quase todos . Não tive outra opção.

                            Enchi-me de forças não sei de onde e pedi o teu último sacrifício.

                            Partiste. Não entendo bem dessas coisas não! Todavia acredito que haja algum lugar onde reencontres outros amigos que de ti se aproximem e te afaguem, único carinho que pedias e que já te estava sendo negado.

                         Adeus RAMBO, meu SRD! Adeus amigo e muito obrigado, obrigado mesmo pelo convívio e as alegrias que me destes.

                             GRACIAS VIEJO!

*Paulo Cruz Rodrigues é guajaramirense, advogado, aposentado do Banco da Amazônia onde exerceu relevantes funções executivas. É morador da cidade de Cuiabá-MT.

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