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Cultura

Arquiteto por profissão, poeta por vocação e matuto por convicção


Sílvio Santos

Paraibano de Campina Grande e filho adotivo de Itabaiana onde reside desde 1983, Jessier Quirino, é hoje, um dos nomes festejados no meio artístico nacional e mais um digno representante da cultura popular nordestina.  Interessado na causa poética e na tradição oral do seu povo persegue fatos e histórias do interior nordestino com olhos e faro de rastejador.

Dono de um estilo próprio - domador de palavras - de uma verve apurada e de um extremo preciosismo no manejo da métrica e da rima, o poeta sabe como ninguém, prender a atenção do distinto público e, desde 1996, quando lançou o primeiro livro, vem defendendo sua poesia a golpes de declamações por todo território nacional.

COMÍCIO DE BECO ESTREITO    Jessier Quirino

 

Pra se fazer um comício

Em tempo de eleição

Não carece de arrodei

Nem dinheiro muito não

Basta um F-4000

Ou qualquer mei caminhão

Entalado em beco estreito

E um bandeirado má feito

Cruzando em dez posição.

 

Um locutor tabacudo

De converseiro comprido

Uns alto-falante rouco

Que espalhe o alarido

Microfone com flanela

Ou vermelha ou amarela

Conforme a cor do partido.

 

Uma gambiarra véa

Banguela no acender

Quatro faixa de bramante

Escrito qualquer dizer

Dois pistom e um taró

Pode até ficar melhor

Uma torcida pra torcer.

 

Aí é subir pra riba

Meia dúzia de corruto

Quatro babão cinco puta

Uns oito capanga bruto

E acunhar na promessa

E a pisadinha e essa:

Três promessa por minuto.

 

Anunciar a chegança

Do corruto ganhador

Pedir o “V” da vitória

Dos dedo dos eleitor

E mandar que os vira-lata

Do bojo da passeata

Traga o home no andor.

  

 

 

 

Protegendo o monossílabo

De dedada e beliscão

À cavalo na cacunda

Chega o dono da eleição

Faz boca de fechecler

E nesse qué-ré-qué-qué

Vez por outra um foguetão.

 

Com voz de vento encanado

Com o VIVA dos babão

É só dizer que é mentira

Sua fama de ladrão

Falar do roubo dos home

Prometer o fim da fome

E tá ganha a eleição.

 

E terminada a campanha

Faturada a votação

Foda-se povo, pistom

Foda-se caminhão

Promessa, meta e programa...

É só mergulhar na brahma

E curtir a posição.

 

Sendo um cabra despachudo

De politiquice quente

Batedorzão de carteira

Vigaristão competente

É só mandar pros otário

A foto num calendário

Bem família, bem decente:

 

Ele, um diabo sério, honrado

Ela, uma diaba influente

Bem vestido e bem posado

Até parecendo gente

Carregando a tiracolo

Sem pose, sem protocolo

Um diabozinho inocente.

 

 

 

 

 

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