Sexta-feira, 26 de junho de 2015 - 17h38
O Festival de Parintins, a maior festa do folclore da Amazônia, completa 50 anos. Até domingo (28), cerca de 60 mil pessoas deverão passar pelo Centro Cultural Amazonino Mendes, o Bumbódromo, segundo o governo do Amazonas. A disputa entre dois bois – o Garantido, na cor vermelha, e o Caprichoso, azul, – movimenta a cidade de Parintins, cuja a população se divide para torcer pelo seu boi preferido.
É o caso da vendedora Cristiane Rodrigues Ferreira, de 35 anos, torcedora do Caprichoso. Ela foi a primeira a chegar à fila do lado azul do Bumbódromo. “É amor ao Caprichoso. Todos os anos ficamos na fila. Aí, este ano eu disse: quero ser a primeira da fila. Toda vez eu sou uma das primeiras, não era a primeira, e este ano eu falei: vou ser a primeira. Primeiro dia, a primeira da fila.”
No lado vermelho da arena, a manauara Karla Souza, de 21 anos, apaixonada pelo Garantido, declara seu amor ao boi. “Sou Garantido desde a barriga da minha mãe. Quando ela engravidou de mim, descobriu em Parintins. Vim quando criança e sempre sonhei em voltar para ver meu boi”. Karla passou dez anos sem ir a Parintins. Moradora de Manaus, ela disse que não poderia deixar de participar da festa de 50 anos do festival. Para isso, viajou mais de 12 horas de barco.
Do lado de fora do Bumbódromo, os técnicos do Caprichoso e do Garantido dão os últimos retoques nas alegorias dos bois, e pelas ruas de Parintins a movimentação é intensa. Desde cedo, os vendedores ambulantes montam suas barracas de comidas, bebidas e artesanatos. Os torcedores dos bois colorem as ruas de vermelho e azul. Todo mundo usa a criatividade para ficar mais bonito na festa, principalmente as mulheres que não abrem mão dos adereços, colares, brincos e cocares na cor do seu boi favorito.
As apresentações começam às 20h. Os portões Bumbódromo abriram às 15h, horário local (16h em Brasília). O Boi Garantido, na cor vermelha, cantando sobre a criação e a celebração da vida na floresta, abre o primeiro dia do festival na noite de hoje, que será encerrado pelo Caprichoso.
O vice-presidente da associação folclórica, Fábio Cardoso, comemora a ordem de apresentação. Segundo ele, ser o primeiro a entrar na arena tem uma certa vantagem. “O Garantido é muito grande, então tem um tempo maior para se preparar para entrar. Quando você é segundo, só tem apenas 30 minutos. Então, por uma questão estratégica, estrutural, a gente entende que iniciar o processo é melhor.”
O Caprichoso tem a expectativa de conquistar o campeonato deste ano, depois de duas derrotas consecutivas. Segundo Rossy Amoedo, vice-presidente do boi, os integrantes estão preparados para uma grande apresentação no Bumbódromo. “O Caprichoso está preparado. Nós estamos no caminho certo, nós estamos unidos. O título é uma consequência”.
O Garantido, 30 vezes campeão do festival, de acordo com os poucos registros oficiais, nasceu de uma promessa feita por Lindolfo Monteverde, fundador do boi, a São João Batista. Sofrendo de uma grave doença, ele disse que se ficasse curado faria anualmente uma festa de boi em homenagem ao santo. O nome Garantido surgiu durante as disputas de rua entre os bois, muito comuns antigamente. Nos embates físicos, a cabeça do boi contrário sempre caía, mas era garantido que a cabeça do boi vermelho continuava firme.
Quando o tambor do Caprichoso rufa, o coração da amazonense Odineia Andrade acelera. Aos 74 anos, 40 deles dedicados exclusivamente ao boi azul, ela é conhecida como a “mãe do Caprichoso”. “Ele já morou na minha casa, oito anos consecutivos, e eu cuidando dele com todo carinho. É um boi que despertou algo dentro de mim, e eu não sei explicar o que eu sinto por ele”, disse. Segundo Odineia, o Caprichoso nasceu em outubro de 1913, do desejo de prosperidade dos irmãos Cid, que deixaram o Ceará para trabalhar na extração da borracha no Amazonas. É exatamente essa Amazônia da esperança que o boi azul vai apresentar no Bumbódromo na noite de hoje.
Segundo o governo amazonense, o investimento na festa dos bois Garantido e Caprichoso foi da ordem de R$ 9 milhões. A verba foi destinada às apresentações, operacionalização e logística dos jurados, iluminação e sonorização da arena.
A partir das 21h, a Rádio Nacional de Brasília transmite o Festival Folclórico de Parintins.
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