Sábado, 29 de novembro de 2008 - 10h32
ENTREVISTA
DIRCEU DE MELLO
Folha de São Paulo
Novo reitor diz que expansão é forma de melhorar a situação financeira da universidade
LEVAR OS CURSOS da PUC-SP para fora de São Paulo é um dos objetivos do novo reitor da universidade, Dirceu de Mello, que assume o posto hoje. A expansão, afirma o professor, é uma forma de captar recursos e de melhorar a situação financeira da instituição, que há três anos cortou 30% dos seus docentes por causa de uma crise econômica.
FÁBIO TAKAHASHI
Professor titular de direito penal da universidade, Dirceu de Mello, 79, conversou com a Folha sobre as propostas para a instituição. Após vencer eleição interna, ele sucederá a Maura Véras à frente da universidade, que conta com 36.500 alunos (graduação e pós-graduação), em cinco campi, todos em São Paulo. A dívida total da PUC é de R$ 314 milhões -o último balanço publicado aponta uma receita líquida anual de R$ 299 milhões. Diferentemente do início da gestão Maura Véras, não há mais déficit mensal. Apesar de ter feito oposição a sua antecessora (sua chapa se chamou Uma Nova PUC), Mello disse que "ela desenvolveu muita coisa interessante, que será preservada e ampliada". Após vencer a eleição interna, Mello teve de ser confirmado pelo cardeal dom Odilo Pedro Scherer. Ele assume para o mandato de quatro anos com seu vice-reitor, Antonio Vico Mañas, professor de administração da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária. Mello, que teve 45,2% dos votos, ganhou nos três grupos da universidade (docentes, alunos e funcionários). Em segundo ficou o atual vice-reitor administrativo, Flávio Saraiva, seguido de Neusa Bastos, assessora da vice-reitoria acadêmica, e Fábio Gallo, ex-vice-reitor.
FOLHA - Quais são as prioridades?
DIRCEU DE MELLO - Em primeiro lugar, sanear os problemas financeiros. E preservar a qualidade acadêmica. Na última avaliação do MEC [Ministério da Educação], a PUC foi bem avaliada, o que é um patrimônio a se preservar [cita indicador que classificou a instituição como a melhor universidade particular do Estado].
FOLHA - Como o sr. avalia a atual situação financeira da universidade?
MELLO - Está sob controle e sendo bem administrada. Agora, precisamos diminuir a dívida e conseguir saldo para melhorarmos a estrutura. Ela é modesta, precisa melhorar. Estamos angustiados.
FOLHA - O sr. pretende fazer mudanças na gestão financeira?
MELLO - Só terei o controle das particularidades após assumir.
FOLHA - Há espaço para crescimento da instituição?
MELLO - A idéia é usar o nome da universidade para fazer parcerias, desenvolver projetos, firmar convênios. A PUC é respeitada no Brasil e até fora do país. Esse potencial precisa ser bastante explorado. Teremos uma central de projetos, para verificar quais são interessantes. Pensamos em levar cursos para outros pontos do Estado e do país. Queremos jogar com nosso potencial.
FOLHA - É uma expansão na graduação, pós-graduação...?
MELLO - Analisaremos com as áreas interessadas. Mas já temos solicitações a respeito para a pós-graduação. Quando eu era diretor da Faculdade de Direito [de 2002 a 2005], tivemos uma proposta interessante do Estado de Rondônia. Projeto preparadinho, para um curso de pós-graduação stricto sensu. Era só conseguir a aprovação aqui. Mas a estrutura que tínhamos dificultou o andamento. Após quase um ano, o projeto foi aprovado, mas já era tarde. O Estado havia fechado acordo com uma universidade do Rio. O mercado exige dinamismo. Já há cursos fora de São Paulo na pós-graduação lato sensu [há em seis cidades, todos na área de direito]. O problema é dinamizar, multiplicar, para não perdermos oportunidades.
FOLHA - Mas a idéia é ter campi da PUC fora de São Paulo, ou seja, novos prédios?
MELLO - Não. Seria parecido com o caso de Rondônia, em que o Poder Judiciário nos colocaria à disposição a parte material, e nós entraríamos com os professores e o nome. Pode ser também com cursos profissionalizantes e lato sensu. São formas de captar recursos.
FOLHA - Haverá ampliação da PUC em São Paulo?
MELLO - Há espaço, principalmente no interior.
FOLHA - Mas o número de vestibulandos tem caído no país e em SP.
MELLO - O que importa é a qualidade do que é oferecido. Temos inúmeras faculdades de direito, por exemplo, mas sabemos quais são as que oferecem a qualidade que será procurada.
FOLHA - Como docente de direito, como o sr. avalia o ensino jurídico no país atualmente?
MELLO - Lamentavelmente, se admitiu a instalação de inúmeras faculdades de direito. É um mal, que envolve também a classe médica. Profissionais sendo colocados no mercado sem qualificação. A remediação tem de vir do Ministério da Educação. Mas eles têm apertado, já reduziu-se o número de alunos em algumas faculdades. É uma medida positiva. Mas é sempre mais difícil fechar a porta. Era mais fácil não deixar abrir.
FOLHA - De que forma essa expansão afeta a PUC?
MELLO - Isso tem de ser analisado. Mas temos de ver também as experiências bem-sucedidas. A [Fundação] Getulio Vargas, por exemplo, há até pouco tempo não tinha curso de direito. Hoje já tem. É mais para área empresarial, mas se amanhã cuidar de áreas que temos aqui, como direito civil e penal, temos de estar preparados. A boa concorrência é legítima, nos força a aumentar o potencial.
FOLHA - Em seu programa de gestão há um item que é contar com a ajuda dos alunos formados na universidade. Como fazer isso?
MELLO - Hoje temos 200 mil ex-alunos. Queremos que eles contribuam, pessoal ou materialmente. São pessoas que precisam ser recrutadas para continuar batalhando pela sua universidade. Queremos fazer um programa articulado. Mas eu e a minha equipe ainda estamos analisando todos esses pontos.
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