Quinta-feira, 19 de setembro de 2013 - 16h23
Em artigo postado na mídia local no mês de julho, afirmei que “o ano de 2013 parece mesmo ser um daqueles anos que temos que esquecer”. Referia-me à pífia performance ou total ausência das instituições públicas responsáveis pela condução da política cultural.
Declarações do Presidente da Assembleia Legislativa de Rondônia, Deputado Estadual Hermínio Coelho, reverberada exaustivamente na imprensa estadual durante esta semana, sobre o desfecho das investigações da Operação Apocalipse, desencadeada pela Polícia Civil, no último mês de julho, só acirrou o cenário de guerra entre a Assembleia Legislativa e o Palácio Presidente Vargas, sede do Poder Executivo Estadual.
Para Hermínio, após analisar o parecer do Ministério Público Estadual, é possível concluir que o Secretário Marcelo Bessa, titular da SESDEC, “comanda uma polícia para perseguir adversários políticos e críticos do Governo". Hermínio conclui sua análise exigindo que Confúcio Moura exonere o Secretário Bessa, ressaltando também que o Governador é o único prejudicado com a Operação Apocalipse, uma vez que toda investigação resultou em denuncia junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), contra Confúcio, por ter sua campanha supostamente financiada pela turma de Beto Baba e Fernando da Gata.
E o que isto tem a ver com o Festival Folclórico de Guajará-Mirim? Tudo. Hermínio, após várias reuniões capitaneadas pelo Empresário Vando Oliveira Vieira, Gerente VW Iluminação, empresa que assumiu organizar o Festival de Guajará, comprometeu-se em ajudar na realização do Duelo da Fronteira, destinando a cada grêmio cultural de bumbá, a generosa importância de um milhão de reais, por meio de emenda parlamentar.
Só para esclarecer, por esta época do Festival Folclórico muito se fala sobre emenda parlamentar, mas muitos desconhecem tal significado. Inicialmente, todos sabem que cada deputado estadual possui, por lei, o direito de destinar emendas (verbas) para suas cidades, instituições ou projetos de seu interesse. Porém, quem bate o martelo final, liberando ou não o dinheiro, é o executivo. Ou seja: neste caso do Festival, o Governador Confúcio Moura.
O fato é que, nesta altura do campeonato, quando já se define o cenário de guerra para se disputar o Governo do Estado, vale usar todo tipo de arma e táticas comuns em guerras imorais, inclusive ludibriar a cultura popular. Prometer grandes somas para o Festival de Guajará, inclusive dinheiro que nunca virá, e depois jogar a culpa no “Governo Caldinho de Piaba” (termo com o qual Hermínio costuma definir a administração de Confúcio), é um bom marketing de autopromoção política. Soa – enganosamente – como atitude nobre de um mecenas: o patrocinador das artes, da cultura e das ciências.
Nas terras da República do Mamoré, berço das duas grandes nações de bumbás que protagonizam o Duelo da Fronteira, continua-se a acreditar que o Governo Estadual irá brindar o Festival de Guajará-Mirim com recursos públicos, como forma de agradecimento e compromisso com a Pérola do Mamoré, pois foi “nestas paragens do poente” que o Governador teve a maior expressão de voto por município. Enganam-se os tolos que acreditam nesta tese.
Durante a solenidade de lançamento do Programa Água Produtiva, realizada no dia 03 julho de 2012, aqui na urbe tupiniquim habitada pelo povo descendente dos bravos guerreiros parecis, Confúcio orientou às diretorias de bumbás, em audível som, que procurassem patrocinadores em outros terreiros, pois o Governo não iria ajudar as associações com auxilio montagem, dinheiro para confecção do espetáculo artístico propriamente dito.
Nesta guerra da ALE e Palácio Presidente Vargas, o descompromisso com a cultura popular é total, nos dois fronts, tanto do lado de Confúcio quanto no lado de Hermínio. É uma guerra política injusta com a cultura popular e as artes, onde o grande vencedor é quem melhor jogar ou encenar (ou enganar) e seduzir a atenção e o futuro voto de artistas, artífices e produtores culturais, sem destinar a estes e aos seus espetáculos um único centavo, nem se quer uma arruela furada.
Vejam o que aconteceu com o tradicional desfile das escolas de samba e blocos carnavalescos de Porto Velho. No carnaval deste ano, escolas de samba que há mais de cinquenta, quarenta e trinta anos desfilavam pelas ruas da capital, silenciaram suas baterias em 2013, por absoluta ausência do poder público estadual e municipal. O silencio das valorosas baterias das escolas de samba da capital rondoniense anunciaram o início do fim da cultura popular em Rondônia.
Vejam o réquiem funesto que foi o Arraial Flor do Maracujá, outrora colossal certamente de cultura popular, inclusive criado pelo próprio Governo do Estado de Rondônia, no qual se expõe, há mais de três décadas, a genialidade criadora de caboclos e beradeiros das terras e barrancas do Rio Madeira, cuja edição de 2013 se traduziu em um verdadeiro vexame agourento.
Para sacramentar o descompromisso com a cultura do Estado, Confúcio já decretou pena capital à Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer do Estado de Rondônia. A extinção da SECEL põe fim aos sonhos do mais otimista de todos os otimistas do campo cultural.
Definitivamente, a guerra travada entre Confúcio e Hermínio resulta em mais uma pá de cal encima do Festival Folclórico de Guajará-Mirim, enterrando, de maneira irreversível, a edição 2013 do Duelo da Fronteira.
Às diretorias das duas nações de bois-bumbás, aos brincantes, artistas, amantes e turistas, que ainda acreditam e sonham com a realização do 19º Festival Folclórico de Guajará-Mirim, restam apenas traduzir a fraqueza em força, o medo em coragem e a derrota em vitória, e partir para realização do Duelo da Fronteira com o que é possível e o que se tem.
Repensar a realização do Festival deste ano, não mais em forma de competição entre bumbás, mas sim, em feitio de um grande protesto artístico e plástico, manifestando a insatisfação da cultura, do artista, do brincante e do turista é o mais eficaz e apropriado neste momento. Desta feita, em 2014, ano de eleição e reeleição, fazer renascer este grande espetáculo de cultura popular, a partir da discussão de um projeto político em favor da cultura popular, do Festival Folclórico de Guajará-Mirim, das escolas de samba de Porto Velho, Costa Marques, Rolim de Moura e Ariquemes, em favor do Arraial Flor do Maracujá e, para finalizar, em favor da identidade cultural de caboclos, beradeiros e de todo povo de Rondônia.
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