Quarta-feira, 13 de setembro de 2023 - 10h03
Mais da metade das capitais brasileiras amanheceram hoje com obras de arte de rua sobre a importância de ter uma mulher negra como ministra no Supremo Tribunal Federal. É a Mostra “Juízas Negras Para Ontem”, que convidou 24 artistas negros a produzirem cartazes que foram distribuídos pelas cidades, transformando as ruas em espaço de exposição democrático, aberto e acessível a todos. As obras a podem ser conferidas e baixadas também no site da exposição.
“Ter uma mulher negra no STF é uma questão de Justiça. Ocupar esse espaço de poder é uma ação de enfrentamento de injustiças históricas e um passo na reparação. Não faz sentido que a suprema corte do poder judiciário nacional não tenha representação equivalente ao que é o povo brasileiro. Desde o período colonial, o Brasil mantém a subalternização e excludência de pessoas negras”, afirma Nina Vieira, diretora de arte que fez a curadoria da mostra e integra o Manifesto Crespo, coletivo que dialoga sobre identidades, gênero e práticas anti-racistas. “As obras que integram esta Mostra não deixam dúvidas que existe uma demanda pulsante na sociedade por mais igualdade de raça e gênero no STF”, completa.
Segundo dados do IBGE, 56% dos brasileiros se identificam como pretos e pardos e quase um terço da população é de mulheres negras (28%). Apesar disso, a mais alta corte brasileira tem permanecido majoritariamente masculina e branca desde sua instalação, em 1891. Nesses 132 anos de existência, o STF teve apenas três ministros negros e três ministras – estas, todas brancas. Nunca um presidente nomeou uma mulher negra para o STF. Essa desigualdade de raça e gênero no Supremo reproduz o que se vê no sistema judiciário brasileiro como um todo: apenas 7% dos magistrados de primeira instância e 2% na segunda instância são mulheres negras.
A recente morte de Mãe Bernardete Pacífico expõe a falta de atenção e cuidado com a população negra, que lidera as estatísticas de pobreza, desemprego, desigualdade salarial, violência, falta de acesso a saúde e a educação, população carcerária e inúmeros outros indicadores de dignidade e qualidade de vida. Como guardiões da Constituição, com poderes até sobre as decisões do Executivo e do Legislativo que desrespeitem a Carta Magna, os ministros do Supremo Tribunal Federal podem ter uma ação muito mais ativa em suas decisões para reduzir desigualdades e injustiças perpetradas pelo racismo estrutural da sociedade brasileira.
Todas as obras que integram a mostra “Juízas Negras para Ontem” foram impressas e afixadas nas ruas, democraticamente apreciadas pela população em geral. Mitti Mendonça, uma das artistas, explica como foi seu processo criativo: “Para a concepção, parti da ideia de ocupar lugares de poder e de decisão, colocando uma mulher negra em uma posição de destaque e em contraponto com uma cadeira vazia, dialogando sobre a importância de termos representantes no STF. A paleta de cores propositalmente remete às da bandeira do Brasil, pois o conjunto estabelece ligação direta com a política, para quem passa na rua já ter essa leitura do que se trata a questão. Além disso, a balança - um dos símbolos da justiça."
A mostra não é uma ação isolada. No último mês, outras ações de movimentos sociais, celebridades e lideranças políticas também demandaram do Presidente Lula essa indicação.
Confira a seguir a relação de cidades e autores:
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Link para as artes em alta definição:
Link para fotos das colagens na Avenida Paulista, em São Paulo:
Link
MINI BIOGRAFIAS DOS CRIADORES
A COISA FICOU PRETA
Gleyson Borges, vulgo a coisa ficou preta, é um artista visual alagoano que cria arte afrocentrada desde 2018, fazendo, através do lambe lambe, intervenções pretas nos muros brancos da cidade.
ALCIDES RODRIGUES
Vive em São Paulo, assina os trabalhos como Amarelo Gráfico, desenvolve projetos de artes gráficas, aplicados estampas de camisetas, murais, publicações e lambe-lambe.
ALISSON DAMASCENO
Artista preto, angoleiro. Transita pelo campo da Arte Contemporânea explorando diversas linguagens. Por meio de ações e objetos busca propor relações entre corpo e presença.
ALMA RETINTA
Nascida em 1995, filha de Andréa Calixto e Renato Alves, neta de Dona Ednéa artesã, a estudante de arquitetura e urbanismo, apaixonada por artes visuais, flores, folhas e estampas, a artista, já encantada pelo mundo das colagens, ingressou no ramo com o objetivo de propagar uma outra realidade visual e sensitiva da população negra, através de sorrisos, corpos expressivos, e principalmente sentimentos, esta ressignifica fotos com novas cores e elementos botânicos.
ARIEL GUEDES FARFAN
Nascido no Recife (PE) e atualmente com 26 anos, Ariel vive em Petrolina (PE). Inicia no cenário artístico do Vale do São Francisco em sua formação no curso de licenciatura em Artes Visuais em Juazeiro (BA). Seu trabalho de pesquisa em arte dialoga com os desafios da contemporaneidade, dentro de suas plataformas e propondo discussões acerca do meio ambiente, relações sociais, de gênero e etnia.
ARTHUR GOMES COSTA
Artista visual, diretor de arte e designer gráfico, nasceu e trabalha em São Paulo. Formado em Publicidade e Propaganda, desenvolve identidade visual, publicações gráficas para instituições culturais e exposições de arte. Atualmente lança uma série de gravuras em risografia intitulada "Tradições do Penteado Yorùbá", pesquisa que reverencia a herança, a origem e os significados de diferentes estilos de penteados com tranças utilizados na cultura afro-brasileira, que hoje conhecemos como trança nagô.
AYALA PRAZERES
Curadora de arte contemporânea, artista visual, figurinista e cenógrafa. Desenvolve no campo da imaginação política pesquisas que tensionam os paradigmas da colonialidade do saber, do ser e do poder numa perspectiva anticolonial. É acadêmica de Artes Visuais pela Universidade Federal do Paraná e atua como curadora independente em instituições culturais internacionais e nacionais. Tendo atuado também como crítica de arte contemporânea no circuito universitário da Bienal Internacional de Curitiba.
CASSIMANO
Pai de Iara Badu, designer e fotógrafo nas horas vagas.
DACORDOBARRO
Manauara, 27 anos, multiartista, trabalha com a poética de imagens de poder incentivando auto estima e pertencimento a partir da arte.
DAISY SERENA
É artista visual, fotógrafa, escritora, mãe, com estudos em Sociologia e Política pela FESPSP. Sua atuação se dá de forma autônoma junto a diversos artistas, coletivos e pautas que lhe fazem sentido no corpo político de mulher negra. É Autora de Tautologias (Padê Editorial, 2016) e participou de diversas exposições e publicações.
LARISSA CONSTANTINO
Larissa nasceu e cresceu em Pernambuco e atualmente mora em São Paulo. Formou-se em Design pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), onde também concluiu o mestrado. Sua pesquisa abordou configurações gráficas em filmes, no grupo de pesquisa Design da Informação do CNPQ. Também passou um ano e meio como estudante visitante na Universidade NSCAD, no Canadá, por meio do programa Ciência sem Fronteiras. Larissa tem mais de 9 anos de experiência em design visual, motion design e ilustração. Atualmente trabalha como designer visual/motion independente.
LETICIA CARVALHO
Nascida em Recife e habitante de Jaboatão dos Guararapes (PE), é facilitadora gráfica desde 2019, designer gráfica, ilustradora freelancer, pintora e grafiteira. Concluiu o curso de
Design Gráfico pelo CCJ Recife em 2015 e desde 2018 é estudante de Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.
MANIFESTO CRESPO
O coletivo discute o corpo negro em seus diálogos estéticos e políticos. Gerido por mulheres negras, fomenta desde 2010 o trabalho de produtoras periféricas, valorizando a diversidade da equipe, que agrega mães, senhoras, lésbicas, transsexuais, imigrantes e homens. Com ações na Casa Crespa SP, sua atuação também se estende pelo norte e nordeste do Brasil e outros países de Abya Yala. Seus projetos educacionais se estruturam em formato de oficina, roda de conversa, contação de histórias, desfile de moda e exibição de filmes em instituições de ensino, centros culturais e organizações comunitárias.
MARCELA BONFIM
Fotógrafa, é formada em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Especialista em Direitos Humanos e Segurança Pública pela Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR), atualmente se dedica ao projeto “(Re)conhecendo a Amazônia Negra: povos, costumes e influências negras na floresta” - projeto de militância e reflexão das artes visuais, no campo da antropologia visual, sobre a constituição e memória da população negra brasileira na região amazônica.
MICHEL CENA 7
Desenvolveu grande parte de sua produção a partir do arranjo entre as artes plásticas e a poesia e do contato com as ruas de São Bernardo do Campo no ABC Paulista. Suas obras podem ser vistas no espaço urbano de diversas cidades. Já participou de exposições em municípios do estado de São Paulo, na capital e em outros países como Estados Unidos, Austrália, Londres e Portugal. Suas obras estão presentes em acervos de museus brasileiros, entre eles a Pinacoteca de São Paulo, o Museu Afro Brasil e a Pinacoteca Municipal de São Bernardo do Campo. Participou da publicação/projeto “Enciclopédia Negra”, com exposição na Pinacoteca do Estado de São Paulo.
MITTI MENDONÇA
Artista têxtil, ilustradora, designer gráfico, escritora e produtora cultural. Participa do circuito latino-americano de feiras gráficas, com publicações independentes, e de exposições em instituições do Brasil e do exterior, como Galeria Ecarta (RS), Museu de Arte do Rio Grande do Sul e Kunstmuseum Wolfsburg (Alemanha). É Co-idealizadora dos projetos Universo, Moda e Arte (UMA), programa de mentorias para artistas razializados e da Feirá gráfica GARGANTA, encontro de artistas e publicadores independentes, em Porto Alegre. É natural de São Leopoldo-RS, 1990. Tem formação nas áreas de comunicação e design.
NAYO
Formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Alagoas, tem extenso currículo em cursos de formação artística, em exposições e experiências. Através de sua arte, celebra o ser feminino e expressa para o mundo a sua essência, subjetividade e os prismas de sua espiritualidade.
ROBINHO SANTANA
Nascido e criado em Diadema, São Paulo, é um artista visual, pesquisador e músico experimental com formação acadêmica em Design e Fotografia. Sua obra é um diálogo contínuo com a necessidade intrínseca de expressar sua conexão com a vida e a rica cultura de seu povo. Em suas criações, Robinho não apenas se identifica, mas também se dedica a retratar de maneira inclusiva e respeitosa os protagonistas da vida cotidiana nas periferias, contribuindo para uma representação plural e autêntica.
SENEGAMBIA
Criada em 2014 pelo designer e artista gráfico Luang Senegambia Dacach Gueye, a Senegambia resgata temas que começaram a ser investigados pelo artista ainda na sua graduação em design gráfico, no ano de 2003: a cultura religiosa afro-brasileira e o combate ao racismo.
SEREIA CARANGUEJO
Oriundo de Macapá (AP), começou sua carreira acadêmica a partir de 2015, quando ingressou no curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Amapá (Unifap), onde se expandiu ainda mais artisticamente e transitou dentre várias vertentes artísticas. Em 2018, após uma experiência artística/espiritual, começou a perceber que as amarras da sociedade prendiam ainda seu corpo de várias formas e principalmente sua relação tão reprimida com o feminino, tendo após isso se buscado e experimentado a vida de uma forma mais livre sem temer o incômodo do outro quanto ao seu corpo. Assim em 2019, se afirmando transgênero, hora não-binário, hora gênero fluído, se experimentando dentro das várias possibilidades de existência e que esse corpo nascido desses ancestrais amazônicos modificando-se através das vestes e da arte. Em 2020 se outorga em Licenciatura em Artes Visuais pela Unifap. Atualmente está cursando a pós de Estudos em Teatros Contemporâneos pelo curso de Licenciatura em Artes Cênicas na Unifap, segue sendo associade à Associação Giramundo e integrando o grupo de Arte e Performance Delas: Ap Delas.
SHEILA SIGNARIO
Mulher negra e moradora da periferia, vem construindo sua história na fotografia clicando os movimentos culturais na periferia da zona sul de São Paulo (Campo Limpo, Capão Redondo, Jd. São Luis, Jd. Ângela). Começou a fotografar em um projeto social “Um Olhar na Favela de Paraisópolis” em 2008 e não parou mais. Atualmente trabalha como fotógrafa e assistente de produção no Espaço Cultural CITA e também desenvolve trabalhos fotográficos autorais.
THAIS DEVIR
Artista, colagista e designer gráfica. Aborda em suas obras questões sobre negritude, pertencimento, tecnologias ancestrais, espiritualidade e afeto. Em suas composições acha importante mesclar todas as suas vivências.
TULIPAS DO CERRADO
Rede que atua com Redução de Danos (RD) e na articulação de uma rede de proteção a profissionais do sexo, trabalhando principalmente com a população de rua e com as profissionais do sexo em situação de rua ou não, trazendo informação e educação em saúde.
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