Sábado, 12 de agosto de 2006 - 07h59
Lapa anos 30: o cotidiano e a intimidade de João Francisco dos Santos - malandro, artista, presidiário, pai adotivo, preto, pobre, homossexual - e seu círculo de amigos, antes de se transformar no mito Madame Satã, lendário personagem da boêmia carioca.
Madame Satã é um mito inexplorado da cultura brasileira, uma maravilhosa síntese de Josephine Baker, Saci Pererê, Jean Genet e Robin Hood dos Trópicos. Com o filme tentei construir o retrato de um personagem explosivo e complexo, um personagem apaixonado, febril, guiado por uma imperiosa paixão pela vida.
Através de uma trama ágil e emocionalmente densa, eu quis revelar o cotidiano de João Francisco e de sua "família", habitantes da "República da Lapa." Esses personagens viveram no início dos anos 30 em um mundo às margens do Brasil oficial, um universo à parte, com suas próprias leis, códigos e rituais, um universo do qual João Francisco foi rei e rainha, santo (a) e satanás.
Uma das minhas intenções foi captar, através de uma intimidade cinematográfica, o entusiasmo e as contradições da experiência de um malandro, negro e homossexual no Brasil do começo do século. Não pretendi uma abordagem biográfica. O meu desejo foi construir diferentes histórias imaginárias dos vários personagens vividos e criados por João Francisco e daqueles que viveram à sua volta, em um momento crucial de sua vida.
O filme foi inteiramente rodado em locações na Lapa e seus arredores. Como um filme que se passa predominante nos anos 30, o figurino e a direção de arte são fiéis à época retratada. Porém, essa fidelidade se manifesta não por uma reprodução minuciosa mas pela sugestão visual de um universo emocional. Um dos meus intuitos foi registrar o calor, a brilhantina, a gordura, o suor e o odor, características fundamentais para a representação do Rio de Janeiro no começo do século.
O luxo, a pobreza, a violência, o lúdico e o trágico convivem em Madame Satã como elementos de um mesmo caleidoscópio. A capacidade de João Francisco em transformar as condições mais adversas em momentos singulares de prazer - estratégia de resistência política e cultural tipicamente brasileira - é a marca registrada do filme.
Prêmio de Melhor Direção no Festival de Biarritz - 2002
Gold Hugo no Chicago International Film Festival - 2002
Prêmios na 28º edição do festival de cinema
ibero-americano de Huelva:
- Colombo de Ouro o melhor longa: "Madame Satã", de Karim Aïnouz
- Colombo de Prata ao melhor ator: Lázaro Ramos, por "Madame Satã" (Brasil)
- Colombo de Prata à melhor fotografia: Walter Carvalho, por "Madame Satã" (Brasil)
- Prêmio Manuel Barba da Associação da Imprensa de Huelva ao melhor roteiro:
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