Quinta-feira, 1 de julho de 2021 - 09h48
Um clássico sobre a globalização na Amazônia
terá sua primeira edição publicada em língua portuguesa pela Editora Valer,
neste sábado (3), intitulado “Viagens pelos rios Amazonas e Madeira: Brasil,
Bolívia e Peru – 1872-1874”, do escritor e engenheiro inglês Edward Davis
Mathews . A tradução ficou por conta do professor Hélio Rocha da Fundação
Universidade de Rondônia – UNIR. O lançamento contará ainda com um bate-papo
mediado pela coordenadora editorial da Valer, a filósofa Neiza Teixeira, o
professor Dante Ribeiro da Fonseca e o tradutor Hélio Rocha, a partir das 10h
no facebook da editora.
O livro pertence ao gênero literário narrativa
de viagem. A obra é produto de uma viagem a trabalho feita por Mathews ao
canteiro de obra da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM), quando da primeira
tentativa de construção dessa ferrovia pela empresa britânica Public Works, entre
os anos de 1872-1874.
“Quando da paralisação da obra, os empregados e
funcionários da empresa retornam para casa e Mathews, em 24 abril de 1874, em
vez de descer o rio Madeira e chegar às cidades de Manaus e Belém, para dali
zarpar para a Inglaterra, decidiu subir as cachoeiras do rio Madeira,
atravessar a Bolívia e o Peru. De Lima, Mathews zarpa de navio para o Panamá e
de lá segue para a sua terra natal”, explicou o tradutor Hélio Rocha.
Ainda segundo o tradutor, a partir das
anotações feitas em seus diários de viagem, suas memórias e experiências em
terras sul-americanas, recheadas de uma “racionalidade prática” (SAHLINS,
2001), em contraposição à suposta ‘irracionalidade’ dos nativos, em especial os
grupos étnicos amazônicos, Mathews escreve e publica o seu relato em 1879 na
Europa.
“Mais de um século e meio depois é que tive o
prazer de elaborar esse processo tradutório que, apesar de todo esse tempo,
acredito ser de grande relevância para os estudos amazônicos em geral. O
processo exigiu criatividade, obviamente, assim como viagens por alguns lugares
às margens do Madeira, do Beni, Mamoré etc. A ideia era sentir o ambiente,
viver aventuras, observar a natureza, as comunidades, em suma, ver de perto o
que fosse possível, mesmo mais de um século depois. Além disso, claro, muitas
leituras e discussões acerca desse empreendimento literário, que é a tradução”.
Ressaltou Hélio Rocha.
Para o tradutor Hélio Rocha, o lançamento que a
Valer faz de obras sobre a Amazônia tem o valor e uma importância histórico-cultural.
"Qualquer estudioso da Amazônia, aqui, na região Norte do Brasil, sabe da
importância desse trabalho praticamente artesanal realizado por esse grupo de
intelectuais. Portanto, ter uma obra publicada e a realização do lançamento da
obra pela Valer é mais que uma honra, é uma possibilidade de ter o
reconhecimento de meu trabalho de forma mais ampla nesse Brasil imenso, porque
a Valer divulga esse material de várias formas", disse.
O professor Dante Ribeiro da Fonseca ressaltou
que o livro de Edward Davis Mathews tem uma importância muito grande para a
Literatura de Viagens na Amazônia, com ênfase no Rio Madeira, apresentando
também uma série de informações sobre a Bolívia nos anos de 1870. Ele
testemunhou o fracasso da primeira tentativa de construção da ferrovia.
"Este livro estava disponível até
recentemente em inglês, graças ao trabalho de tradução do professor Hélio
Rocha, ele se encontra disponível a todos os estudantes e pesquisadores em
língua portuguesa. É um trabalho importante que traz inúmeras informações, que
servem a inúmeras áreas de pesquisa, por exemplo, Geografia, História,
Antropologia e Sociologia", explicou.
Dante Fonseca é professor titular do
departamento de História da Fundação Universidade Federal de Rondônia, possui
doutorado e pós-doutorado pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da
Universidade Federal do Pará. Autor de livros autorais e em parcerias com
outros autores, artigos publicados no Brasil e exterior, lançou recentemente a
obra do território federal do “Corpóreos Estado de Rondônia”, em parceria com o
professor Joao Paulo Viana, e também, com a professora Geralda Angenor, a
“Pequena história e lendas das Colônias dos índios Mores da Bolívia”.
Processo
Tradutório
O processo tradutório foi bastante instrutivo,
lúdico, e exigiu de mim muitas horas diárias de trabalho, fosse traduzindo,
lendo ou visitando alguns lugares históricos por onde passou o engenheiro
Edward Mathews.
“Como estou residindo em Porto Velho, pude
fazer várias visitas aos trilhos da antiga EFMM, entrar em locomotivas
abandonadas, visitar pontos importantes, como a Vila de Santo Antônio, a
estação de Abunã, a do Lata, a de Murtinho; fui a Guajará-Mirim etc. Tudo isso
com a intenção de encher o meu espírito do vigor dessas paragens repletas de
subjetividades e na esperança de que esses ‘sujeitos’ interagissem comigo,
quero dizer, que o meu ser entrasse em sintonia com todos esses mundos que
compõem o meu mundo”. Explicou o tradutor Hélio Rocha.
Pode até parecer insanidade, se visto a partir
de concepções europeias de mundo. Mas eu já aprendi a me posicionar na condição
de sujeito-tradutório-amazônida – quando possível – sob o viés de um “realismo
empírico” – tomando emprestado esse norte teórico-interpretativo de Sahlins em
“Como pensam os nativos” (2001).
“Por que esse olhar amazônico é importante num
processo tradutório? Porque se traduz com mais amor, com mais veracidade,
justiça, humanidade, respeito pelo Outro, seja esse outro o viajante, seja o
nativo etnografado, seja a geografia do mundo amazônico, os costumes e modos de
viver e sonhar dessas inúmeras comunidades étnicas que estão espraiadas no
relato de Mathews”. Ressaltou Hélio
“Existe um mundo de material sobre o
empreendimento da EFMM para ser estudado: romances, relatórios, mapas,
fotografias, relatos de viagem etc. Acredito que, mesmo diante de toda as
dificuldades que as Ciências Humanas vêm enfrentando – da falta de incentivo
aos cortes de financiamento para a realização de pesquisas, dentre vários
outros gargalos – ter uma obra traduzida para o português do Brasil é um grande
feito e demonstração de que a educação, o ensino, é a base de uma sociedade e
de uma humanidade feliz, realizada”.
Não somente a historiografia da EFMM ganha com
essa tradução. As sociedades rondoniense e brasileira podem ter acesso ao
relato “Viagens pelos rios Amazonas e Madeira” e se conscientizarem da
importância da nossa história para as futuras gerações. Acrescentou o tradutor.
Helio Rodrigues Rocha é amazonense, filho do
rio Purus. É professor-pesquisador na Universidade Federal de Rondônia, na
cidade de Porto Velho, onde reside desde o Natal de 1993.
Sobre o
autor
Edward Davis Mathews é natural de Plymouth,
Inglaterra. E o pouco que sabemos de sua vida é que era engenheiro e trabalhou
na Venezuela e depois na Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
Sobre o
livro
“Viagens pelos rios Amazonas e Madeira” é um
livro que se enquadra nos relatos de viajantes pioneiros, que viram nas regiões
desconhecidas um parâmetro para comparar com os seus lugares de origens, neste
caso, Brasil, Bolívia e Peru com a Inglaterra, e como um itinerário para os
aventureiros que se arriscavam em viagens por ambientes ainda inóspitos e
desconhecidos.
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