Terça-feira, 12 de março de 2013 - 16h07
A opinião é unânime, inclusive por parte da Prefeitura: A Lei Complementar 190, que regulamenta os grandes eventos de Porto Velho, precisa ser reformulada, pois só atende a princípios capitalistas e não de fomento à cultura. A aplicação da Lei foi tema de uma audiência na tarde desta segunda-feira (11) na Câmara Municipal de Vereadores e foi proposta pelo vereador Everaldo Fogaça (PTB).
A reunião contou com a presença de jornalistas, Prefeitura Municipal, promotores de eventos e vários dirigentes carnavalescos, um dos segmentos que mais sofrem com a aplicação da Lei. Bitributação, cobrança de taxas abusivas, interferência extrema de órgãos nas ações culturais do município, foram algumas das situações denunciadas na audiência que ocorrem por causa dessa Lei.
Pela parte do município, a Semfaz – Secretaria Municipal de Fazenda e a Semtran – Secretaria Municipal de Trânsito – foram apontadas como as vilãs dos grandes eventos da capital. Por conta da Lei, as duas secretarias ganharam muitos poderes e foram responsáveis diretas pelo engessamento dessas atividades. A interferência da Polícia Militar e dos Bombeiros também foi alvo de críticas.
“Quem mandou esse ano no carnaval foi a Semtran”, disse o carnavalesco e jornalista Silvio Santos. Por outro lado, a própria presidente da Fundação Cultural disse que passou por constrangimento ao autorizar a folia do Carnaleste, mas foi simplesmente ignorada pela Polícia Militar que deu ordens para que o trio elétrico não saísse da concentração.
O advogado Ernandes Segismundo classificou a Lei como Mastodôntica e se colocou à disposição da Fundação Iaripuna em elaborar uma nova Lei Municipal de grandes eventos com base nos artigos 215 e 216 da Constituição Federal e que atenda realmente ao fomento da cultura. “Essa Lei 190 não serve para a nossa cultura”, defendeu.
Segismundo, que já foi ex-presidente da Uniblocos de Porto Velho, elogiou a iniciativa do vereador Everaldo Fogaça na proposição de uma audiência para a discussão da cultura. “São raros os parlamentos que se dispõe a discutir o segmento. A propositura é oportuna e estamos em um momento raro onde poderemos mudar essa questão cultural”, ressaltou.
A maioria dos dirigentes carnavalescos presentes à sessão disse que além da tributação excessiva e intervenção sistemática de órgãos estranhos ao carnaval, há ainda a burocracia. Segundo ele, enquanto no Rio de Janeiro, que possui 495 blocos carnavalescos a Prefeitura pede 4 documentos, em Porto Velho, se pede mais de trinta. “Que tipo de fiscalização, por exemplo, de uma Delegacia de Jogos e Diversões é realizada em um desfile de carnaval?”, questionou.
A Câmara deverá criar em breve uma comissão temática sobre cultura, segundo o presidente Alan Queiroz (PSDB).
Ao ter o uso da palavra, o vereador Everaldo Fogaça ressaltou que vai lutar pela aprovação de uma Nova Lei de Grandes Eventos, mas deixou claro que vai exigir, em primeiro lugar, que haja sempre a manutenção da segurança em todos os eventos. “A gente sabe que a lei está fora da nossa realidade, mas não vamos a pretexto disso aprovar outra Lei que seja negligente com a segurança do público”, finalizou.
Dentre os convidados estavam presentes à reunião, o Presidente da Unibloco, Benjamim Mourão; o presidente do bloco Maria Fumaça, José Joaquim dos Santos (Zezinho) e a presidente da Iaripuna – Jória Batista que salientou que com a aplicação da lei 190 não há como promover, garantir e nem valorizar a cultura no Estado. “Não cabe ao Ministério Público interferir em questões como a de realização de eventos. Acredito que eles já tenham um volume de processos muito grande para dar conta. É mais um problema para eles e para nós. Precisamos rogar a competência à quem compete”, frisou Jória.
Nas considerações finais a representante da Semfaz, Milcelene Bezerra Vieira, declarou que encaminharia todas as reivindicações, críticas e sugestões debatidas na audiência ao secretário Marcelo Hagge Siqueira. “A Câmara de Vereadores é o órgão correto para discutir essa questão. Eu entendo que isso é o início de um grande debate que precisa ser feito em outras oportunidades. Nós como fiscais vamos continuar realizando nosso trabalho de forma correta e adianto que não podemos fazer o que a lei não permite”.
Não compareceram à reunião representantes do Ministério Público, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar. Fonte: Ascom/Câmara Municipal
Data D.O.: 06/07/2004
Autoriza o Executivo Municipal a regulamentar eventos de grande porte no Município de Porto Velho e dá outras providências. O Prefeito do Município de Porto Velho, usando da atribuição que lhe confere o inciso IV do art. 87 da Lei Orgânica do Município.
Faz Saber que a Câmara Municipal aprovou e eu sanciono a seguinte Lei Complementar:
CAPÍTULO I - DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1º A promoção e realização de eventos de grande porte, com ou sem finalidade lucrativa, em espaços públicos ou privados, ficam condicionadas às disposições presentes nesta Lei.
Art. 2º Para efeitos desta Lei, considera-se:
I - Evento de grande porte: todo e qualquer evento de natureza artística, cultural, promocional, religiosa, esportiva e outros assemelhados, a serem realizados em:
a) Local fechado com capacidade de público igual ou superior a 1.000 (mil) pessoas;
b) Local aberto delimitado fisicamente com capacidade de público igual ou superior a 2.000 (duas mil) pessoas.
II - Empresa locadora: pessoa jurídica ou física, proprietária, locatária ou concessionária do direito de uso de espaço apropriado para realização do evento de grande porte;
III - Empresa promotora: pessoa jurídica ou física que promover a realização de eventos;
IV - Alvará de licença: instrumento de licença para funcionamento, de caráter definitivo ou renovável a cada 12 (doze) meses, concedido às empresas locadoras;
V - Alvará de licença para localização temporária: instrumento de licença de caráter precário, temporário e específico concedido às empresas promotoras, válido a cada evento de grande porte que venha a se realizar;
VI - Espaços públicos abertos: os bens de uso comum do povo, tais como parques, praças, jardins, estádios, ginásios e ruas;
VII - Espaços públicos fechados: os bens de uso especial, tais como edifícios, terrenos e equipamentos aplicados em serviços públicos; VIII - Espaços privados: os bens, abertos e fechados, de propriedade particular.
Parágrafo único. É vedada a realização de vento de qualquer natureza em espaços públicos, abertos ou fechados, à exceção daqueles que forem especificamente autorizados em decreto regulamentador.
CAPÍTULO II - DA COMISSÃO DE ANÁLISE DE EVENTOS DE GRANDE PORTE
Art. 3º Fica criada a Comissão Permanente de Análise de Eventos de Grande Porte, composta por 07 (sete) representantes:
I - Secretaria Municipal de Cultura e Esporte - SEMCE;
II - Secretaria Municipal de Fazenda - SEMFAZ;
III - Secretaria Municipal de Saúde - SEMUSA;
IV - Secretaria Municipal de Meio Ambiente - SEMA;
V - Secretaria Municipal de Planejamento - SEMPLA;
VI - Procuradoria Geral do Município - PGM;
VII - Câmara Municipal de Vereadores.
§ 1º Os representantes dos órgãos mencionados nos itens I a VI, pertencentes aos quadros funcionais, serão indicados por seus respectivos titulares.
§ 2º O representante da Câmara Municipal de Vereadores será indicado por seu Presidente.
Art. 4º Compete à Comissão:
I - Conferir e analisar a documentação apresentada pela empresa promotora;
II - Proceder às diligências que julgar necessárias;
III - Elaborar seu Regimento Interno;
IV - Decidir sobre casos omissos;
V - Emitir parecer final, devidamente fundamentado, deferindo ou indeferindo o pedido.
§ 1º A decisão que indeferir o pedido poder´s ser revista pela Comissão desde que comprovado pela empresa promotora que o motivo que determinou o indeferimento tenha sido sanado, observados os prazos estabelecidos no art. 6º, caput.
§ 2º A comissão decidirá pela maioria dos membros presentes.
CAPÍTULO III - DO LICENCIAMENTO
Art. 5º Para realização de eventos de grande porte em local fechado, com capacidade de público igual ou superior a 1.000 (mil) pessoas, é suficiente que a empresa locadora esteja devidamente licenciada junto ao Município com alvará para o ramo de Produção e Organização de Espetáculos Artísticos e Eventos Culturais, de caráter definitivo, mas renovável a cada 12 (doze) meses.
§ 1º O alvará de licença poderá, a qualquer tempo, ser cancelado e o estabelecimento interditado, desde que constatadas irregularidades ou deficiências que comprometem a segurança.
§ 2º O estabelecimento interditado somente reabrirá suas portas ao público depois de sanadas as irregularidades ou deficiências.
§ 3º O alvará de licença é pré-requisito indispensável para que o estabelecimento inicie suas atividades e a sua falta será razão suficiente para autorizar o Município a exercer seu poder de polícia, interditando-o sem prejuízo das penalidades cabíveis.
Art. 6º Para realização de eventos de grande porte em local fechado, com capacidade de público igual ou superior a 2.000 (duas mil) pessoas, a empresa promotora deverá, com antecedência mínima de 20 (vinte) dias da data prevista para o evento, protocolar junto à Secretaria Municipal de Fazenda - SEMFAZ, requerimento solicitando a expedição de alvará de licença pára localização temporária para realização do evento, o qual será instruído com os seguintes documentos:
I - cópia do contrato social, declaração de firma individual ou estatuto;
II - cópia do atestado de validade, do comprovante de inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas - CNPJ;
III - certidão de regularidade fiscal, municipal, estadual e federal;
IV - alvará de licença da empresa locadora;
V - cópia do contrato de locação ou autorização da empresa locadora para a realização do evento;
VI - certificado de vistoria expedido pelo Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de Rondônia, do qual deverá constar:
a) a capacidade máxima do público do espaço onde se realizará o evento;
b) as características do local, com especificação dos equipamentos e adaptações necessárias à segurança do público.
VII - cópia do contrato de locação de serviços celebrado entre a empresa promotora e a empresa especializada, objetivando a contratação de seguranças para o evento, que não poderá ser inferior a 1% (um por cento) do público recomendado no Certificado de Vistoria previsto no inciso VI;
VIII - cópia do pedido formulado junto à Secretaria de Segurança Pública do Estado de Rondônia, solicitando policiamento ostensivo para a data do evento;
IX - certidão fornecida pela Vara da Infância e da Juventude da Comarca de Porto Velho, informando a faixa etária autorizada a participar do evento;
X - cópia de apólice de seguro contra risco de incêndios, das edificações e instalações de todo o espaço do evento;
XI - cópia de apólice de seguros de danos pessoais de visitantes, freqüentadores, expositores, servidores públicos e trabalhadores em serviços.
§ 1º Após devidamente autuado, o requerimento será encaminhado à Comissão de Análise de Eventos que, à vista dos documentos apresentados, emitirá ou não seu parecer.
§ 2º Considerados satisfeitos os requisitos dos incisos I a XI, o pedido com parecer fundamentado será encaminhado à Secretaria Municipal de Fazenda, para recolhimento do Imposto Sobre Serviços - ISS, e emissão do alvará de licença para localização temporária.
§ 3º O alvará de licença para localização temporária será expedido pela Secretaria Municipal de Fazenda, com prazo mínimo de 30 (trinta) dias antes da realização de evento.
§ 4º O alvará de licença para localização temporária é pré-requisito indispensável á realização do evento e sua falta será razão suficiente para autorizar o Município a exercer seu poder polícia para impedir, de qualquer forma, a sua realização.
Art. 7º É também pré-requisito indispensável que a empresa locadora seja licenciada pelo Município com alvará de licença para o ramo de produção e organização de espetáculos artísticos e eventos culturais, de caráter definitivo, mas renovável a cada 12 (doze) meses.
CAPÍTULO IV - DA PUBLICIDADE
Art. 8º A empresa promotora de evento não poderá iniciar a veiculação de publicidade, confecção dos ingressos e sua comercialização, sem a obtenção prévia do alvará de licença para localização temporária de que trata esta Lei.
§ 1º O material publicitário e os ingressos deverão conter:
I - a razão social da empresa promotora do evento, com endereço, telefone, número de inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas - CNPJ e número de inscrição Municipal;
II - indicação do número do alvará de licença para localização temporária;
III - capacidade máxima para o local;
IV - faixa etária autorizada pela Vara da Infância e da Juventude, V - data, horário e local autorizado para a realização do evento.
§ 2º A quantidade máxima de ingressos a ser confeccionado, incluindo-se os convites e cortesias, não ultrapassará o limite de pessoas estabelecido no Certificado de Vistoria expedido pelo Corpo de Bombeiros.
§ 3º A numeração dos ingressos será seqüencial, respeitada a capacidade máxima prevista no alvará.
Art. 9º Será obrigatória a afixação de placa indicativa nos locais de acesso do evento, bem como nos locais de evento de ingressos, com as mesmas informações relacionadas nos incisos I a V do artigo anterior.
CAPÍTULO V - DAS PENALIDADES
Art. 10. O descumprimento ao previsto na presente Lei, ensejará na aplicação das seguintes penalidades para as empresas organizadoras e promotoras:
I - multa pecuniária mínima de R$ 1.000,00 (um mil reais) por evento, ou até o máximo de 10,00 (dez reais) por pessoa presente no evento, de acordo com a natureza e gravidade da infração cometida, importância que duplicará no caso de reincidência;
II - interdição e/ou embargo do evento a qualquer tempo;
III - impedimento, por 2 (dois) anos, para a realização de novos eventos;
IV - cassação dos alvarás das duas empresas, a ser aplicada quando da continuidade da infração, após a interdição e/ou embargo.
§ 1º As penalidades previstas neste artigo poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, sem prejuízo das sanções de caráter civil e criminal.
§ 2º Responderá pelas infrações quem, por qualquer modo as cometer, concorrer para a sua prática ou delas se beneficiar.
§ 3º As penalidades serão aplicadas sem prejuízo das que, por força de lei, possam ser impostas por autoridades federais ou estaduais.
§ 4º Fica assegurado aos infratores o direito de ampla defesa, que deverá ser exercitado no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, sem efeito suspensivo.
CAPÍTULO VI - DAS DIPOSIÇÕES FINAIS
Art. 11. Para eventos com público inferior ao disposto no art. 2º, inciso I, alíneas "a" e "b", o alvará de licenciamento será emitido pela Secretaria Municipal de Fazenda (SEMFAZ) nos termos da legislação vigente.
Art. 12. Não se aplica o disposto nesta Lei:
I - jogos de futebol realizados em estádios destinados a esse fim obedecidas às disposições contidas no Estatuto do Torcedor - Lei Federal nº 10.671, de 15 de maio de 2003;
II - a jogos, individuais e coletivos, realizados em ginásios de esporte;
III - a reuniões realizadas nas dependências de clubes sociais legalmente constituídos;
IV - a cultos ou eventos religiosos quando realizados em templos destinados a esse fim;
V - a reuniões, convenções ou comícios políticos, obedecidas as restrições contidas no Código Eleitoral - Lei Federal nº 4.737, de 15 de julho de 1965 e legislação complementar.
Art. 13. A empresa promotora será responsável pela manutenção da ordem e o respeito à moral e aos bons costumes, no interior do imóvel onde se realizar o evento.
Art. 14. O cumprimento do horário estabelecido na autorização para o evento é de responsabilidade dos organizadores e promotores do evento.
Art. 15. A fiscalização dos eventos será realizada pelos órgãos representados na Comissão de Análise de Eventos de Grande Porte, criada pelo art. 3º desta Lei.
Art. 16. Esta Lei será regulamentada no prazo de 30 (trinta) dias, contados de sua publicação.
Art. 17. Esta Lei entra em vigor na data da sua publicação.
Art. 18. Revogam-se as disposições em contrário.
CARLOS ALBERTO DE AZEVEDO CAMURÇA
Prefeito do Município
RANILSON DE PONTES GOMES
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