Quarta-feira, 2 de agosto de 2023 - 18h07
A forte queda da inflação fez o Banco Central
(BC) cortar os juros pela primeira vez em três anos. Por 5 votos a 4, o Comitê
de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic, juros básicos da economia,
em 0,5 ponto percentual, para 13,25% ao ano. A decisão surpreendeu o mercado
financeiro, que esperava um corte de 0,25 ponto.
Votaram por uma redução de 0,5 ponto percentual
o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e os diretores Ailton de Aquino Santos
(Fiscalização), Carolina de Assis Barros (Administração), Gabriel Galípolo
(Política Monetária) e Otávio Damaso (Regulação). Votaram pelo corte de 0,25 ponto percentual
os diretores Diogo Guillen (Política Econômica), Fernanda Guardado (Assuntos
Internacionais), Maurício Costa de Moura (Relacionamento, Cidadania e
Supervisão de Conduta) e Renato Dias Gomes (Organização do Sistema Financeiro).
A última vez em que o BC tinha reduzido a Selic
foi em agosto de 2020, quando a taxa caiu de 2,25% para 2% ao ano. Depois
disso, o Copom elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo que começou em
meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis, e, a partir
de agosto do ano passado, manteve a taxa em 13,75% ao ano por sete vezes
seguidas.
Antes do início do ciclo de alta, a Selic tinha
sido reduzida para 2% ao ano, no nível mais baixo da série histórica iniciada
em 1986. Por causa da contração econômica gerada pela pandemia de covid-19, o
Banco Central tinha derrubado a taxa para estimular a produção e o consumo. A
taxa ficou no menor patamar da história de agosto de 2020 a março de 2021.
Inflação
A Selic é o principal instrumento do Banco
Central para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em junho, o indicador ficou
negativo em 0,08% e acumula 3,16% em 12 meses . Nos últimos dois meses, a
inflação vem caindo por causa dos alimentos e dos combustíveis.
O índice fechou o ano passado acima do teto da
meta de inflação. Para 2023, o Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou meta de
inflação de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA,
portanto, não podia superar 4,75% nem ficar abaixo de 1,75% neste ano.
No Relatório de Inflação divulgado no fim de
junho pelo Banco Central, a autoridade monetária estimava que o IPCA fecharia
2023 em 5% no cenário base. A projeção, no entanto, pode ser revista para baixo
na nova versão do relatório, que será divulgada no fim de setembro.
As previsões do mercado estão mais otimistas
que as oficiais. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com
instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o
ano em 4,84%. Há um mês, as estimativas do mercado estavam em 4,98%.
Crédito mais caro
A redução da taxa Selic ajuda a estimular a
economia. Isso porque juros mais baixos barateiam o crédito e incentivam a
produção e o consumo. Por outro lado, taxas mais baixas dificultam o controle
da inflação. No último Relatório de Inflação, o Banco Central projetava
crescimento de 2% para a economia em 2023.
O mercado projeta crescimento maior,
principalmente após a divulgação de que o Produto Interno Bruto (PIB, soma das
riquezas produzidas) cresceu 1,9% no primeiro trimestre . Segundo a última
edição do boletim Focus, os analistas econômicos preveem expansão de 2,24% do
PIB em 2023.
A taxa básica de juros é usada nas negociações
de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e
serve de referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la
para cima, o Banco Central segura o excesso de demanda que pressiona os preços,
porque juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
Ao
reduzir os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o
consumo, mas enfraquece o controle da inflação. Para cortar a Selic, a
autoridade monetária precisa estar segura de que os preços estão sob controle e
não correm risco de subir
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