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Exclusivo – DIÁRIO NA VENEZUELA – Episódio 2 - Por André Sório


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EPISÓDIO 2 – 05 DE FEVEREIRO DE 2019

“A Venezuela vive mergulhada em uma hiperinflação. É até difícil explicar. Dizem por aqui que está na faixa de 4% ao dia - praticamente a inflação do Brasil de um ano todo. É impressionante e irracional.

Decidi não tentar entender melhor isso para ocupar meu cérebro (e meu tempo) com outros assuntos.

Hoje quero falar da pecuária venezuelana, mais especificamente da via crucis para se vender boi gordo ou leite.

A emissão do documento equivalente à Guia de Trânsito Animal brasileira, a GTA, é eletrônica, seguindo padrões modernos. Pode ser feita de casa, via Internet.

Mas a facilidade termina ai. Para que o pecuarista possa movimentar os animais, a ‘GTA’ precisa de uma autorização (um danado de um carimbo). Ai complica e muito. Burocracia pura. E sabemos como isso funciona (na verdade, não funciona).

Na venda de animais para abate em um frigorífico qualquer, esta autorização só é concedida se o governo puder comprar 30% da carga a um valor tabelado que corresponde a menos da metade do preço de mercado. Acreditam nisso?

Pois é. Pode-se até tentar vender o boi sem o carimbo, mas nenhuma grande empresa se arrisca a comprar. As implicações negativas são muitas.

Tem até uma ‘GTA’ para venda de queijos e lácteos. E adivinhem quem fica com os 30%? É a mesma regra (uma lei federal) da venda do boi.

Também há limitações regionais para o trânsito de bovinos. Em alguns casos é mais proibição do que propriamente uma limitação. No estado Apure - onde estou - a exigência é de que os animais aqui nascidos sejam abatidos no único frigorífico existente.

Problema: a remuneração do produtor é equivalente a 25% do que é pago por frigoríficos de outros estados.

Observe como o pecuarista tenta driblar isso: para cada lote abatido aqui, são liberados carimbos (aqueles malditos, da ‘GTA’)   que autorizam a transferência de animais de recria para outros estados. Sendo assim, os ganaderos abatem vacas de descarte localmente e transferem os machinhos para terminação em outro estado, onde será mais bem remunerado.

Hoje as fotos mostram os efeitos de uma seca, que já dura três meses, sobre o pasto de uma fazenda aqui da região de Apure e a reserva de feno de capins tanner grass e humidicola, alternativa para alimentação dos animais”.

Autor - André Sório – engenheiro agrônomo e consultor agropecuário – andre.sorio@uol.com.br


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