Flakes: como a venda despretensiosa de doces deu origem à confeitaria milionária

Em 2016, quando Leonardo Borges buscava, por meio de tutoriais na internet, descobrir como se produziam alfajores, que pretendia vender na faculdade, a intuição já lhe dizia que sua primeira empreitada na confeitaria seria bem-sucedida se atraísse a clientela universitária pelos olhos antes de conquistá-la pelo sabor.

Por mais que a ideia inicial fosse a de gerar uma renda extra para ajudar a custear o curso de medicina, o jovem tinha muito zelo na hora de preparar a guloseima feita de biscoitos recheados de doce de leite cobertos de chocolate. Esse carinho, herdado da mãe e sócia, Laura, que com frequência produzia doces em casa, mudaria drasticamente a rota profissional de Leonardo em pouco tempo.

Na cozinha modesta da família, em Porto Velho, capital de Rondônia, os Borges aumentaram o portfólio açucarado da futura marca com um toque norte-americano, criando combinações divertidas de cores e sabores, sempre com ingredientes de qualidade, e passaram a vender seus produtos por meio de uma loja online. Da parceria entre mãe e filho, surgiu a Flakes.

A conquista da clientela, dessa vez por intermédio das redes sociais, crescia intensamente. Sob a direção astuta e autodidata de Leonardo, os doces da dupla viralizavam na internet por todo o Brasil e até no exterior. Fato é que, mesmo depois de formado, o médico trocou o estetoscópio por tigelas, medidores e espátulas. Abriu sua primeira loja física na cidade em 2018, com 100 m².

A confeitaria, que já era sensação em Porto Velho, ganhou mais apelo internacional depois que a princesa do Pop, Britney Spears, repostou em março de 2022 um dos ovos de Páscoa do Instagram da marca. O ovo de colher Dragê, recheado com brigadeiro e decorado com granulado de miçangas coloridas crocantes, foi rebatizado de Ovo Pop Star em homenagem à cantora.

Em abril deste ano, a Flakes atravessou o país para dar o início ao seu projeto de expansão, investindo 1 milhão de reais em uma loja-conceito no Itaim-Bibi, em São Paulo. Instalada no térreo de um prédio comercial, a loja, de 300 m², dividida em dois andares é assinada pela arquiteta Sarah Penido, que garantiu os cantinhos instagramáveis — inclusive um cenário no meio do salão com um conversível vintage da Porsche na cor verde pistache. A confeitaria virou sucesso nas redes sociais e os doces continuam sendo objetos de desejo.

Em média, 5 mil pessoas passam por ali todo mês. A segunda unidade paulistana, aberta em agosto no Brooklin, oferece o mesmo menu e funciona no sistema de delivery e retiradas, além de ser a fábrica e espaço de criação para os lançamentos. A marca chega a vender por mês cerca de 20 mil unidades de doces variados nas três unidades. Entre os carros-chefes da marca está o éclair cravejado de pedacinhos de pistache californiano, recheado de uma levíssima musse de leite, geleia de frutas vermelhas, ganache cremosa de pistache da própria marca (batizada de flakestacchio) e morangos frescos — sobremesa feita na hora, que, equilibrada no dulçor, traz ao paladar uma explosão de sabores.

O portfólio conta com cerca de 60 produtos, entre os quais se incluem outros best-sellers, como a famosa “coxinha” de morango coberto de brigadeiro de chocolate belga e o croissant recheado de brigadeiro de pistache. A confeitaria também disponibiliza croissants com recheios salgados para rápidas refeições, além de bolos e doces sob encomenda para festas e datas comemorativas.

Em apenas seis anos de história, a Flakes registrou um faturamento de 10 milhões de reais em 2023. Para 2024, a projeção é dobrar a receita e a expectativa é de que cerca de 25% dos 20 milhões faturados seja apenas da venda de produtos licenciados (incluindo a ganache de pistache queridinha, a flakestacchio). O projeto de expansão prevê novas lojas pelo país no formato de franquias que custam entre 500 mil e 1 milhão de reais.