Terça-feira, 6 de dezembro de 2022 - 18h33
O percentual de famílias que relataram ter
dívidas a vencer recuou 0,3 ponto percentual (p.p.) em novembro de 2022,
alcançando 78,9% do total das famílias brasileiras. Na comparação com novembro
do ano passado, contudo, a proporção de endividados avançou 3,3 p.p., mas em
uma dinâmica de desaceleração. Essa taxa anual é a menor desde junho de 2021.
Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic),
apurada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e
Turismo (CNC).
O levantamento aponta que 30,3% das famílias
brasileiras têm alguma dívida em atraso, pois não conseguiram pagar dentro do
vencimento. Em um ano, a inadimplência avançou 4,2 p.p., especialmente entre os
mais pobres. Dos consumidores com até 10 salários de renda mensal, 34,1%
atrasaram dívidas, a maior proporção da série histórica, iniciada em 2010.
Maior taxa de juros
desde 2018 freia endividamento
A desaceleração da proporção de endividados é
explicada pela evolução positiva do mercado de trabalho, pelas políticas de
transferência de renda mais robustas e pela queda da inflação nos últimos meses.
Conforme o presidente da CNC, José Roberto Tadros, esse conjunto de fatores
resultou no aumento da renda disponível. “Mesmo com o cenário de melhoria do
mercado de trabalho, os consumidores seguem cautelosos quanto à contratação de
novas dívidas neste fim de ano, tanto pelo alto índice de endividamento e
comprometimento da renda quanto pelos juros, que seguem altos”, aponta o
presidente.
Recorde da
inadimplência entre os mais pobres
Dos consumidores com até 10 salários de renda
mensal, 34,1% atrasaram dívidas, a maior proporção da série histórica, iniciada
em 2010. “Os orçamentos das famílias de menor renda seguem apertados porque os
juros altos aumentam as despesas financeiras associadas às dívidas em
andamento. Com maior nível de endividamento, está mais difícil pagar todos os
compromissos em dia, contas de consumo e dívidas”, explica a economista da CNC
responsável pela Peic, Izis Ferreira.
Com isso, o volume de consumidores que
revelaram não ter condições de pagar dívidas já atrasadas de meses anteriores
cresceu em novembro, atingindo 10,9% do total de famílias. Entre as com menores
rendimentos, o indicador manteve trajetória de alta, atingindo 13,4% das
famílias que permanecerão inadimplentes.
Comprometimento da
renda com dívidas avança
A economista Izis Ferreira alerta para o
aumento do volume de consumidores com mais da metade da renda comprometida com
o pagamento de dívidas, que, em novembro, alcançou 21,6% do total de
endividados, crescimento anual de 0,8 p.p. “Em média, o brasileiro precisou gastar
30,4% de toda a sua renda apenas para pagar dívidas em novembro, isso sem
contar os serviços e as contas de consumo como água, energia, telefone, gás,
entre outras. Ou seja, a cada R$ 1.000 do rendimento, em média R$ 304 estão
comprometidos com dívidas.”, avalia Izis Ferreira.
Superendividamento em
alta
No contexto de encarecimento do crédito, a
proporção de famílias que se consideram muito endividadas chegou a 17,5% do
total de lares em novembro, uma alta mensal de 0,2 p.p. e de 2,7 p.p. na
comparação anual.
A piora nesse indicador foi mais expressiva
entre as mulheres (com alta de 3,3 p.p.) do que entre os homens (aumento de 1,9
p.p.), em 12 meses. O público feminino é, atualmente, o mais endividado: 80,7%
possuíam algum tipo de dívida em novembro.
A percepção de superendividamento também
aumentou, especialmente entre os consumidores com idade acima de 35 anos. À
pesquisa, 19,5% afirmaram estar muito endividados, um aumento anual de 3,2
pontos percentuais. No que diz respeito à escolaridade, as pessoas sem ensino
médio completo compõem o grupo em que o superendividamento mais cresceu em um
ano, com alta de 3,9 p.p.
Inadimplentes há mais
de três meses aumentam
Mesmo que os consumidores estejam buscando a
renegociação, o volume dos que reportaram atrasos na quitação de dívidas por
mais de 90 dias piorou em novembro. Das famílias inadimplentes, 42,5% estão com
atrasos acima de três meses, um aumento mensal de 0,6 p.p. e de 1 p.p. no
comparativo anual.
“Não à toa, o spread bancário, que é a diferença entre os juros que os bancos cobram nos empréstimos e os que recebem ao captar recursos de investimentos, chegou ao maior nível desde julho de 2019, 44,4 pontos percentuais, conforme dados de outubro do Banco Central”, analisa Izis Ferreira. Segundo ela, o valor auferido do spread é utilizado pelas instituições financeiras para cobrir, entre outros gastos, as despesas com inadimplência, que vem sendo revistas para cima pelas empresas que operam crédito no País.
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