Sábado, 9 de março de 2024 - 12h17
As
ações da Petrobras desabaram mais de 10% na manhã desta sexta-feira, 8, com
investidores repercutindo negativamente a decisão da estatal de não anunciar os
dividendos extraordinários, tradicionalmente apresentados juntos ao resultado
do quarto trimestre. A queda é a mais forte desde fevereiro de 2021 e já
provocou perda de valor de mais R$ 62 para a companhia.
O
lucro da Petrobras foi de R$ 31,04 bilhões no quarto trimestre, representando
uma queda de 28,4% frente ao mesmo período do ano passado. Preços mais baixos
do petróleo pressionaram a queda de lucro no período. O dividendo do período
aprovado pelo Conselho de Administração foi de R$ 14,2 bilhões, R$ 2 bilhões a
menos que o previsto pelo Itaú, por exemplo.
A
companhia anunciou a distribuição de dividendos ordinários de R$ 14,2 bilhões,
dentro da fórmula que estabelece o equivalente a 45% do fluxo de caixa livre.
Investidores e analistas se questionam como a estatal irá gastar o restante do
dinheiro.
Na
semana passada, Jean Paul Prates (presidente da Petrobras) disse que os
investimentos em transição energética precisam de "conservadorismo no
pagamento de dividendos", o que já causou forte queda na cotação das
ações.
Conforme
já veiculado na imprensa, Petrobras propôs pagamento de dividendos
extraordinários, sendo metade destinada à reserva de capital e a outra metade
direcionada aos acionistas.
Essa
reserva de capital foi aprovada em outubro passado com o objetivo de assegurar
recursos para pagamento de dividendos, juros sobre capital próprio (e
respectivas antecipações), recompras de ações, absorção de prejuízos e
incorporação ao capital social. A diretoria da empresa e o governo têm
defendido a distribuição de menos dividendos para financiar projetos de energia
renovável.
Para
o sócio do Godke Advogados e especialista em Direito Societário, Marcelo Godke,
a repercussão no mercado dos anúncios recentes da Petrobras a respeito da
distribuição de dividendos para os sócios, é uma reação que já era esperada.
"A gente veio de um período muito conturbado da Petrobras, quando a
empresa foi envolvida no escândalo da Lava Jato e, depois, quando as coisas
começam a entrar nos eixos, houve uma sinalização da administração da Petrobras
em que a distribuição de lucros seria colocada em um patamar mais elevado",
explicou.
Godke
explica que a falta de governança que se percebeu da companhia desde os
problemas da Lava Jato, foi feita a precificação da ação da Petrobras entrar
num patamar muito inferior ao que estava antes. "O mercado já não acredita
que a Petrobras seja plenamente viável, como não acreditava em outros centros,
por conta de falta de governança adequada", diz o advogado, ressaltando
que, com a mudança de administração, por conta da transição governamental,
houve uma sinalização clara de que a companhia voltaria ao que era, no sentido
de ser uma companhia empreendedora, dela tomar decisões mais técnicas e menos
políticas.
Antes
mesmo de ser empossado, Lula e sua equipe apontaram que haveria mudança na
Petrobras, que impactaria na política de dividendos da companhia. Entretanto,
essa sinalização torna-se desvantajosa para o investidor.
"Quando
se estende à distribuição de dividendos e, reiteradamente, a administração da
companhia anuncia que vai ser mais conservadora na política de distribuição de
lucros para os sócios, para os acionistas, isso quer dizer que eles vão manter
mais dinheiro em caixa. Logicamente que o investidor, quando ele aporta
dinheiro numa companhia que tem capital aberto, ele tem uma expectativa da
companhia devolver aquilo na forma de dividendos. Por isso, essa sinalização é
muito ruim, de maneira ampla, porque esse cenário afugenta o investidor, porque
ele sabe que se investir em outro lugar, ele vai ter um retorno melhor",
alertou Godke.
Entretanto,
sobre o ponto de vista estricamente jurídico, não há problema nenhum a
companhia resolver guardar um pouco mais o lucro que ela tem e não distribuir
na forma de dividendos, conforme explica o especialista em Direito Societário.
"Se
a gente olhar o arcabouço legal que é trazido pela lei das SA, a companhia pode
criar determinadas reservas como uma maneira de se proteger de eventualidades
futuras. Por exemplo, no caso da Petrobras, o preço do petróleo um dia está
alto, outro dia está baixo, então ela sabe que vai cair o fatoramento em algum
momento, então ela guarda um pouquinho mais. Então, por isso que a lei prevê
essa possibilidade. Agora, quando a administração toma essa decisão com base em
determinações políticas, que ela não deveria fazer, ao invés de levar em
consideração as necessidades e interesses dos mercados que demandam uma
remuneração adequada ao capital investido. E logicamente a reação do investidor
vai ser sempre ruim, vai ser sempre deletéria. Ele tem que liquidar o ativo
Petrobras para entrar em outros ativos que passam a trazer resultado um pouco
melhor. Então hoje a gente está nesse patamar inferior ao que estava antes,
justamente por conta disso. Então infelizmente é o que é", concluiu.
Fonte:
Marcelo
Godke – especialista em Direito Empresarial, Integridade Corporativa, M&A,
Direito Bancário, Mercado de Capitais (securitização, derivativos, IPOs),
Societário, Project Finance, Contratos Domésticos e Internacionais. Bacharel em
Direito pela Universidade Católica de Santos, especialista em Direito dos
Contratos pelo Ceu Law School. Professor do Insper, da Faap e do Ceu Law
School, mestre em Direito pela Columbia University School of Law e sócio do
escritório Godke Advogados. Doutor em Direito pela USP (Brasil) e Doutorando
pela Universiteit Tilburg (Holanda).
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