Quinta-feira, 22 de junho de 2023 - 13h11
A Intenção de Consumo das Famílias (ICF),
apurada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e
Turismo (CNC), avançou 2,6% em junho, descontados os efeitos sazonais, e
manteve sua trajetória de crescimento. Pelo terceiro mês consecutivo, todos os
indicadores avançaram nas comparações mensal e anual, aproximando o índice da
zona favorável (acima dos 100 pontos). Quatro dos sete indicadores já estão no
quadrante positivo: satisfação com emprego e renda atuais e perspectivas
profissional e de consumo.
A queda da inflação além do esperado e o
mercado de trabalho aquecido têm deixado os consumidores mais dispostos a
consumir. Embora mais otimistas, o endividamento em nível elevado e os juros
altos limitam a capacidade de consumo e os efeitos benéficos da maior renda
disponível. Com isso, as vendas do varejo e dos serviços têm desacelerado.
“Os dados da ICF mostram que os consumidores
brasileiros estão mais confiantes no futuro do emprego, especialmente os de
menor renda e as mulheres, que foram os mais afetados pela crise econômica”,
afirma o presidente da CNC, José Roberto Tadros. Nesse sentido, a queda da
inflação e a geração de vagas formais contribuem para esse cenário. “No
entanto, ainda há obstáculos para a retomada do consumo, como o alto nível de
endividamento e a restrição do crédito, que impactam principalmente a compra de
bens duráveis”, pondera Tadros.
Segurança no emprego
estimula intenção de compra
A perspectiva profissional foi o indicador com
a maior alta em junho, +4,9%. Conforme a economista da CNC responsável pela
ICF, Izis Ferreira, a maior satisfação com o emprego atual é reflexo da geração
de vagas formais pelo setor de serviços e pela construção civil, setores que
vêm contratando pessoas com menor nível de escolaridade. Isso fez o índice
alcançar 122,3 pontos, o maior nível desde março de 2015.
O indicador que mede a intenção de compra de
duráveis também avançou na casa dos 6,5%, porém sobre uma base de comparação
baixa – o nível segue em 57,8 pontos. “Isso demonstra que, mesmo que o
consumidor esteja mais animado com as compras a prazo, principalmente por estar
mais seguro no emprego, o crédito seleto e caro limita a aquisição desse tipo
de produto”, analisa a economista. Nessa linha, a pesquisa apontou que 4 em
cada 10 consumidores relataram ter mais dificuldade de obter crédito.
Por outro lado, na comparação anual, os
indicadores que medem a percepção das famílias sobre o nível atual de compras,
a renda e a perspectiva de consumo no curto prazo apresentaram as maiores taxas
– 32%, 26,4% e 30,4% de alta, respectivamente. Isso porque, em junho de 2022, a
inflação anual no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulava alta de
11,9%, apertando os orçamentos domésticos e corroendo o poder de compra da
maioria da população.
“Esse cenário fez com que os consumidores
recorressem mais ao crédito para recompor seus rendimentos e, consequentemente,
tinham menos intenção de comprar. O IPCA acumula alta de 3,9% até maio deste
ano, uma inflação três vezes menor do que no mesmo período do ano passado, o
que favorece o consumo”, esclarece Izis.
Otimismo avançou mais
entre consumidores de menor renda
O avanço na intenção de consumir em junho foi
mais expressivo entre os consumidores de rendas média e baixa (com alta de
3,1%) do que entre os consumidores de renda alta (com crescimento de 2,2%). A
diferença é provocada pela melhor perspectiva profissional, indicador que cresceu
5,8% no grupo que ganha menos de 10 salários mínimos. Além de mais seguros no
emprego, 52% acreditam que terão melhores condições de trabalho nos próximos
meses, a maior proporção desde abril de 2015. A perspectiva profissional também
aumentou para os de maior renda, mas em menor escala, com majoração de 2,8%.
No recorte por gênero, embora mais homens
apontem que a perspectiva no emprego é positiva (53,1% do total do público
masculino), foi entre as mulheres que a proporção mais cresceu em um ano (8,8 pontos
percentuais), o que levou 52,2% das pesquisadas a vislumbrar melhores condições
no trabalho, nos próximos meses. Esses fatores, como aponta Izis Ferreira,
levaram a intenção de consumo a avançar 24% entre as mulheres, enquanto o
índice cresceu 19% entre os homens.
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