Terça-feira, 31 de janeiro de 2023 - 09h45
A Intenção de Consumo das Famílias (ICF), apurada pela Confederação
Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), apontou que os
consumidores de menor renda começaram 2023 com mais disposição para gastar. Na
outra ponta, as famílias que recebem maiores salários pretendem reduzir seu
nível de consumo. No geral, o índice subiu 1,3% em janeiro, na comparação com
dezembro – descontados os efeitos sazonais –, e é o maior desde abril de 2020.
A perspectiva de consumo foi o item que mais cresceu na comparação mensal, na
ordem de 2,7%.
“Esse dado indica que as famílias em
geral esperam melhores condições de consumo no futuro. De fato, desde outubro
de 2022, a perspectiva de consumo tem se mostrado mais positiva do que o
consumo propriamente dito”, afirma o presidente da CNC, José Roberto Tadros.
Segundo ele, a inflação mais contida nos últimos meses tem beneficiado a renda
disponível para o consumo, a despeito do maior endividamento das famílias.
Na variação anual, a ICF aumentou 23,1%
em janeiro deste ano, em relação ao mesmo mês de 2022. O maior destaque ficou
com o índice perspectiva profissional, que teve alta de 25,1% em comparação com
janeiro do ano passado.
Satisfação com a renda atual
Os consumidores entrevistados estão mais
satisfeitos com a renda atual: o indicador avançou 2% em janeiro, em relação ao
mês anterior, e apresentou alta de 31,8% no comparado com o mesmo período de
2022. Aproximadamente 39% dos entrevistados afirmaram estar recebendo o mesmo
valor do ano passado, e cerca de 35% tiveram melhora da renda. Para 25,6% dos
entrevistados, a renda piorou. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA) acumulado no ano passado aumentou 5,8%; em 2021, o índice havia
registrado alta de 10,4%.
Famílias com menor renda querem gastar
mais
O aumento geral da ICF foi puxado pela
intenção das famílias com salários mais baixos, subindo 1,9% em relação a
dezembro do ano passado e 25,7% na variação anual. O índice atingiu 91,2 pontos
e, embora esteja ainda na zona de insatisfação (abaixo dos 100 pontos), é o
maior desde abril de 2020.
A economista responsável pela ICF, Izis
Ferreira, aponta que os consumidores de rendas média e baixa acreditam em uma
melhora das condições de consumo, nos próximos meses. “Uma das causas do
otimismo é a ampliação do principal programa de transferência de renda do
governo, com o pagamento do valor mínimo de R$ 600, além do incremento de R$
150 por criança até seis anos”, explica. Segundo ela, essa injeção de mais
recursos nos orçamentos das famílias gera ânimo ao consumo mesmo com maior
endividamento e dificuldade de acesso ao crédito.
Consumidores que ganham mais devem gastar
menos
Por outro lado, as famílias de maior
renda estão mais frustradas com a conjuntura econômica e menos dispostas a
gastar no começo de 2023: a intenção de consumo caiu 1% entre eles. “Os
consumidores desse grupo estão menos satisfeitos com o nível de consumo atual,
pois estão pagando mais pelos serviços em geral, e mais descontentes com a
perspectiva profissional e com o acesso ao crédito, que está mais caro e
seleto”, conclui Izis Ferreira.
Conforme a economista, a proporção de
endividados no ano passado cresceu mais entre esse grupo, como mostrou o
relatório anual de 2022 da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência dos
Consumidores (Peic), também realizada pela CNC. Mesmo assim, a ICF continua no
espectro do otimismo para essa faixa de renda, com 107,7 pontos. A variação
anual indicou crescimento de 15,1%.
Mais endividadas, porém com intenção de
consumir mais
“Mesmo que a Peic tenha mostrado que as
mulheres estão mais endividadas do que os homens, a ICF expôs que elas avaliam
a renda e o nível de consumo de forma mais positiva do que os homens”, ressalta
Izis Ferreira. No recorte por gênero, a ICF apontou que, entre as mulheres,
houve avanço de 3,3% em janeiro e 26% na variação anual na intenção de consumo.
Apesar disso, o índice está em 91,4 pontos, ainda no campo de insatisfação. A
taxa em relação aos homens está mais alta, em 96,2 pontos, e a perspectiva de
compra aumentou 23,1% no comparativo com janeiro de 2022.
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