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Educação

A linguagem poética na escola em defesa da Amazônia


Francisco Marquelino Santana

A linguagem poética é o vento manso liberto que sopra a copa dos vegetais de cada ambiente peculiar que constitui o mundo plural. É a língua mátria que não dá voz de prisão, é a língua soberana que mostra a cada filho e a cada filha do planeta os caminhos peculiares da sabedoria humana que se irmanam em contato com a natureza. É a língua que cheira a cada pedaço de chão que forma o nosso complexo planetário e que da vida a todas as espécies que habitam o seu envolto.

Em cada escola do planeta há versos que narram suas diferenças, que buscam seus sonhos, que voam nos seus imaginários. Em cada escola há uma língua exclusivamente peculiar, há um dialeto que faz a diferença, há um passo que consegue driblar uma barreira aparentemente intransponível. É exatamente este passo, este andar diferente, este pulo, este salto, que precisa enfim ser reconhecido e valorizado. Este importante ponto utópico é aquele vulto que não aparece, mas que podemos senti-lo, e ao sentirmos, estaremos tornando-o vivo em cada educador, em cada educando, e em cada comunidade. Este ponto é a ousadia de provocar a mudança, é a liberdade política que sepulta o medo, é o que é de praxe que se transforma em práxis. É o que é estável e depois flui. É o que é estagnado e depois se dinamiza num processo histórico – dialético.

Cada escola do planeta possui vários pontos utópicos, possui vários sonhos e várias naturezas. Cada escola do planeta carrega em si seus valores íntimos, calados, soltos, libertos. Mas neste convívio escolar diferenciado, garanto, há um firmamento de estrelas poéticas que brilham e que muitas vezes é duramente castigado. As estrelas são às vezes obrigadas a esconderem seus brilhos diferenciados. Este processo hierárquico, doloroso e conservador, que oprime o brilho de uma estrela e que asfixia o seu talento, poderão estar provocando a destruição do planeta. É seguramente neste sentido que acredito na poesia como alicerce pedagógico na construção de uma escola ambiental planetária. Serão os valores articulados de professores e alunos numa ação conjunta em parceria com as comunidades em que vivem que poderão significativamente construir uma escola mais eticamente compromissada com o futuro do nosso planeta. O futuro depende de nós, depende de ações sócio – ambientais que hoje desenvolvemos em cada comunidade do planeta terra. O exercício crítico da mediação pedagógica no ambiente escolar como importante suporte em abrir as portas da escola para a educação ambiental, vem de forma autônoma e democrática promover o respeito e a sensibilidade pelo meio ambiente na vida de cada criança.

Sensibilidade e razão se misturam através da poesia para fazer gerir um olhar crítico em ações de cidadania voltadas ao meio ambiente e assegurando a educandos e educadores um estudo interdisciplinar fortalecido através da linguagem poética na escola. A linguagem poética multicultural pede passagem e a escola precisa deixá-la entrar, os sujeitos estão a lhe esperar, eles precisam agir, são os verdadeiros agentes transformadores capazes de criarem e recriarem uma politização e conscientização ambiental, para no nosso caso especifico cuidarem melhor da floresta mãe e dos seus filhos e filhas. Esta barreira precisa ser superada e as algemas precisam ser condenadas, para que enfim, a linguagem poética possa exercer com dignidade este importante papel de contribuir pela preservação do planeta A relevância social da poesia precisa estar presente no cotidiano escolar para dialeticamente poder construir a tão almejada libertação do nosso ensino.

A escola precisa se libertar

Do pesadelo, dominação e insônia

Estão matando o verde da Amazônia

E o “Saara” já disse que vai chegar

Nosso solo já não pode mais suportar

O gemido cruel da devastação

A escola precisa entrar em ação

Renovando com ética suas lições

A floresta estende os braços ás nações

Anunciando sua desertificação.

 

A escola será mãe da ecologia

E a floresta, nossa língua, nosso lema

A vitória será do ecossistema

Com a vez e a voz da democracia.

A escola não viverá à revelia

Da rota dos crimes ambientais

Nossas ações serão justas e legais

E a floresta descansará mais segura

O mundo inteiro conhecerá a cultura

Que impediu os velórios florestais.

 

Na escola, por exemplo, é indispensável a idealização e execução de projetos sócio-ambientais que desenvolvam práticas pedagógicas que envolva toda a comunidade escolar no sentido de haver uma participação ativa e consciente de todos no advento de uma educação ambiental de qualidade. Neste sentido, a execução de determinados projetos, também precisa envolver demais entidades governamentais e não governamentais no sentido de que estas práticas se tornem experiências escolares bem sucedidas em defesa da Amazônia.

 

Amazônia da heterogeneidade

Berço sócio – linguístico – cultural

Seu pluralismo sócio – ambiental

Faz gerir sua multicultural idade.

Cada língua é uma peculiaridade

Que renasce numa heterotopia

A floresta não se curva a hegemonia

Sua luta é ecossocialista

Militância antiimperialista

Que não cala a voz da cidadania.

 

A preocupação da poesia com o meio ambiente atinge também outras esferas governamentais quando nos referimos à questão da ética no profissionalismo, e no poema “na rota dos crimes ambientais – a floresta assassinada e os códigos da impunidade” eu faço o seguinte relato:

 

A contundente crítica ao capitalismo

Não se restringe ao ato insano de desmatar

Mas aqui quero apenas ressaltar

A catástrofe humana do egoísmo

A floresta onde brota o terrorismo

A Amazônia vendo a ética “assassinada”

A agonia de uma árvore derrubada

O flagrante de práticas reacionárias

A falência de penas pecuniárias

E a floresta cruelmente devastada.

 

A multa agora se tornou irrelevante

No combate à prática criminosa

A operação no seu bojo é proveitosa

Pois a PF atua de forma brilhante

Outro fato, porém é repudiante

Quando a multa quase desaparece

O cofre público dificilmente agradece

Receber do criminoso um tostão

E ainda surge quem defenda o perdão

Enquanto a mata covardemente padece.

 

Maquinários quando são apreendidos

Investiguem como foram liberados

Quem legisla difere ao poder dos togados

Os poderes são assim constituídos

Autuar e depois não serem punidos

É uma desfeita que envergonha a nação

Cumplicidade, negligência, prevaricação

Ou a corrupção cruel e assassina

Servidor ético não se rende a propina

Outros, porém, merecem investigação.

 

No poema “água da vida”, mostro a dura realidade da forma como o homem se relaciona com a água do planeta em que vive.

 

Porque queres nossa água poluída?

Porque queres nossa água estagnada?

Porque queres nossa água envenenada?

Porque queres nossa água desprotegida?

Porque queres nossa água sem a vida?

Porque queres nossa água tão doente?

Porque queres nossa água tão carente?

Porque queres nossa água sem o chão?

Porque queres nossa água em extinção?

Porque queres nossa água decadente?

 

Deixe a água alimentar nossa gente...

Deixe a água proclamar sua fartura...

Deixe a água mostrar a nossa cultura...

Deixe a água brotar nua na nascente...

Deixe a água correr nua eternamente...

Deixe a água cumprir livre seu destino...

Deixe a água cantar viva nosso hino...

Deixe a água aliviar nossa sede...

Deixe a água esfriar a nossa rede...

Deixe a água se virar num peregrino...

 

Nossa água mata a sede do menino

Nossa água cura a pior cicatriz

Nossa água alimenta o país

Nossa água tem espírito divino

Nossa água tem um leito genuíno

Nossa água tem jeito de liberdade

Nossa água é nossa felicidade

Nossa água é a mãe dos nossos dias

Nossa água é o pão humano em fatias

Nossa água é o berço da humanidade.

  

Podemos observar que durante as ultimas décadas o nosso planeta vem sendo duramente castigado pelas ações avassaladoras do ser humano. O modo de produção capitalista com suas relações sociais de dominação e exploração submete o nosso próprio habitat a condições desumanas proporcionando a extinção de diversas espécies planetárias e condenando de forma irresponsável o meio em que vivemos, ocasionando um forte desequilíbrio ambiental do planeta. O processo de mudanças climáticas globais é uma realidade, e garantir ao meio ambiente a preservação de sua biodiversidade é um compromisso ético que temos que ter como educador. Neste sentido a escola torna-se fator primordial nesta importante empreitada na luta pela vida. É importante enfatizar que dentro do contexto escolar a escola precisa oferecer condições básicas necessárias de cunho administrativo – pedagógico para que alunos e professores possam atuar em parceria com a comunidade local no sentido de desenvolver projetos socioambientais, para que principalmente o aluno, possa compreender a imensidão de problemas que afetam a vida de sua família, da comunidade, do país e do planeta.

Esta palavra, esta linguagem, esta poesia, vão assim construindo uma escola cada vez mais compromissada com um planeta em agonia. Um planeta mãe, uma terra mãe, onde seus filhos e filhas prometeram cuidar dela com carinho. Por várias vezes o planeta mãe vivia alertando seus filhos a cuidarem melhor dela, mas seus filhos não a obedeciam, teimavam em maltratá-la, em desonrá-la, em despi-la, em afrontá-la de forma cruel e covarde. Seus filhos foram destruindo sua beleza, foram desprezando sua dignidade e cada um deles brigava violentamente para destruir e matar cada pedaçinho seu, e cada pedaçinho de chão era queimado e destruído. Agora, eles se acham poderosos, tão poderosos que se esqueceram da promessa que outrora a mãe serenamente havia feito, e diante da tanta tortura e desprezo, a mãe resolveu cumprir sua promessa.

 

Sou a mãe que flutua á revelia

Sou a face despida e sem véu

Sou a vida da cor azul do céu

Sou o ar que inspira o dia a dia

Sou a voz que o homem silencia

Sou a mãe inocente maltratada

Sou a dama da vida desonrada

Sou o verde chorando infeliz

Sou o chão desprovido de país

Sou a mata cruelmente devastada.

 

Sou a mãe agora revoltada

Sou a força onipotente da ira

Sou a arma que se vinga e atira

Sou a fera faminta desolada

Sou a vida sem vida descontrolada

Sou a chama terrível do vulcão

Sou o raio que destruirá o teu pão

Sou fadiga, sou briga, sou terremoto

Sou a força da água em maremoto

Sou o grito destemido do trovão.

 

Sou o triste fim da ozonosfera

Sou o vendo da força dos temporais

Sou o fogo dos velórios florestais

Sou a morte cruel da atmosfera

Sou meteoro, sou choque, sou cratera

Sou o clima doente que te estressa

Sou a cova que te consume depressa

Sou o medo da morte que te apavora

Sou a dor da fome que te devora

Sou a terra cumprindo sua promessa. 

 

A escola ambiental planetária surge como importante instrumento no sentido de alavancar esforços na defesa do planeta. A militância ambiental escolar através de ações éticas e emancipatórias brotam exatamente de uma complexa diversidade cultural que não podemos deixar perecer. Esta militância imbuída de práticas pedagógicas inovadoras tem a importante missão de contribuir para que no futuro, o último remanescente humano não venha anunciar o seu derradeiro e agonizante gemido: desisti da vida, pedi para morrer. Minhas lágrimas secaram, a esperança calou-se. Crianças cadavéricas clamam por um pedaço de pão, o leite materno foi extinto. O chão esturricado agoniza de sede e a ética malogrou com o advento da guerra pela água. No poema “Amazônia feliz” eu procuro fazer uma dialógica interação em sala de aula sobre os diversos problemas encontrados na floresta, inclusive com os povos que dela fazem parte. É preciso instigar não só a sobrevivência da mata e, dos animais, mas a sobrevivência do próprio homem e da sua diversidade cultural.

 

Quando a mata virgem sobreviver

Quando a terra não for mais ameaçada

Quando a água não for mais envenenada

Quando o ozônio do alto nos proteger

Quando o homem deixar a vida viver

Quando a fauna não entrar em extinção

Quando o verde for orgulho da nação

Quando a ética deixar de ser agredida

Quando o índio tiver terra garantida

A Amazônia sairá da opressão.

 

Quando a escola tiver boa educação

Quando o estado preservar os seringais

Quando a lei proteger os animais

Quando o povo da floresta tiver pão

Quando a vida for livre de exploração

Quando o crime não ficar na impunidade

Quando a paz se tornar realidade

Quando a “ONG” respeitar soberania

Quando o pobre não viver à revelia

A Amazônia terá sua liberdade.

 

Quando o lema for biodiversidade

Quando o caboclo estiver assegurado

Quando o produto se tornar patenteado

Quando a floresta adormecer na eternidade

Quando a saúde assistida for verdade

Quando uma jovem não se tornar meretriz

Quando o ensino for orgulho do país

Quando o crime na floresta perecer

Quando enfim tudo isso acontecer

A Amazônia poderá viver feliz.

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