Quarta-feira, 5 de setembro de 2012 - 12h26
O sol escaldante desta época do ano vence a barreira de fumaça e poeira e atinge com vigor os alunos que se protegem na escassa sombra de uma árvore, ao lado da escola em Rio Pardo, distrito distante cerca de 150 quilômetros de Porto Velho.
Isso mesmo! Na cidade com orçamento anual de mais de R$ 1 bilhão, no Estado com mais de R$ 6 bilhões de orçamento, alunos se espremem embaixo de uma modesta árvore para tentarem assistir aula.
A cena vergonhosa acontece diariamente, nos turnos da manhã e da tarde. Sem salas de aula, a saída foi aproveitar a pequena sombra da cada dia mais desfolhada árvore para continuarem as aulas, que só começaram na metade do ano, por falta de transporte escolar, de professores, de carteiras e de espaço adequado a todos.
No local, funcionam de modo precário e improvisado, duas unidades escolares: a Escola Estadual Maria de Abreu Bianco, com cerca de 450 alunos e a Municipal Rio Pardo, com aproximadamente 350 estudantes.
São na verdade dois barracões de madeira, sem nenhum conforto. Faltam carteiras novas, refeitórios, apenas dois banheiros atendem aos mais de 800 alunos e o calor nas salas é insuportável, apesar das enormes frestas entre as tábuas que sustentam o combalido prédio. Os poucos ventiladores instalados estão inoperantes. A merenda escolar é escassa.
Ao lado da árvore que serve de “sala de aula” estão um campinho de terra batida e uma quadra de areia, instalada graças á doação de um empresário local. Há apenas uma surrada bola de basquete para os jogos de futebol e vôlei. Sem tabelas ou cestas, o basquete não é praticado.
Lado a lado, Estado e Município dividem de forma descarada o desrespeito, a indiferença e a falta de compromisso com a educação. Vale salientar que os dois prédios foram construídos pela comunidade, há anos. Era para ser provisório, mas se tornaram a saída, após inúmeras promessas de escolas novas e impasses ambientais, que emperraram (e serviram de desculpas) para a localidade de cerca de 9 mil moradores, ficar sem uma escola decente.
No país da Copa do Mundo e das Olimpíadas – somente na construção do Itaquerão, em São Paulo, serão gastos mais de R$ 800 milhões – crianças simples, num distrito distante de Porto Velho, filhos de trabalhadores rurais, sofrem a humilhação de assistirem aula no meio do tempo, abrigando-se na rala sombra de uma árvore.
Alunos do 9° ano, da Escola Estadual, foram os “escolhidos” para tomarem assento sob a árvore. A outra opção seria misturá-los entre estudantes do 3° ou 4° anos do ensino fundamental, em salas lotadas e insalubres.
A professora Jirlene Cardoso, umas das poucas que tem coragem de relatar o descaso, disse que pelo menos 30 alunos assistem aula embaixo da árvore. “Que estímulo o estudante tem de sair de casa, numa linha distante para ficar uma manhã ou a tarde inteira embaixo da árvore? Isso é desumano”, desabafa.
Aluno relata a humilhação de ficar embaixo da árvore
Mateus Barbosa, 14 anos, estuda o 9° ano e passa pela humilhante situação de assistir aulas embaixo da árvore. “É péssimo, me sinto um lixo, pior que um animal. Os outros alunos tiram ‘sarro’ da gente. É muito ruim, mas não tem outro jeito, temos que encarar as aulas embaixo da árvore”, relatou.
Além de Mateus, seus irmãos Sheila Poliana, 12, que estuda o 7° ano; e Tiago Barbos, 7 anos, que estuda a 1ª série, saem de casa na linha 10, distante 18 quilômetros da sede do distrito, no final da manhã para assistirem as aulas. Antes, o adolescente ajuda os pais na pequena propriedade. “Temos que andar um bocado a pé, pra ir na linha pegar o ônibus”.
Mesmo com as dificuldades, Mateus não pretende desistir de estudar. “Vou em frente, mas não sei ainda que profissão vou escolher”.
Muitos alunos, com vergonha, preferem não falar sobre a situação humilhante a que são submetidos. Professores também preferem o silêncio.
Em alguns dias, os alunos se deslocam até a sala de aula improvisada, mas não aparecem professores. Sem um local de lazer e sem nenhuma atividade pedagógica, resta aos meninos e meninas ficarem sentadas nas cadeiras, em meio à poeira e à fumaça, sob a sombra das árvores, esperando a hora de pegar o ônibus escolar e voltar pra casa.
“Se faltar professor e não tiver aula, o jeito é ficar sentado mesmo. Não tem mais nada pra se fazer”, completa Mateus.
Elzilane Cardoso, 13, estuda o 8º ano e conta que sai de casa às 10 horas, para conseguir chegar à escola às 13 horas. “Moro na Linha 13, há 8 quilômetros daqui. Preciso andar quatro quilômetros a pé para poder pegar o ônibus. Na volta, chego em casa já de noite”.
Aulas começaram no segundo
semestre e já teve paralisações
Se hoje alunos são obrigados a ficar debaixo da árvore, até maio, a Escola Estadual estava parada, pois não tinha transporte escolar. Após diversas reclamações, o ano letivo começou, depois houve novas paralisações em razão das péssimas condições da escola e da falta de professores. Até a semana passada, o 8° e o 9°anos estavam sem professor de português.
Sem saída, o jeito foi continuar as aulas sem as mínimas condições de ensino e aprendizagem. Um retrato de como o nosso país trata com “atenção e cuidado” as nossas crianças e jovens. Um cenário revoltante e deprimente.
Em razão das paralisações, famílias carentes tiveram o benefício do Bolsa Família suspenso. É o caso das donas de casa Damiana da Silva, 32 anos, casada e com três filhos pequenos; e Ivanir Gomes, 41 anos, quatro filhos. “Fiquei sem receber o Bolsa Família, pois meus filhos estavam fora da escola. Fomos prejudicadas duas vezes”, lamenta Damiana.
Claudia Renata Alves, 14 anos, aluna da 8ª série, diz que faltam professores de algumas disciplinas. “Nem sei qual falta. Uma semana tem professor, na outra já não tem. Além disso, são 40 alunos numa pequena sala de madeira e de piso grosso, num calor insuportável”, conta a adolescente, resignada.
Mesmo com dificuldades,
alunos acreditam num futuro melhor
Apesar de todos os percalços, os estudantes não deixam de sonhar com uma carreira, com uma vida digna e com um futuro melhor, creditando aos estudos a única forma de vencerem as barreiras.
Kalyta Letícia Santos, 12, aluna da 8ª série, também faz uma jornada a pé para pegar o ônibus e vir estudar. Apesar de muitas vezes ela não ter uma aula sequer, não deixa de sonhar em um dia ser dentista. “Vou me esforçar para ser dentista, andar de branco e ter meu trabalho”, diz entusiasmada.
Kauane França da Costa, 13, cursa o 8º ano e está em dúvida se vai prestar vestibular para odontologia e acompanhar a amiga Kalyta, ou para medicina veterinária, já que lidar com animais é uma de suas paixões. “Vou decidir mais tarde, mas quero estudar e ser uma profissional”.
Fonte: Eranildo Costa Luna
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