Sexta-feira, 26 de maio de 2023 - 10h55
Pesquisadores do curso de Arqueologia da Universidade Federal de
Rondônia (UNIR) realizaram, neste mês de maio, em Porto Velho, a primeira
escavação arqueológica em área urbana no estado. A escavação arqueológica
evidenciou parte do alicerce do antigo Hospital da Candelária, uma unidade de
saúde criada por volta de 1907 para atender os trabalhadores durante a
construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM) e que agora é denominada
de sítio arqueológico Candelária, e mais alguns achados importantes para o
resgate dessa parte da história do município.
O local escavado nessa etapa corresponde ao que antigamente era a Casa
dos Operários (número 6 no mapa disponível no final do texto) e também o
necrotério do complexo hospitalar da Candelária. A fundação que deu sustentação
ao prédio há mais de um século, as antigas tubulações de água, ainda metálicas,
as canaletas do sistema de esgotamento sanitário e os próprios tubos de esgoto,
feitos de cerâmica, estavam lá, soterrados pela ação do tempo e também humana.
Segundo a professora Juliana Santi, docente no curso de Arqueologia da
UNIR e coordenadora da atividade, a estrutura centenária encontrada pelos
pesquisadores foi muito bem planejada é considerada uma engenharia moderna para
a época. Todo o sistema de encanamento veio de fora do Brasil, diretamente dos
Estados Unidos para ser utilizado aqui, e por esse motivo também se diferencia
do que é encontrado em outras regiões do país da mesma época.
Ao todo, o complexo do Hospital da Candelária, uma estrutura de
saneamento básico e atenção à saúde, era formado por 29 espaços diferentes,
entre os quais cinco enfermarias com capacidade para 48 leitos cada uma, sala
de cirurgia, farmácia, casa dos médicos, casa dos enfermeiros, horta, cozinha,
curral, cocheira, galinheiro, carpintaria, entre outros, além do cemitério. “A
importância desse estudo é mostrar que essa estrutura, que foi abandonada, poderia
ter sido preservada, mas não foi por questões políticas. A história oficial
fala da construção da estrada de ferro, dos médicos, dos enfermeiros, dos
engenheiros, mas essa estrutura, evidenciada pela Arqueologia, está mostrando
outras pessoas que também trabalhavam aqui, não diretamente na ferrovia, e sim
dando o suporte necessário para a construção, como os operários, os
trabalhadores da horta, do curral, as pessoas que faziam a comida e que
limpavam o local, e é a História dessas pessoas invisibilizadas que queremos
contar”, destaca Juliana.
O estudo é realizado por professoras, alunos e alunas do curso de
Arqueologia da UNIR, campus de Porto Velho, e ex-alunos e ex-alunas voluntários
que auxiliam na escavação. Além de ser um trabalho de pesquisa, é também uma
atividade das disciplinas de Práticas de Campo em Arqueologia, obrigatórias no
curso de graduação. “São estudantes daqui, nascidos na região, que tem pais,
avós e bisavós que fizeram parte dessa história e estão aqui, através da
Universidade, resgatando e documentando essas memórias”, disse a professora.
Paulo Maia, estudante do 8º período de Arqueologia, é um dos alunos que
está participando do estudo e para quem “a experiência prática tem sido muito
enriquecedora”. No trabalho intitulado “Materializando as mulheres pelas
garrafas de remédios na Coleção Vila de Santo Antônio (C.V.S.A), Porto Velho,
RO”, ele pesquisa como foi a participação histórica das mulheres na farmácia
por meio de evidências arqueológicas. “Encontramos um frasco antigo de sal de
frutas que tem ligação com a minha pesquisa e outros fragmentos que também
ajudam a contar parte dessa história desconhecida da cidade”, disse.
Os
achados arqueológicos e vestígios das ocupações
O estudo é realizado por professoras, alunos e alunas do curso de
Arqueologia da UNIR, campus de Porto Velho, e ex-alunos e ex-alunas voluntários
que auxiliam na escavação. Além de ser um trabalho de pesquisa, é também uma
atividade das disciplinas de Práticas de Campo em Arqueologia, obrigatórias no
curso de graduação. “São estudantes daqui, nascidos na região, que tem pais,
avós e bisavós que fizeram parte dessa história e estão aqui, através da
Universidade, resgatando e documentando essas memórias”, disse a professora.
Paulo Maia, estudante do 8º período de Arqueologia, é um dos alunos que
está participando do estudo e para quem “a experiência prática tem sido muito
enriquecedora”. No trabalho intitulado “Materializando as mulheres pelas
garrafas de remédios na Coleção Vila de Santo Antônio (C.V.S.A), Porto Velho,
RO”, ele pesquisa como foi a participação histórica das mulheres na farmácia
por meio de evidências arqueológicas. “Encontramos um frasco antigo de sal de
frutas que tem ligação com a minha pesquisa e outros fragmentos que também
ajudam a contar parte dessa história desconhecida da cidade”, disse.
Os
achados arqueológicos e vestígios das ocupações
O trabalho de escavação é feito em etapas. Conforme vão sendo retiradas
as camadas de terra do sítio arqueológico, é que vão aparecendo os indícios das
ocupações do local. Quanto mais profunda a escavação no solo, mais antigos
serão as comunidades estudadas, bem como os artefatos encontrados, pois, com o
passar do tempo, a terra e os sedimentos vão encobrindo os materiais.
A professora Juliana Santi explica que as raízes das árvores encontradas
nas escavações são mantidas por uma questão de preservação ambiental, mas
também para demonstrar as modificações provocadas no sítio arqueológico. Além
da ação do tempo, há também a ação humana que interfere na preservação das
evidências e dificulta a realização dos estudos. “Percebemos que as estruturas
do complexo foram claramente revolvidas, e a Casa dos Operários é uma das
poucas, talvez a única, que permanece in situ [no lugar]”, disse.
Ensino,
pesquisa e extensão
Nesse projeto de pesquisa, intitulado “Arqueologia Histórica em Porto
Velho-RO: Coisas, Pessoas, Conflitos, Apagamentos e Resistência”, o ensino, a
pesquisa e a extensão universitária alcançam a comunidade Portovelhense por
meio da realização de oficinas e diálogos com a comunidade afetada, aulas
abertas ao público em geral e disponibilização de espaços para visitação.
Esta é uma forma de externar para a sociedade o conhecimento produzido
na universidade de uma maneira mais acessível para todos os públicos. E com
esse objetivo, entre os dias 15 e 17 de maio, três turmas de 3º anos do Ensino
Médio da escola Estadual Daniel Neri participaram de aulas abertas no sítio de
escavação. Os estudantes tiveram a oportunidade de ver de perto e participar
ativamente da escavação.
Depois, na sexta-feira, dia 19, as acadêmicas do 2° ao 8º período de
Arqueologia realizaram atividades educativas de escavação simulada para as
crianças da escola estadual Franklin Delano Roosevelt, a única do bairro
Triângulo e que fica próximo ao local da pesquisa. “As atividades educativas de
educação patrimonial e arqueologia pública são um trabalho de base para que as
pessoas possam entender a função da Arqueologia nesses ambientes, para que as
crianças e os adolescentes compreendam o que determinado artefato representa,
como está inserido no seu cotidiano, e que a ciência está aqui para contribuir
com a comunidade”, explica a arqueóloga Glenda Félix, servidora da UNIR.
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