Sábado, 5 de março de 2022 - 12h18
“Foi a coisa mais incrível que já me aconteceu na vida!”, essa declaração é de Alessandro Binow, 18 anos, morador da zona rural de Espigão do Oeste, que concluiu recentemente os estudos por meio da Mediação Tecnológica da Rede Estadual de Ensino, do Governo de Rondônia, ao falar sobre a carta de incentivo que recebeu da National Aeronautics and Space Administration (Nasa), a Agência Aeroespacial dos Estados Unidos.
Alessandro foi surpreendido quanto à atenção dada pela Nasa. ‘‘Eu não esperava receber uma resposta da Nasa. Eu mandei uma carta para eles contando o meu interesse pela astronomia e o quanto sou fascinado pelo trabalho da Nasa, que é incrível e me inspira muito, tanto que eu quero trabalhar lá um dia, e também falei das curiosidades que eu tinha pelo Espaço desde pequeno, mas não esperava que eles fossem me responder, pois recebem milhares de cartas’’.
Um amigo de Alessandro, que também já tinha mandando carta a Nasa, o ajudou a fazer a história dele chegar até agência espacial. Na carta enviada ao estudante, a Nasa o incentiva a continuar alcançando boas notas na escola e perseverar no sonho de ser astronauta. ‘‘Me disse para não desistir do sonho de um dia ingressar na Nasa e ajudá-los a desvendar os mistérios do espaço. Foi um incentivo muito grande.’’
A alegria de receber a correspondência tão especial foi parar nas redes sociais do estudante e viralizou. ‘‘Eu postei uma foto com a carta da Nasa nas minhas redes sociais e chegou a quase 100 mil curtidas, e muitas pessoas importantes entraram em contato, e estão me oferecendo oportunidades, então ter recebido a carta irá me ajudar muito na realização dos meus sonhos’’, conta o estudante.
TRAJETÓRIA
A astronomia ainda não é considerada uma ciência tão popular no Brasil, principalmente em localidades mais afastadas dos grandes centros urbanos, mas contrariando as perspectivas, Alessandro surpreendeu a todos, inclusive a família, que sobrevive da agricultura familiar, ao manifestar o interesse pelo Espaço desde criança. ‘‘Como moro na zona rural desde pequeno, eu sempre via o céu muito estrelado, ao contrário da cidade que tem muita luz e não é possível ver tão bem. Eu ficava olhando para elas e imaginando como é ver as estrelas de perto.’’
Aliado a isso, o interesse pela astronomia surgiu pela combinação de uma curiosidade aguçada e o amor pelos estudos. ‘‘Desde criança eu sempre fui muito curioso, não só em relação às estrelas e o espaço, mas em relação a tudo, indagava muito meus pais, minha mãe, principalmente, para explicar como as coisas funcionavam. Eu era uma criança muito estudiosa, deixava de brincar para ficar lendo e escrevendo, passava o dia fazendo isso, era tudo pra mim, era minha diversão diária. E o interesse pelo céu foi se desenvolvendo junto com isso’’, conta.
Quando ele ganhou o primeiro celular, ele passou a pesquisar na internet sobre o Espaço e eventos astronômicos, e hoje é um divulgador de conhecimento sobre essa área. ‘‘A paixão por estudar o Espaço foi aumentando com o passar dos anos, e há três anos eu ganhei de um amigo o meu primeiro telescópio, e o meu interesse pela astronomia cresceu ainda mais. E há dois anos, eu passei a trabalhar com divulgação científica, eu tenho uma página no Instagram, que já conta com praticamente 450 mil seguidores’’.
MEDIAÇÃO TECNOLÓGICA
O Ensino Médio por Mediação Tecnológica, ofertado pela Secretaria de Estado da Educação (Seduc) do Governo de Rondônia, teve um importante papel na vida do estudante. ‘‘O interesse em trabalhar na Nasa surgiu antes de iniciar o Ensino Médio, mas quando eu entrei para o Ensino Médio e tive contato com a Mediação Tecnológica que é o ensino da região onde moro, eu desenvolvi o interesse em conseguir uma bolsa de estudos para ingressar em uma universidade norte americana’’, conta.
Para ele, o ensino por Mediação Tecnológica é inovador e faz a diferença na vida dos estudantes que residem em locais distantes. ‘‘É inovador porque alcança locais distantes, de difícil acesso, então a Mediação Tecnológica intervém para não ser preciso abandonar esses lugares em busca de estudo. Sabemos que diante das condições geográficas, é mais difícil ter profissionais formados nessas localidades, então é interessante usar a tecnologia a favor da educação. Não tinha na minha escola professores presenciais para cada disciplina, então eu estudei por Mediação Tecnológica nos três anos do Ensino Médio, e os professores da Mediação Tecnológica são muito bons e muito qualificados’’.
Jane Rossmann foi professora presencial do Alessandro durante o Ensino Médio, e conta que destacava-se pelo empenho em aprender sempre mais. ‘‘Sempre foi excelente. Sua participação refletia em suas notas. Sempre foi questionador e buscava informações além das aulas. No início ele não tinha internet em casa, então se deslocava até um campo, distante cerca de 2 km, para acessar a internet e estudar além do tempo regular da escola’’. Ela conta que logo no 1° ano foi feito uma tarefa sobre foguetes, e Alessandro se destacou muito, e a partir daí começou a participar das edições da Olimpíadas Brasileiras de Astronomia (OBA).
A professora conta que Alessandro tem ajudado a tornar a astronomia popular na região. ‘‘Ele tem uma página bem engajada e na escola onde ele estudou todos o conhecem a história dele que mostra a todos que é possível sim um jovem correr atrás dos sonhos. Ele realmente é uma inspiração. A astronomia é vista diferente aqui na região por causa do Alessandro’’, afirma Jane.
Ela também pontuou a importância da Mediação Tecnológica para os alunos de áreas distantes, como é o caso de Alessandro. ‘‘A mediação é um marco para jovens de áreas distantes, não só rurais, pois estes jovens têm garantias da qualidade da educação. Tenho alunos que nunca foram a cidades como Cacoal, nunca entraram em uma universidade. Com a Mediação, podemos levar os alunos para fazer aulas diferentes como a “Aula Barco” com professores de história e biologia’’, conta.
A gerente de Mediação Tecnológica da Seduc, Dani Brasil, pontuou que a educação por Mediação Tecnológica tem se destacado em Rondônia devido a qualidade das aulas e dos investimentos em equipamentos adquiridos com recurso do Governo como TVs. computadores e notebooks. Ela reforçou o papel desse tipo de ensino que tem ajudado os jovens a permanecerem nos locais de origem. ”Oferece a possibilidade dos jovens cursarem Ensino Médio sem precisar sair das suas comunidades”, enfatizou.
Em todo o Estado, seis mil estudantes participam de aulas por Mediação Tecnológica. “O Ensino ofertado por Mediação Tecnológica só cresceu durante os últimos anos, e no período da pandemia foi de grande importância para a Educação do Estado. O Governo de Rondônia investiu na aquisição de equipamentos, além da construção de quatro estúdios, onde são transmitidas as aulas, fazendo com que o ensino chegue até os estudantes dos locais de difícil acesso”, disse o titular da Secretaria de Estado da Educação, Suamy Vivecananda.
FUTURO
O plano de Alessandro agora é ingressar em um curso de astronomia de uma universidade dos Estados Unidos. ‘‘Estou me esforçando muito para isso, estudo praticamente todos os dias para aprender inglês, irei precisar muito dele, é essencial; estudo também sobre os métodos de ensino das universidades americanas, pois o método de ensino deles é muito superior ao do Brasil, pois a astronomia e astrofísica são populares nos Estados Unidos, é tanto que eles têm a Nasa. E é claro, meu sonho é ingressar na Nasa, e quero seguir com meu trabalho de divulgação científica e fazer a paixão pela astronomia brotar no coração de milhões de pessoas’’, conta o estudante.
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